domingo, 1 de fevereiro de 2015

Sim! Eu aceito! (RJ)

Foto: Gulga Melgar

Diogo Vilela e Sylvia Massari em cena


Um bonito musical sobre o tempo

“Sim! Eu aceito! – O Musical do Casamento” é dirigido por Claudio Figueira, com Diogo Vilela e Sylvia Massari no elenco na versão brasileira que é assinada por Flávio Marinho. De um jeito ingênuo, a peça conta uma história de amor em que o casal se ama do princípio ao fim, em que os filhos vêm para confirmar sua união, em que o sucesso profissional dele e a colaboração dela são motivos para que o casamento chegue às bodas de ouro e passe disso. Originalmente escrita sem grandes curvas narrativas e desprovida de tramas complexas, a peça de Tom Jones com músicas de Harvey Schmidt pode frustrar quem espera por reviravoltas tradicionais, mas encanta quem é sensível o suficiente para perceber que seus protagonistas não são nem Michael, nem Agnes, mas o tempo que não para de correr. Bonito!

“I do! I do” estreou em 5 de dezembro de 1966 na Broadway com Mary Martin (seu último musical) e Robert Preston no elenco, cumprindo uma relativa temporada de sucesso. A produção recebeu sete indicações ao Tony Award, com Preston vencendo a de Melhor Ator. Carol Burnett e Rock Hudson também desempenharam os papéis. (Em 1969, Julie Andrews e Dick Van Dyke foram cotados para uma versão cinematográfica do musical que acabou nunca acontecendo infelizmente) A peça foi a terceira produção da dupla de americanos Harvey Schmidt e Tom Jones, mais conhecida no Brasil por “The Fantasticks” (“Os Fantástikos”, na versão brasileira de 1996, dirigida por Elias Andreatto, com Claudio Botelho e Kiara Sasso no elenco). Ainda em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, a estreia no Rio de Janeiro de “Sim! Eu aceito” aconteceu em 5 de dezembro de 2014, data em que se comemorou o aniversário de 48 anos do lançamento.

A história se passa entre 1895 e 1945, começando com a noite de núpcias do casal Agnes e Michael Snow. A cena de abertura, em que os personagens cantam “All the dearly beloved”, já define o tom: trata-se de uma história feliz em que o marido ama a esposa e a esposa ama o marido sem grandes conflitos. A evolução das cenas confirma a impressão inicial de que os acontecimentos são sinais de que o tempo está passando: o nascimento do filho e da filha, o sucesso profissional, a crise dos 15 anos, a chegada da velhice, o casamento dos filhos, etc.

Na versão brasileira, Diogo Vilela interpreta Michael, o marido apaixonado que é um escritor em ascensão no início da narrativa e com sucesso no meio e no fim dela. Sylvia Massari é Agnes, a esposa apaixonada, virgem na abertura da narrativa, mãe de dois filhos e avó cuidadosa do meio para o fim. Com alguns defeitos que possam aproximar os personagens da realidade, o casal permanece sendo modelo na versão de Claudio Figueira positivamente nesses dois bons trabalhos de interpretação. Vilela e Massari cantam bem e estabelecem bom jogo entre si e com a audiência, movendo a história em dois atos em evolução bem articulada de cenas que acontecem sempre no mesmo espaço.

Sem mudanças significativas no cenário, a peça inteira acontece  no quarto conjugal de Michael e de Agnes. Escrito como adaptação da peça “The Fourposter” (“A cama de dossel”), do holandês Jan de Hartog (1914-2002), escrita em 1951 e vencedora do Tony Award de melhor espetáculo na Broadway em 1952, ao lado do musical “O Rei e Eu”, “Sim! Eu Aceito!” também é metáfora para os vários prazeres, sonhos e adversidades que um casal divide em sua cama. Nesse sentido, o cenário e os figurinos assinados por Clívia Cohen retratam coerentemente com o original o universo dos personagens e suas transformações através dos tempos. Os melhores momentos do cenário são aqueles em que as cenas tratam dos nascimentos do filho e da filha. Com o modesto auxílio da iluminação de Marco Cardi, a direção de arte como um todo tem o mérito de proteger a história dentro do romantismo, sendo a estética bem responsável pela criação da idealidade de que a narrativa parte. Liliane Secco atravessou bem o desafio de transformar todas as canções do espetáculo em partituras apenas para o piano. O som do instrumento tocado simultaneamente por Priscilla Azevedo e por Marcelo Farias acabou por condizer adequadamente ao conceito possa estar por trás do que é visto em cena.

O espaço para o contínuo sucesso dessa história dos anos 50 para cá ainda é pleno. O tempo que corre para os personagens Michael e Agnes também corre para o público e talvez esse seja o principal elo de ligação entre “Sim! Eu aceito!” e as diferentes plateias que têm recebido suas produções. Em todas as gerações, o sonho de passar a vida ao lado da pessoa amada ainda é compartilhado.


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FICHA TÉCNICA

Com: Diogo Vilela e Sylvia Massari
Texto e Letras: Tom Jones
Músicas: Harvey Schmidt
Direção e Coreografia: Cláudio Figueira
Direção Musical e Preparação Vocal: Liliane Secco
Versão: Flávio Marinho
Direção de Produção: Cláudio Figueira
Cenografia e Figurino: Clívia Cohen
Figurinos de noiva e vestido de noite: Carol Hungria
Caracterização: Sergio Azevedo
Figurinista Assistente: Clara Cohen
Assistente de coreografia: Elisa Firpo
Iluminação: Marco Cardi
Técnico de Som: Luiz Everando
Programação Visual: Luiz Pimenta
Alfaiate: Macedo Leal e Equipe
Costura: Atelier das Meninas /Paulo Silva
Cenotécnico e Pintura de Arte: Máximo Esposito
Assistente de Cenotécnico: Willian Marcelo
Serralheiro/ Aramista: Junior Alexandre
Adereços e Maquete Virtual: José Cohen
Fotografia: Miguel Sá
Produção:
Carmen Figueira - Só de Sapato Produções
Renata Borges - Fábula Entretenimento 

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