Augusto Zacchi e Malvino Salvador em cena |
Grata surpresa na programação de teatro carioca
“Chuva constante – A felicidade é fora da lei” é uma gratíssima surpresa na programação de teatro do Rio de Janeiro. Com cara de filme B, cheio de armas, mortes e de testosterona, a peça apresenta personagens e uma história muito mais profunda com o passar da narrativa. Com Malvino Salvador em ótima performance e Augusto Zacchi no elenco, eis aqui um dos melhores trabalhos de direção de Paulo de Moraes dos últimos tempos. A peça está em cartaz no Teatro Leblon.
A peça “A Steady Rain”, do americano Keith Huff (autor de “House of Cards”), estreou em 2007, na Broadway, com Daniel Craig e Hugh Jackman no elenco. Depois de largo sucesso, está para virar filme pelas mãos de Steven Spielberg. Em cena, dois policiais narram a própria história. Para salvar o amigo da bebida, Denny (Malvino Salvador) passa a levar o amigo de infância e colega Joey (Augusto Zacchi) para jantar todas as noites com sua esposa e filhos. Um dia, um tiro atinge a vidraça e um dos filhos de Denny é gravemente ferido pelos cacos de vidro. Embora pareça, no entanto, o fato não é o início de uma perseguição, mas apenas um dos seus pontos altos. Por trás do atentado, o público vai descobrindo a forma como ambos os policiais estão especialmente ligados à prostituição de Chicago e aos desafios da execução de suas funções enquanto funcionários interessados em suas próprias promoções. E mais: aos poucos, os contornos de caráter de Joey e de Denny revelam a complexidade dos dois personagens, a visão de mundo que cada um tem, seus sonhos e suas frustrações e principalmente as relações de lealdade, de fidelidade e de amizade que há entre eles. Enquanto estrutura, a dramaturgia tem ainda méritos na forma como dispõe os fatos da narrativa, sempre e em cada cena, permitindo ver pontos que modificam a visão por sobre a história, no que a tradução de Danielle Avila Small se mostra amplamente elogiável.
A direção de Paulo de Moraes situa Malvino Salvador e Augusto Zacchi em posições firmes que são contrárias aos movimentos das cenas narradas. O efeito gera positivamente uma tensão que expulsa a ação dramática do palco e a obriga acontecer na plateia, no seio do público. Assiste-se à “Chuva constante” com o coração na boca, ávido por saber como a história termina, como tudo começou, o que acontecerá depois. O espetáculo estreia com excelente ritmo, impondo o seu tempo particular, delimitando seus níveis de tensão, mantendo em suspenso a crítica à sociedade violenta da zona urbana.
Salvador e Zacchi são fortes em cena em interpretações que não recusam as características das imagens públicas de seus atores, mas que tiram proveito delas positivamente. Para além disso, o jogo de concentrar e de expressar a tensão, a variedade dos tons, o excelente uso dos movimentos reduzidos, do olhar e dos gestos e a forma clara de dizer o texto chamam a atenção no trabalho de Malvino Salvador. Quanto a Zacchi, o personagem Joey, mais racional e ardiloso que Denny, se dá a ver a partir de uma interpretação menos emocionada e mais fria coerentemente.
“Chuva constante” se conta em um palco cujas laterais estão repletas de refletores que constroem uma atmosfera de depoimento, de confissão, de desnudamento. De fato, em nenhum momento, se sabe ao certo qual é o lugar de onde essa história se conta, se do presente, do passado ou se do futuro, mas se sabe que os personagens são almas que precisam expor o seu ponto de vista sobre os fatos para, só assim, continuar. Parabéns!
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FICHA TÉCNICA
Texto: Keith Huff
Tradução: Daniele Avila Small
Direção: Paulo de Moraes
Elenco: Malvino Salvador e Augusto Zacchi
Direção de Produção: Cinthya Graber e José Carlos Furtado Filho
Cenário e Figurino: Paulo de Moraes
Iluminação: Maneco Quinderé
Trilha sonora: Ricco Viana
Projeto gráfico: Radiográfico
Relações Públicas/ Convidados: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Assessoria de imprensa: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Uma produção: Cinthya Graber, Luis Erlanger e Malvino Salvador
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