sábado, 21 de março de 2015

As noviças rebeldes (SP)

Drika Mattos, Helga Nemeczyk, Soraya Ravenle,
Maurício Xavier, Carol Puntel e Sabrina Korgut em cena
Foto: Paprica Fotografia

Divertido!

O musical “As noviças rebeldes”, depois de temporada em São Paulo, estreou no Rio de Janeiro no último dia 13 de março. Dirigida por Wolf Maya, a peça tem montagem brasileira assinada por Flávio Marinho, dupla responsável pelas versões anteriores. Soraya Ravenle, Sabrina Korgut, Maurício Xavier, Helga Nemeczyk, Carol Puntel e Drica Mattos estão no elenco na produção assinada por Sandro Chaim. O espetáculo, que positivamente oferece mais do que se pode esperar, está em cartaz no Theatro Net Rio – Sala Teresa Rachel, em Copacabana.

A história é simples. Por terem tomado sopa feita com legumes enlatados, 52 freiras da Irmandade Salue Marie vieram a falecer. Dessas, 48 foram sepultadas, mas a falta de verba impediu que as outras quatro também fossem. A fim de obter fundos para isso, as que restaram organizam um show de variedades. A peça começa com o início desse show, mas, durante a sua apresentação dele, os desejos internos (e vaidades) de cada religiosa vão ganhando lugar, trazendo à narrativa alguns percalços engraçados. Escrita pelo americano Dan Goggin, a comédia, que tem canções do mesmo autor, estreou há trinta anos na Broadway e fez a segunda maior temporada do circuito off de lá. No Brasil, a primeira montagem aconteceu em 1987 com Fafy Siqueira, Totia Meirelles, Regina Restelli, Sylvia Massari e com Cininha de Paula no elenco. Em seguida, vieram as versões masculinas (“Nunsense A-Men”) assinadas pela Cia. Baiana de Patifaria, que também fizeram muito sucesso inclusive em Nova Iorque em 1993. (Em 2008, chegou a ser um especial de Natal da TV Globo com Xuxa e Marília Pêra no elenco.) Nessa produção de 2015, Flávio Marinho, ainda mantendo o enredo em seu lugar humilde, tem o mérito de relegar às interpretações toda a capacidade da história de envolver o público. A Madre Superiora Irmã Gardênia (Soraya Ravenle), a Chefe das Noviças Irmã Frida (Maurício Xavier), a Irmã Amnésia (Sabrina Korgut), a Irmã José (Helga Nemeczyk) e a Noviça Irmã Maria Leo (Carol Puntel) continuam sendo personagens deliciosas que pensaram que os maiores sonhos haviam ficado para trás, mas que retomam o direito de aspirar o alto ainda na Terra. Com toda a graça, mas também toda a emoção, a peça diverte, alegra e inspira estando aí alguns motivos de seu contínuo sucesso.

Composto essencialmente de quadros, em que cada personagem é vista principalmente sob o âmbito dos próprios talentos, esse espetáculo burlesco privilegia as intérpretes e suas habilidades (e nelas se apoia). Nesse sentido, outro motivo para o sucesso de “As noviças rebeldes” é o que cada um do elenco traz ao todo. Soraya Ravenle, a atriz mais experiente do conjunto, protagoniza o primeiro ponto alto do espetáculo na canção “Spotlight”, em que a beleza de sua voz compõe um número encantador, que é também o único que vincula a peça aos grandes musicais da Broadway. Carol Puntel (Irmã Maria Leo) apresenta com êxito uma bonita cena de ballet clássico. A peça, no entanto, parece ser de Helga Nemeczyk (Irmã José) e de Sabrina Korgut (Irmã Amnésia), que protagonizam as cenas mais engraçadas, com mais profundidade dramática e também as de maior alcance vocal. Nemeczyk, em seu quadro de stand-up comedy, assina suas versões de Marília Gabriela, Romário, de Ana Carolina, entre outros, além de privilegiar o público com a potência de sua voz já elogiada na recente produção musical “Lapinha”. Korgut, dando vida a uma docílima figura que sofre de perda de memória, assume com responsabilidade e mérito o momento mais esperado do espetáculo: a participação da Irmã Maria Anette, fantoche que deu origem à célebre Maria Santa, interpretada por Sylvia Massari no Programa “A Praça é Nossa” nos anos 90. Em todas as suas potencialidades, ambas intérpretes apresentam um excelente trabalho, sozinhas e com o grupo, elevando consideravelmente o nível estético do trabalho como um todo (que não tem desméritos).

A produção, dentro do que se propõe esteticamente, é consequência da união de diversas boas contribuições. A direção de Wolf Maya, assistido por Liane Maya, aproxima o espetáculo do universo popular, garantindo a comédia que justamente o gênero da peça prevê. As coreografias de Acácio Gonçalves dão nobreza à montagem, sem que ela se desfaça de suas intenções. A direção musical de Liliane Secco atende às dezesseis canções dentro de suas necessidades mais básicas. O cenário de Flávio Graff, bem iluminado por Adriana Ortiz, é excelente porque define com detalhes preciosos o contexto do colégio de freiras/convento onde as personagens viram sua vida até então passar.

Sem qualquer pretensão, “As noviças rebeldes” alegra, entretém e encanta, podendo oferecer àqueles que nada esperam um ponto de vista mais complexo por sobre as personagens aparentemente superficiais. É bonito identificar a plateia torcendo por essas “Irmãs”, que, longe de serem mais santas do que qualquer um de nós, não reprovam as vidas que levam, embora façam da dúvida motivo de responsabilidade para continuar seguindo como estão. Ou terem a coragem de tomar novo caminho. Vale a pena!

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Ficha Técnica:
Texto: DAN GOGGIN
Tradução e Adaptação: FLÁVIO MARINHO
Direção: WOLF MAYA
Elenco: SORAYA RAVENLE, SABRINA KORGUT, MAURICIO XAVIER, HELGA NEMECZYK, CAROL PUNTEL e DRICA MATTOS
Cenário: FLAVIO GRAFF
Figurino: MARIETA SPADA E NATÁLIA LANA
Designer de Luz: ADRIANA ORTIZ
Direção Musical: LILIANE SECCO
Produção Geral: SANDRO CHAIM
Produção Executiva: EDGARD JORDÃO
Apresentado por: Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e SulAmérica
Realização: MF CHAIM e CHAIM PRODUÇÕES

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