A maioridade definitiva do musical brasileiro
Sucesso. E sucesso merecido. Tiago Abravanel é o homem do ano. Reiner Tenente e Evelyn Castro são duas grandes revelações, Izabella Bicalho e Pedro Lima seguem sendo duas grandes estrelas, Nello Marrese, Paulo César de Medeiros e Rui Cortez mantêm excelentes trabalhos e João Fonseca assina mais um espetáculo nada menos que vibrante. “Tim Maia – Vale Tudo – O Musical” é orgulhosamente um espetáculo musical brasileiro que provavelmente só poderá ser comparado, em tamanho e em importância histórica, a “A Gota d`água” e a “Ópera do Malandro”.
De um jeito bastante simples, sem grandes números de dança e nem agudos inesquecíveis, com uma banda ao invés de uma orquestra e sem extasiantes caídas e subidas de cenários coloridos, o público simplesmente não vê as duas horas e trinta minutos passarem. A partir de um livro de Nelson Motta, a dramaturgia assinada pelo próprio, é ágil, envolvente, pujante. O texto é engraçado, cheio de ironias, com a crítica, os comentários e a evolução malemolente que caracteriza o musical brasileiro, que é diferente do americano. As “senhoras de Copacabana” riem de piadas sobre maconha e masturbação, os mais jovens identificam o Rei, Elis Regina e o próprio Nelson Motta, personagem na peça escrita por ele. As músicas de Tim Maia (1942-1998) são cantadas por todos, embevecidos pelo carisma excepcional (mas não estranho) de Abravanel, neto de Silvio Santos, que pode até não ser um exímio cantor e tampouco intérprete, mas segura a atenção do público com habilidade extrema. O que, talvez, falte-lhe em técnica, sobra-lhe em talento, prova de que os dois existem e são tão importantes em igual medida.
Depois do protagonista, o destaque mais do que especial será injusto se não cair sobre Izabella Bicalho (Elis Regina), Pedro Lima (o pai) e Nello Marrese. O trio acumulou até agora longos e importantes currículos na história atual do teatro carioca, mas estrela que é estrela brilha até durante o dia. Em papéis coadjuvantes aqui, Bicalho e Lima são responsáveis por grandes momentos do espetáculo, conferindo a ele, além de elegância, a força que faltaria sem suas presenças. Por sua vez, Marrese sabe que, no ritmo vertiginoso da narrativa de Motta, é a iluminação de Paulo César de Medeiros e os figurinos de Rui Cortez quem se sobressaltam positivamente. Mesmo assim, em pequenos detalhes, em aparições minúsculas, o cenógrafo marca sua passagem com uma criatividade essencial.
Evelyn Castro (a mãe), Lilian Valeska (Janete) e Reiner Tenente (Roberto Carlos e Nelson Motta) completam o coro de destaques de “Tim Maia”. À vontade nos papéis, trazem graça, leveza e profundidade para o espetáculo, contribuindo positivamente para torná-lo o sucesso que ele tem sido.
João Fonseca, que assina desde grandes produções como o futuro “Rock `n Rio – O Musical”, até comédias mais banais como “Razões para ser bonita”, passando por espetáculos densos como “Não sobre rouxinóis” e polêmicos como “O Casamento”, tem aqui um dos seus melhores trabalhos. As cenas são curtas e a articulação é inaparente, a evolução é progressiva e o jogo se estabelece de forma a alimentar a vontade do espectador ávido por novidades e mais novidades, satisfazendo-o a contento. A direção musical de Alexandre Elias segue positivamente o mesmo padrão, manifestando a integração necessária entre música e encenação que se espera de uma produção como essa.
Visto já por mais de 200 mil pessoas, “Tim Maia – Vale Tudo – O Musical” é a maioridade definitiva do musical brasileiro, esse já emancipado pelas grandiosas e não menos exitosas produções brasileiras de clássicos ingleses e americanos e habilitado com a recente volta de revistas musicais aos palcos do país. No ano em que Tim Maia completaria 70 anos, eis aqui uma mais que justa homenagem do teatro à música e à cultura popular de volta a capital carioca em cartaz no mais que especial Theatro Net Rio.
Ficha técnica
Texto: Nelson Motta
Direção: João Fonseca
Elenco:
Tiago Abravanel/Danilo de Moura
Isabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima, Andreh Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley e Leticia Pedroza
Figurinos: Rui Cortez
Iluminação: Paulo César Medeiros
Ensaiador vocal: Paulinho Medeiros
Direção musical: Alexandre Elias
Músicos:
Violão e voz: Fernanda Dias
Violão, teclado e vocal: Henrique Torres
Contra-baixo, violão, banjo e vocal: Zé Siqueira
Bateria e vocal: Bruno Sotil
Coreografias: Sueli GuerraFigurinos: Rui Cortez
Fotos de Paula Kossatz
Cenário de Nello Marrese
Programação visual: Milton Menezes
Produção: Chaim Produções
Produção executiva: Joana Motta
Violão, teclado e vocal: Henrique Torres
Contra-baixo, violão, banjo e vocal: Zé Siqueira
Bateria e vocal: Bruno Sotil
Coreografias: Sueli GuerraFigurinos: Rui Cortez
Fotos de Paula Kossatz
Cenário de Nello Marrese
Programação visual: Milton Menezes
Produção: Chaim Produções
Produção executiva: Joana Motta
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