segunda-feira, 18 de maio de 2015

Meu saba (RJ)


Foto: divulgação

Clarissa Kahane


Os quinze minutos de fama da neta de Yitzkak Rabin



O monólogo “Meu saba” tem dois problemas que o prejudicam: a adaptação e a direção. Em cena, uma longa plataforma atravessa o palco do Espaço Sérgio Porto, no Humaitá, em linha reta. De um lado, a jovem Noa, interpretada com emoção por Clarissa Kahane, se prepara para fazer seu discurso por ocasião do funeral de seu avô, o ex-primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin (1922-1995). De outro, vê-se púlpito onde sua fala será proferida. Rapidamente, o jogo fica claro: quanto mais Noa avança pela plataforma, mais o fim do espetáculo se aproxima. Dirigida por Daniel Herz, a peça em que se adapta o livro “Em nome da dor e da esperança”, de Noa Ben-Artzi Pelossof (Noa Rothman), segue em sua primeira temporada até o fim de maio.

Com adaptação assinada por Evelyn Disitzer, por Kahane e pelo diretor, “Meu saba” surge a partir do livro de memórias da neta do primeiro-ministro israelense. Yitzhak Rabin, que já tinha sido o líder de Israel nos anos de 1970, foi assassinado brutalmente, em 1995, pelo estudante judeu de extrema-direita Yigal Amir. Menos de dois anos antes, um célebre acordo de paz havia sido selado com a Palestina. O crime, tão simbólico quanto o aperto de mãos entre Rabin e Yasser Arafat, líder palestino, chocou o mundo. Lançado no início de 1996, o livro de Noa tem oferecido aos leitores do mundo uma visão íntima dos acontecimentos daquela ocasião. Literariamente, no entanto, não é consenso. Há quem veja com maus olhos a contradição existente na garota de dezenove anos que não quer ser vista apenas como a neta de Yitzhak Rabin, mas se torna mundialmente conhecida apenas por revelar sua própria história e a de seu avô sem quase mencionar seus pais ou fatos politicamente mais relevantes. (Da mesma autora, uma série de televisão chamada “Os filhos do premiê” (“The Prime Minister’s Children”) foi produzida em 2011 e fez muito sucesso em Israel. Os direitos foram vendidos para a produtora americana Sarah Timberman, mas a nova versão ainda não saiu.)

O cenário de Bia Junqueira, ao lado da luz de Aurélio de Simone, é um dos melhores aspectos de “Meu saba”. Com o chão e as paredes brancas, o palco é dividido em pequenos ambientes onde há tijolos cujos buracos são iluminados. Na penumbra, a composição pode remeter, vista do alto, a uma cidade arrasada pela guerra com a jovem Noa erguendo sua voz, clamando pela paz, em uma bela imagem final. A trilha sonora de Antônio Saraiva se esforça positivamente em dar maior complexidade à encenação enquanto o figurino de Antonio Guedes faz boa ponte entre o luto da cerimônia fúnebre e a vida juvenil de Noa. Em um de seus primeiros trabalhos como atriz profissional, Clarissa Kahane oferece ao público o seu primeiro monólogo. Prejudicada pelos imensos desafios que a adaptação e a encenação lhe oferecem, o resultado acaba por ser positivo dentro das poucas possibilidades.

Talvez por aqui a crítica à peça "Meu saba" seja a mesma ao livro: não é Noa quem interessa, mas seu avô.



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FICHA TÉCNICA
Direção: Daniel Herz
Elenco: Clarissa Kahane
Autoria: Noa Ben Artzi-Pelossof
Adaptação: Clarissa Kahane, Daniel Herz e Evelyn Dizitzer
Direção de Produção: Miguel Colker
Consultoria Dramatúrgica: Evelyn Disitzer
Diretor Assistente: Wendell Bendelack
Assistente de direção: Carol Santarone
Iluminação: Aurélio Di Simoni
Cenografia: Bia Junqueira
Figurino: Antonio Guedes
Música: Antonio Saraiva
Direção de Movimento: Duda Maia
Assistente de cenografia: Zoé Martin-Gousset
Assistente de figurino: Adriana Lessa
Design: Luisa Henke
Fotos: Pedro Fulgencio – Frito Studio
Comunicação: Rodrigo Schuwenk
Programação Visual: João Suprani e Ana Seno
Produção: Henrique Botkay
Coordenação de Produção: Agatha Santos
Produção Executiva: Rodrigo Wodraschka
Coprodução: Albert Saadia
Assistente de administração: Marcelo Bento
Produção Geral: Araucária
Idealização: Clarissa Kahane e Miguel Colker

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