quarta-feira, 25 de maio de 2016

Memórias de Adriano (SP)

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Foto: Renato Mangolin

Luciano Chirolli
Com 30 anos de célebre carreira, Luciano Chirolli atua em seu primeiro monólogo

“Memórias de Adriano” é, no Brasil, a primeira versão para teatro do célebre romance da belga Marguerite Yourcenar (1903-1987) publicado em 1951. Interpretado por Luciano Chirolli, o monólogo teve sua dramaturgia adaptada por Tereza Falcão e direção assinada por Inez Viana. Na narrativa, há uma carta ficcional escrita por Públio Elio Trajano Adriano (76 – 138 d. C.) que foi imperador de Roma a partir de 117 d. C. até sua morte. Nela ele relembra sua vida, expõe reflexões e prepara o seu testamento político para o futuro imperador Marco Aurélio. Tendo ficado em cartaz até o último dia 15 de maio, na Sala Multiuso do Espaço SESC Copacabana, a montagem enfrentou o duelo entre uma dramaturgia mais intimista e uma encenação expressiva, obtendo alguns bons momentos, mas menos do que se esperava.

Problemas na concepção de direção de Inez Viana
Quem lê o romance entra na intimidade do célebre imperador romano, um dos homens mais importantes do mundo em seu tempo. Ouve sua voz, conhece seus sonhos, suas frustrações, seus desejos, seus pensamentos enquanto reconhece as esferas do poder no mundo antigo. Na adaptação da literatura para teatro, Tereza Falcão colocou as palavras na boca de um ator, redesenhando alguns traçados, mas mantendo as imagens mais significativas. Há, nesse trabalho, a positiva preservação da natureza dessa comunicação: Adriano escreve para Marco Aurélio, mas o público inadvertidamente invade a fala do primeiro. E, nesse gesto, é voyeur de uma narrativa que tem o poder de fazer mudar sua percepção de mundo.

Na direção de Inez Viana, assistida por Marta Paret, esse quadro está comprometido. Em vários momentos, a interpretação de Luciano Chirolli permite pensar que seu Adriano sabe que suas palavras estão sendo ouvidas por um grande número de pessoas. É como se a cena se reconhecesse monótona e criasse meios de alternar o ritmo em um esforço de deixá-lo mais envolvente. Há movimentos, variações nas expressões, alternância de tons que esvaziam as palavras, artificializam o texto em um negativo excesso de teatralidade em vários momentos.

Nesse contexto, Chirolli perde oportunidades de dar a ver um Adriano mais humano, mais íntimo, que teria mais possibilidade de se destacar. Em seu primeiro monólogo em uma linda carreira que já acontece há mais de três décadas, o intérprete diz bem o texto e viabiliza ampla variedade de expressões. Mesmo estando a serviço de uma concepção que prejudica o trabalho, essas habilidades precisam ser elogiadas até porque, junto ao texto, elas fazem desse espetáculo algo interessante sob vários aspectos.

Felipe Lima: idealizador de ótimos projetos
“Memórias de Adriano” tem excelentes colaborações da direção musical de João Callado e de Marcello H., com esse último visivelmente em cena, oferecendo à narrativa carga sonora que aprofunda a possibilidades semânticas do quadro. No mesmo sentido, age a cenografia de Aurora dos Campos, com um painel de raio-X que colabora com a expressão do interior do personagem e das relações que ele mantém. O figurino de Juliana Nicolay e a iluminação de Tomás Ribas, em participações mais discretas, também têm bom resultado sem tanto destaque.

Felipe Lima é o idealizador do projeto, ele que também viabilizou espetáculos ótimos como “R&J de Shakespeare – Juventude Interrompida”, “Mas por quê – A história de Elvis” e “Cock – Briga de galo”. “Memórias de Adriano”, apesar das questões acima levantadas, foi um bom espetáculo e que merece ser visto em próximas temporadas.

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FICHA TÉCNICA
Idealização: Felipe Lima

Adaptação Dramatúrgica: Thereza Falcão
Direção: Inez Viana
Diretora Assistente: Marta Paret

Elenco: Luciano Chirolli

Músico: Marcello H
Direção de Produção: Mariana Serrão
Cenografia: Aurora dos Campos
Iluminação: Tomás Ribas
Trilha Sonora: João Callado e Marcello H
Figurino: Juliana Nicolay
Arte Gráfica: Flavio Albino
Fotos: Daryan Dornelles
Preparação Corporal: Márcia Rubin

Assessoria de Imprensa: Bianca Senna e Paula Catunda
Consultoria Histórica: Claudia Beltrão
Produção Executiva: Arilson Lucas
Assistência de Produção: Carlos Darzé
Assistência de Figurino: Camila Cunha
Estagiária de Produção: Luiza Martinez
Gestão das Leis de Incentivo: Natália Simonete
Realização: Sevenx Produções Artísticas e A Coisa Toda Produções

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