Alessandra Colasanti em cena |
Lírico
Com altas doses de lirismo, o maior mérito de “A verdadeira história de Alessandra Colasanti” é que o público sabe que, nesse espetáculo, está assistindo a uma versão da vida da própria atriz-título. O feito, ultrapassando a barreira do particular, mas positivamente avançando para aquilo que qualquer um é convidado a fazer, permite uma reflexão sobre como cada um conta a sua própria história. Depois da estrear na Sala Multiuso do Espaço Sesc Copacabana, a peça cumpre temporada no Teatro do Sesi no centro do Rio de Janeiro.
Em cena, a detetive decadente Alexandra Cavalcanti é chamada pelos pais de Alessandra Colasanti para localizá-la. Os escritores Marina Colansanti e Affonso Romano de Sant`Anna, que como a filha existem (e são célebres) além de qualquer narrativa, oferecem uma mala de jóias em troca do paradeiro da filha desaparecida. É quando “A verdadeira história de Alessandra Colansanti” deixa de ser uma tentativa de comédia boba e assume o seu lugar como um monólogo poético bem realizado. A dramaturgia, parcialmente ficcional, assinada pela atriz que dirige e interpreta o espetáculo, parte de um intenso jogo de palavras, cujas sonoridades bailam no texto dito, esse recheado de brincadeiras com os significados de cada uma e múltiplas referências culturais do mundo pop. Assim, o monólogo evolui para lugares cheios de magia encantadores. Da plateia, o espectador vê o escritório da detetive dar lugar para a descrição de um território fantástico, onde provavelmente se encontra a Colasanti desparecida, mas também um pouco de cada um de nós.
O desafio é árduo, mas vencido. “A verdadeira história de Alessandra Colansanti” enfrenta minuto após minuto o perigo de ser uma auto-homenagem, fechada em si e apenas disposta às pessoas próximas de Alessandra Colasanti. O gesto, porém, de apresentar a personagem e situá-la onde todos possam alcança-la, através das histórias dos pais e dos avós, dos depoimentos dos amigos e principalmente dos relatos em primeira pessoa, abre a atenção da audiência pela criação de um universo carismático e cada vez mais sólido ao longo da apresentação. Ao final, o público não apenas se sente próximo da personagem (talvez reencontrada pela detetive?), mas também consegue compreender que lembrou da própria biografia a partir do exposto em cena.
É positivo porque envolvente o investimento em cenário (Aurora dos Campos), em figurino, em videografismo (Nani Escobar e Colasanti), em iluminação (Tomás Ribas) e em trilha sonora (Arthur Braganti e Letícia Novaes). A criação de um personagem-ouvinte, a assistente Ramalhate (Flávia Espírito Santo), no mesmo intento que embasa a presença dos demais elementos cênico-narrativos, também auxilia na construção de uma situação sólida que será substituída por algo mais fluído. A curva, plenamente ascendente, é bem desenhada, pois se expressa a partir de detalhes visivelmente conceituais.
Falar de si próprio é um ato corajoso, mas apresentar uma possível subversão da própria biografia é ainda mais audacioso. Há que se aplaudir tal feito.
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FICHA TÉCNICA
texto e direção: ALESSANDRA COLASANTI
elenco: ALESSANDRA COLASANTI e FLAVIA ESPÍRITO SANTO
elenco extraordinário em off : MARINA COLASANTI e AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA
elenco extraordinário em vídeo: JOAO VELHO como SUPEREGO; e CARLOS GRUN, FERNANDA FELIX, LETÍCIA NOVAES, MARCIO DEBELLIAN, MICHEL BLOIS, MICHEL MELAMED, PEDRO HENRIQUE MONTEIRO, RODRIGO NOGUEIRA, SAMIR ABUJAMRA, THIARE MAIA
cenografia: AURORA DOS CAMPOS
luz: TOMÁS RIBAS
direção musical: ARTHUR BRAGANTI e LETÍCIA NOVAES
vídeo: NANI ESCOBAR e ALESSANDRA COLASANTI
figurino: ALEXANDRA CAVALCANTI
assistente de direção: RAFAEL MEDEIROS
assistente de cenografia: JULIA SALDANHA
cenotécnico: MARANHÃO e DJAVAN
beleza: VINI KILESSE
fotos: ANA ALEXANDRINO
programação visual: BADY CARTIER
mídias sociais: RAFAEL MEDEIROS
produção executiva: JAMES HANSON
direção de produção: CARLOS GRUN
produção: BEM LEGAL PRODUÇÕES ARTÍSTICAS e AO PÉ DA LETRA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS
realização: TEATRO CLUBE PARADOXO
assessoria de imprensa: JSPONTES COMUNICAÇÃO – JOÃO PONTES e STELLA STEPHANY
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