Texto ruim e más interpretações
“Lar Longe Lar” tem inúmeros problemas de encenação e, por isso, não é um bom espetáculo. A narrativa não diz a que veio, vários trabalhos de interpretação deixam a desejar e a direção de Gilberto Gawronski, de um modo geral, fica complicada de bem avaliar uma vez que a peça, como um todo, não se estabelece a contento.
Escrito em 2010, por Miriam Halfim, o texto foi finalista na Seleção Brasil em Cena 2011, do Centro Cultural do Banco do Brasil. O que se vê, no teatro do Solar de Botafogo, talvez, seja, então, uma má versão dele para o palco. José (José de Ipanema) é um judeu polonês que tem uma esposa e três filhos. A fim de conseguir uma vida melhor, parte ele da Europa para a América do Sul, em 1928, atrás de um primo distante chamado Efraim (Rafael Ferrão). A cena de abertura do espetáculo é a conversa entre o primo pobre e o primo rico, em Buenos Aires, quando o segundo dá uma negativa ao primeiro. Ipanema, mas principalmente Ferrão apresentam péssimos trabalhos de intepretação: sem verdades, cheios de excessos, fleumáticos, superficiais. O ritmo da narrativa tem seus momentos mais graves quando eles estão em cena.
Na sequência, José (Ipanema) retorna para a Polônia, mas, então, resolve, retornar (de novo!) para a América do Sul, só que, dessa vez, com a família toda e para o Rio de Janeiro. É quando, finalmente, um conflito aparece e ganha um pequeno (curtíssimo) desenvolvimento, além de expresso em boas interpretações. Em meio ao trabalho, a mãe (Raquel Tamaio) nota que o filho mais velho (Diego Araújo) do casal está deprimido, porque, na Polônia, ficou seu grande amor. Decidida, a mãe, agora, precisa convencer o marido e os dois filhos mais novos (Nina Reis e Thiago Freire) a voltarem para o país de origem, sem revelar-lhes o real motivo. O bom jogo dramático que acontece no diálogo entre o filho e a sua mãe (Araújo e Tamaio), infelizmente, não se repete entre a esposa e o marido (Tamaio e Ipanema). Sem com quem contracenar, Raquel Tamaio ganha a cena facilmente e a família inteira retorna para a Europa quase sem empecilhos.
Os anos passam e o Nazismo ganha força no país vizinho (Hitler se tornou chanceler alemão em 1933, cinco anos depois do início da história contada em “Lar Longe Lar”). É preciso novamente abandonar a Polônia. O destino escolhido é novamente o Brasil. Quem for assistir ao espetáculo perceberá que nada mais de interessante realmente acontecerá a partir daí e a história parece terminar sem um fim claro. Sabe-se, por vias externas, que a Segunda Guerra começou com a invasão da Polônia pela Alemanha em 1o de setembro de 1939, nove anos depois de 1928. No palco, no entanto, o filho mais novo (Thiago Freire) continua sendo uma criança como na primeira cena.
Assim, do início ao fim, “Lar Longe Lar” é uma fraca galeria de acontecimentos de uma família judia que vai de um lado para o outro sem a poesia do clássico “O Violinista no Telhado”. Pequenos conflitos surgem, mas são rapidamente resolvidos sem um personagem que seja forte o suficiente (como no caso do musical citado) para dar base à narrativa, consistência e coesão.
Com um bonito cenário, mas que “enche o palco”, dificultando a movimentação, e figurino da Espetacular! (Ney Madeira, Dani Vidal, Pati Faedo), o espetáculo tem uma luz interessante de Paulo César de Medeiros e uma trilha sonora óbvia de Warley Goulart (a primeira música é de “O Violista no Telhado”) bastante mal operada por Paula Jubé.
Texto ruim unido a más interpretações não resulta em uma boa encenação apesar do esforço, que deve ser elogiado. Gawronski e Goulart são responsáveis por outros bons espetáculos no teatro carioca o que prova que o que se avalia de um espetáculo quer apenas dizer sobre a obra em questão, devendo o merecido respeito a quem por ela é responsável. Fica-se na espera por outra produção assinada por esses artistas.
Ficha técnica:
Texto: Miriam Halfim
Direção: Gilberto Gawronski
Diretor Assistente: Fernando Philbert
Elenco: Diego Araújo, José de Ipanema, Nina Reis, Rafael Ferrão, Raquel Tamaio e Thiago Freire.
Direção musical: Warley Goulart
Cenário e Figurino: Espetacular! (Ney Madeira, Dani Vidal, Pati Faedo)
Luz: Paulo César de Medeiros
Supervisão de movimento: Joice Niskier
Assistente de Figurino: Renata Lamenza
Contrarregra e montagem: Gleice Caxias
Operação de Luz: Felipe Coquito e Romiro Vasques
Produção: Maria Alice Silvério Lima
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