segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Esta Criança (RJ)

Foto: divulgação

Espetáculo frio na busca por acertar

            “Esta Criança” permanece um espetáculo frio apesar do visível esforço da direção de Márcio Abreu, sobretudo em termos de direção de arte. Escrito pelo francês Joël Pommerat, a reunião de cenas trata da relação entre crianças e adultos: família, jovens que engravidam jovens, pais e filhos adultos que discutem, mães que que vão reconhecer filhos mortos, mães que não veem seus sonhos realizados em seus filhos, entre outros contextos próprios do universo familiar. Com exceção de uma única história, o problema do todo é que nenhuma força empregada parte de um impulso reconhecível. Todas as cenas são clímaxes, são ápices, são pontos altos de histórias que o público não vê. Em cena, estão apenas os recortes, como se assistíssemos ao último capítulo da novela sem termos visto nenhum dia anterior da história que agora chega ao seu auge. As lágrimas podem vir, os personagens podem emocionar, mas o resultado é distante do que, a princípio, pareceu sonhar os seus realizadores. 

A única exceção infelizmente não acontece no fim, isto é, depois dela, ainda há excessos. Trata-se da cena em que duas vizinhas devem ir reconhecer um corpo que poderá ser filho de uma das duas, um amigo de seus filhos ou um total desconhecido. Em primeiro lugar, porque aí o assunto é, como todos sabem, a “célebre pior dor que pode ser sentida” (a da mãe vendo um filho morto), mas também porque, no diálogo que as duas personagens estabelece antes do reconhecimento, notam-se as raízes, as bases necessárias para o envolvimento do público com a história: quem são as personagens, quais suas semelhanças e diferenças, quais seus medos e seus sonhos. Além disso, a estrutura dramática dessa única cena tem reviravoltas, peripécias e curvas, trazendo a gargalhada quando deveria vir o choro e o choro aparece contido e delicado, forte e sublime. 

Renata Sorrah apresenta boas performances em quase todos os momentos e, no elenco, é a única que merece positivo destaque. Deve-se apenas corrigir uma certa marca que, enquanto intérprete, ela parece repetir em vários de seus papéis: Sorrah sorri enquanto exibe olhos tristes quando fala com esperança. Giovana Soar oferece um bom trabalho, mas com poucas oportunidades de explorar mais os seus personagens. Edson Rocha tem uma interpretação monocórdia e sem vida e Ranieri Gonzalez é quem sustenta o pior trabalho: sem variações, ou seus personagens gritam, ou ficam calados, ou são nervosos ou estanques, sem meio-tons, sem marcas de veracidade e com muito exagero. 

“Esta Criança” tem seus melhores momentos no cenário de Fernando Marés, nos figurinos de Valéria Stefani, na sonoplastia de Felipe Storino, mas sobretudo na iluminação de Nadja Naira, que também assina a assistência de direção. O impacto do lugar deslocado, que está em desnível em relação ao solo mas que também avança sobre a plateia, deixando exposto parte do interior do palco, convida o espectador a olhar com outros olhos para o subterrâneo das relações familiares. A luz que entra através de frestas, os rostos que ficam positivamente no escuro em vários momentos, as saídas e entradas discretas de quem participa das cenas demonstram um jogo valoroso da direção em exibir uma concepção inteligente que, porque teatro é mais do que movimento e visual, não se estabelece como gostaríamos. 

Produzido por Renata Sorrah e pela Companhia Brasileira de Teatro, “Esta Criança” ainda busca acertar.

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Ficha técnica:



Texto: Joël Pommerat
Tradução: Giovana Soar
Direção: Márcio Abreu
Elenco: Renata Sorrah, Ranieri Gonzalez, Edson Rocha e Giovana Soar
Assistente de Direção e Iluminação: Nadja Naira
Cenário: Fernando Marés
Figurino: Valéria Stefani
Sonoplastia: Felipe Storino
Direção de Produção: Faliny Barros

5 comentários:

  1. assisti ontem (13/01/13) e gostei muito. Os recortes mencionado, são perfeitamente entendidos e emocionantes.
    Renata Sorrah esplêndida como sempre e os demais atores muito bons.
    Denise

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  2. Assisti a peça e gostei muito.
    O Ator Ranieri, em ótima performace com uma voz marcante em vários momentos roubou com sua interpretação singular.

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  3. Assisti a peça em Brasília anteontem e não achei nada fria. Impacta do começo ao fim, emocionei-me o tempo inteiro. Giovana Soar tem uma atuação esplêndida.

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  4. Assisti ontem 02/06/2013 no Sesc Vila Mariana. Peça emocionante, a única coisa que concordo com essa matéria é que Giovana Soar poderia ser mais explorada, artisticamente falando, pois sua atuação no início do espetáculo está um pouco fraca. Do resto, estão todos bem colocados e bem centrados em cada personagem diferentes entre si!
    Parabens ao grupo!

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  5. Acabei de assistir a peça e achei ótima e sim essa é a marca da Renata Sorrah se não não seria a Renata Sorrah Todo o elenco de parabéns

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