quarta-feira, 10 de junho de 2015

Montserrat (México)


Foto: divulgação

Gabino Rodríguez


Produção mexicana, monólogo é fechado demais


“Montserrat”, da mexicana Cia Lagartijas Tiradas al Sol, foi o espetáculo que abriu o Festival de Teatro Cena Brasil Internacional – 2015 no último dia 3 de junho no Centro Cultural do Banco do Brasil. O monólogo foi escrito, dirigido e é interpretado por Gabino Rodríguez e resulta, segundo o release, da inquietude do jovem encenador em relação às informações sobre sua própria mãe. Fechada em si e cheio de limitações estéticas, a produção ajuda a tornar a célebre seu autor, mas oferece muito pouco ao espectador infelizmente. Seu mérito está em manter viva a discussão sobre a espetacularização da individualidade vista amplamente em realities shows e em redes sociais na internet. A peça, que estreou em 2012, participa do ciclo “A invenção de nossos pais”, ao lado das produções de “El rumor del incêndio” e de “Se rompen las olas”, todas do mesmo grupo.

Narrado em primeira pessoa, esse monólogo-documentário se serve da relação próxima entre o ator Gabino Rodríguez e o personagem que ele interpreta para se apresentar dentro do conceito de performance. Coberto de folhagens e com um telão onde são projetadas imagens, vídeos e textos, o palco abriga Rodríguez durante sessenta minutos sentado em uma escrivaninha, dando o seu depoimento sobre Montserrat, sua mãe. Na abertura, veem-se fotos de um casal jovem e feliz na pirâmide maia de Kukulcán, na cidade arqueológica de Chichén Itzá. São lembranças da juventude de seus pais que Gabino exibe enquanto, através de uma carta à família, se declara traidor e pede perdão. Na dramaturgia, os momentos felizes do casal deram lugar ao distanciamento. Trechos do diário de Montserrat escritos dias antes de seu falecimento enchem Gabino de dúvidas sobre a veracidade de sua morte. É assim que a narrativa, partindo de uma dúvida intuitiva e obscuramente construída enquanto narrativa cênica, deixa de ser poética e passa a ser policialesca. Gabino, o personagem, depois de descobrir que o túmulo de sua mãe não existe e que o atestado de óbito é falso, vai à Costa Rica para se encontrar com seus familiares maternos, mas não é recebido por eles. Um investigador é contratado, mas esse tem acordos com Núria, irmã de Montserrat. É somente através da empregada de sua tia materna que Gabino chega à verdade. E chega para (quase) nada. O final em aberto, com ares de espetáculo contemporâneo, perde a oportunidade de justificar a encenação e enche de responsabilidade o jovem encenador. Em “Montserrat”, Gabino parece ser maior que o teatro presunçosamente.

O maior problema da dramaturgia não está na história, mas no modo como ela é contada. O lugar do narrador, preservado demais, chama mais luzes para si do que possibilita ao público experimentar o drama. O excesso de espaços abertos, de sentidos duplos e de perguntas não respondidas aumentam a responsabilidade da relação entre Gabino e o público, essa que, a princípio, não existe. Há muito pouco investimento estético. Folhagens, imagens e vídeos projetados, folhas de papel, figurino casual, dramaturgia sem cuidado e encenação pouco esforçada em participar da construção da poética são insuficientes para dar a ver mérito. É uma pena.

O teatro pós-dramático ou contemporâneo vai além da importância que o encenador dá a si próprio. A Cia Lagartijas Tiradas al Sol trouxe ao Brasil também o espetáculo “Derretiré con um cerillo la nieve de un volcán”, que se apresentou nos dias 8 e 9 junho.

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Ficha Técnica:
Um espetáculo de Gabino Rodríguez
Direção técnica: Sergio López Vigueras
Assistente geral: Mariana Villegas Colaboração em vídeo: Carlos Gamboa e Yulene Olaizola
Colabração artística: Luisa Pardo
Produção: Lagartijas Tiradas al Sol

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