Rose Abdallah, Pia Manfroni e Rosi Campos |
O cenário de Nello Marrese é o melhor dessa comédia de Rodrigo Nogueira
A comédia “Menopausa”, em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, é o novo texto de Rodrigo Nogueira com direção de João Fonseca, mesma dupla que assinou a grande produção “Rock’n’Rio – O musical”. Em cena, Rosi Campos, Pia Manfroni e Rose Abdallah interpretam três mulheres que, tendo ficado presas em uma sala de embarque de um aeroporto, acabam se aproximando. A questão da menopausa une os assuntos tratados por elas e o papo produz alguma alteração em suas vidas. Sem grandes momentos, o cenário de Nello Marrese é o melhor dessa produção que fica em cartaz até o fim dessa semana.
O texto de “Menopausa” surge de um argumento de Marilia Toledo e de Emílio Boechat, os mesmos roteiristas que assinam o longa-metragem “Lascados”, dirigido por Vitor Mafra, lançado na primavera de 2014. Na história da peça, o aeroporto foi fechado devido ao clima ruim. Valdete (Rosi Campos) é uma aeromoça quase cinquentona que está sem voar há muito tempo. No passado, ao ajudar um passageiro a pôr o cinto, a personagem ficou entalada entre as poltronas devido ao seu excesso de peso. O presidente da empresa estava no voo e, como castigo, ela ficou “condenada” à função de “destacadora de bilhetes”, sem poder realizar o sonho de viajar para o exterior. Agora seu casamento está acabando porque as mudanças hormonais trazidas pela sua idade são, nessa dramaturgia, a responsável, entre outras coisas, pela perda da libido. Tita (Pia Manfroni) tem quase a mesma idade que a velha amiga Valdete e está prestes a se casar. Acreditando estar grávida, ela se prepara para viajar e contar pessoalmente ao futuro marido a novidade. Também presa na sala de embarque, há a misteriosa Stela (Rose Abdallah) que, primeiro, se irrita com a conversa sonora de Valdete e de Tita, mas depois acaba auxiliando as duas a compreenderem melhor o momento que vivem.
A dramaturgia de “Menopausa” não está estruturada em ações, mas se desenvolve a partir de insights que as personagens vão tendo sobre si próprias. Nesse sentido, toda a primeira parte do espetáculo serve para apresentar duas das três mulheres, arrastando a identidade verdadeira de Stela para o trecho final. Com a ajuda de Tita e de Stela, Valdete avalia a decisão de se separar do marido enquanto resolve tomar uma atitude em relação ao sonho de ir para fora do Brasil. Tita, por sua vez, confessa estar muito insatisfeita com seu namorado e admite que os três meses de atraso de sua menstruação talvez não sejam sinais de gravidez, mas da entrada na menopausa. Nos momentos finais, o espectador saberá quem é Stela e principalmente de que maneira menstruação e menopausa são caros a essa personagem. Depois de sessenta minutos de apresentação, o tema que dá título à comédia terá infelizmente servido de trampolim para alguns momentos mais cômicos, mas a maioria deles terão se apoiado no discreto mérito das comediantes e da direção em fazer graça.
O figurino de Bruno Perlatto e o desenho de luz de Adriana Ortiz colaboram com a narrativa, mas o cenário de Nello Marrese acaba por ser o melhor aspecto de “Menopausa”. Através do excesso sujo de linhas retas e curvas (que tem aparecido nas horrendas construções mais modernas), o ambiente preenche o palco representando a sala de embarque do aeroporto. Partindo do realismo, há pinceladas de brilho nas paredes que poderiam ser capazes de levar a situação dramática a um lugar esteticamente kitsch, mas não consegue. Negativamente a direção de João Fonseca não deu conta de transformar essa conversa superficial em algo mais que não uma comédia de autoajuda. “Menopausa” permanece infelizmente longe do melodrama bem anunciado por Marrese.
Rosi Campos (Valdete) diz bem o texto, Pia Manfroni (Tita) demonstra grande habilidade corporal e Rose Abdallah (Stela) pontual elegância. As três mantêm o ritmo dentro do possível em uma comédia em que os acontecimentos, quando muito, são internos. Em suas interpretações, andar de um lado para o outro acaba sendo alternativa para não ficarem o tempo inteiro sentadas e alternar brigas com amenidades parece ter sido a saída para variações de tom. No todo, eis aqui uma produção meramente comercial que engorda a programação de teatro carioca sem acrescentar nada de relevante.
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FICHA TÉCNICA:
Argumento: Marilia Toledo e Emílio Boechat
De: Rodrigo Nogueira
Direção: João Fonseca
Produção Geral: Sandro Chaim
Elenco: Rosi Campos (Valdete), Pia Manfroni (Tita) e Rose Abdallah (Stela)
Cenografia: Nello Marrese
Figurinista: Bruno Perlatto
Designer de Luz: Adriana Ortiz
Visagista: Dicko Lorenzo
Realização: Chaim XYZ Produções
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