segunda-feira, 15 de junho de 2015

Meu nome é Ernesto (RJ)


Foto: divulgação

Jéssika Menkel e Arthur Ienzura


Espetáculo encantador

“Meu nome é Ernesto”, dirigida por Felipe Fagundes, é uma comédia romântica em que os jovens atores Jéssika Menkel e Arthur Ienzura interpretam um casal de idosos com problemas de memória. Dentre os vários méritos da produção, há o modo como a peça resiste à pressão do mais fácil e investe na poética mais complexa e muito mais profunda. O texto é inspirado em “I’m Herbert”, esquete escrita pelo americano Robert Anderson (1917-2009) como parte de “You know I can’t hear you when water’s running”, lançada na Broadway em 1967. Confundindo os nomes dos ex-maridos e das ex-esposas, além de outros fatos do passado, Marta e Ernesto driblam o tempo e fazem valer seu direito  de permanecerem vivos. Vale a pena conhecer esses guerreiros cuja história está em cartaz no Teatro Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro.

A peça começa quando os personagens Marta e Ernesto acordam em mais um dia como os outros. Envolvidos com atividades comuns, a conversa entre ambos parte das confusões que eles fazem com os nomes de seus ex-cônjuges. Eles se casaram depois dos 70 anos, mas tiveram outros matrimônios anteriores e as histórias se embaralham. Em um determinado momento, o público desconfia até que eles saibam exatamente quem são, o que faz da peça um feliz flerte com o absurdo. O mérito dessa dramaturgia é que, assim como acontece no musical “Sim! Eu aceito!”, estreado alguns meses antes a poucas quadras de onde a produção original de Robert Anderson estava em cartaz, o tempo segue sendo o único elemento que se altera nessa narrativa. É muito difícil apresentar uma história que resiste à necessidade de uma estrutura tradicional, com conflito e resoluções, ápice e com desfecho bem claro. Por isso, há maior mérito em quem mantém vivo esse tipo alternativo de teatro e com qualidade, como aqui é o caso. “Meu nome é Ernesto”, nesse sentido, pode ser uma ótima oportunidade para o público carioca refletir sobre a vida, essa talvez nem tão cheia de altos e baixos ou de grandes acontecimentos como os romances acabam retratando. E sobretudo um meio pensar no tempo passando e no companheirismo das relações longas como bens positivos da humanidade.

A direção de Felipe Fagundes é corajosa. Os tempos são longos, os movimentos lentos, os quadros articulados de forma sensível. Quando grandes acontecimentos são esperados, o encenador ratifica o seu conceito positivamente: o espetáculo é uma obra coesa e coerente, bem estruturada, em que os personagens cativam o público e fazem de si heróis de uma guerra contra o tempo. Arthur Ienzura, mas principalmente Jéssika Menkel apresentam bons trabalhos de interpretação. Menkel recebe destaque pelo excelente ritmo, o que proporciona mais oportunidades para a comédia. Além disso, nela estão mais visíveis os detalhes que marcam a personagem Marta, como o gestual, os movimentos pelo palco, as direções do olhar. Em ambos, a sitonia é visível e esse é um fator essencial aqui.

O figurino e a caracterização assinados por Daniele Gabriel e por Isabel de Lima atuam, junto com a iluminação de Aírton Silva, no sentido de construir uma metáfora da realidade. Na mesma direção, o cenário de Vanessa Alves dá a ver um lugar que, com identidade própria, consegue fazer ver o contexto onde a história acontece.

“Meu nome é Ernesto”enternece, encanta e emociona. Aplausos!

*


FICHA TÉCNICA
Direção: Felipe Fagundes
Elenco: Arthur Ienzura e Jéssika Menkel
Cenografia: Vanessa Alves
Figurino e Caracterização: Daniele Gabriel e Isabel de Lima
Criação de Maquiagem: Vitor Martinez
Design de Luz: Aírton Silva
Design Gráfico e Fotografia: Karla Kalife
Preparação Vocal: Natália Fiche
Preparação Corporal: Wanja Bastos
Direção de Movimento: Isabel Chavarri
Operação de Som: Marina d'Avila

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo!