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Foto: divulgação
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Alexandre Rosa Moreno |
O excelente “A cuíca do Laurindo” termina sua primeira temporada no próximo domingo, dia 15 de maio. A peça, idealizada e escrita por Rodrigo Alzuguir e dirigida por Sidnei Cruz, está em cartaz no Teatro I do Centro Cultural do Banco do Brasil, na zona central do Rio de Janeiro. Trata-se de um musical feito a partir do personagem fictício Laurindo. Ele é recorrente em vários sambas compostos, principalmente entre 1935 e 1945, por Noel Rosa, Herivelto Martins, Wilson Baptista, Haroldo Lobo e por vários outros. O elenco do espetáculo é composto por Alexandre Rosa Moreno, Claudia Ventura, Marcos Sacramento, Nina Wirtti, Rodrigo Alzuguir, Vilma Melo e por Hugo Germano, com glorioso destaque para esse último. Todos apresentam ótimo trabalho tanto no que diz respeito às atuações, como nas coreografias e na defesa das canções. Mais de quarenta títulos fazem parte da trilha sonora. Ela é apresentada ao vivo por uma banda composta por cinco músicos. Eis o primeiro grande e ótimo musical produzido em 2016, celebrando o centenário do samba enquanto gênero da música popular brasileira. Imperdível!
Beleza de dramaturgia
No samba “Triste cuíca”, de Noel Rosa (1910-1937), o personagem Laurindo apareceu pela primeira vez. Uma intensa e nobre pesquisa de Rodrigo Alzuguir o reencontrou em outras composições que vieram em seguida, compostas por outros autores. É disso que surgiu a dramaturgia de “A cuíca de Laurindo”. Na história, escrita pelo pesquisador com base nas letras dessas canções, o protagonista (Alexandre Rosa Moreno) é um músico carioca, morador do Morro da Mangueira. Ele é casado com a ex-vedete da Praça Tiradentes Zizica Tupynambá (Vilma Melo), mas tem um caso secreto de amor com Conceição (Claudia Ventura). Essa tem o coração ainda disputado por Tião (Hugo Germano) e por Zé (Rodrigo Alzuguir). Logo no início da peça, o primeiro vende um samba para o segundo, que acaba fazendo fama sobre a criação que não é sua. Todos eles fazem parte da Escola de Samba Lira do Amor, cujo vice-presidente é Dodô (Marcos Sacramento). A agremiação, na ocasião histórica do fim do carnaval na Praça Onze, desponta como uma das mais importantes do carnaval carioca. Guiomar Wendhausen (Nina Wirtti) é uma repórter da revista O Cruzeiro que divulga o dia a dia dessa comunidade.
Aos poucos, a narrativa viabiliza um retrato da sociedade carioca: o morro e o abaixo dele, o carnaval nas pequenas escolas e nos desfiles, a autoria do samba, a criminalidade e o preconceito, o amor, a honra, os códigos sociais. Cenas de amor, brigas, morte, investigação, luto e de festa são momentos em torno dos quais o texto se estrutura. E tudo isso está em cena ao som de belos sambas pouco conhecidos de compositores famosos de nossa história em arranjos elaborados e muito bem defendidos. Ao longo de cento e quarenta minutos, em um ato só, “A cuíca do Laurindo” é uma pérola no teatro carioca nesse outono. Luis Barcelos, Rafael Mallmith, Yuri Villar, Marcus Thadeu e Magno Julio estão na banda que interpreta as canções ao vivo. A direção musical e os arranjos são do primeiro.
O enorme brilho de Hugo Germano
Todos os trabalhos de interpretação são positivos porque, no conjunto, se vê uma profícua alternância entre força e sensibilidade bem como entre leveza e cuidado. Cada cena se estrutura em torno de um eixo que gira e faz a narrativa evoluir, avançando por um colorido cênico e musical de enorme potência. A direção de Sidnei Cruz, assistida por Patrícia Zampiroli, oferece panorama cheio de movimentos claros, intenções precisas e desenvolvimento equilibrado em sua ascendência.
Nina Wirtti, Claudia Ventura, Rodrigo Alzuguir e Hugo Germano
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Alexandre Rosa Moreno (Laurindo), Claudia Ventura (Conceição), Vilma Melo (Zizica), Rodrigo Alzuguir (Zé), além de meritosa afinação e de excelente carisma, fazem o espetáculo brilhar dos menores detalhes aos maiores trechos. Nina Wirtti (Guiomar) e Marcos Sacramento (Dodô), para quem os arranjos musicais parecem mais elaborados, enfrentam os desafios e apresentam belo trabalho igualmente. No entanto, os ótimos trabalhos do elenco não impedem Hugo Germano (Tião e Cabaretier) de se destacar positivamente. Com uma performance que remete elogiosamente àquelas pelas quais Grande Otelo (1915-1993) recebeu muitos aplausos, o ator eleva as qualidades estéticas de “A cuíca de Laurindo” e faz da peça, em termos de atuação, um espetáculo. Sua presença é viva, seus gestos são absolutamente claros, sua movimentação é precisa. Trata-se de uma estrela em sua geração!
A milésima crítica publicada e os meus aplausos
O cenário de José Dias oferece níveis à encenação, colaborando com o ritmo da narrativa de modo a fazer, da estética da ambientação, uma base a mais para a composição dos quadros. Os figurinos de Flavio Souza, com ótimas variações de rosa, dão unidade para o todo positivamente. A iluminação de Aurélio de Simoni confere profundidade e movimento para a narrativa no âmbito de sua evolução.
Essa é a milésima crítica que eu escrevo. 224 estão publicadas emwww.teatropoa.blogspot.com e as outras 775 estão nesse blog ao lado dessa análise de “A cuíca de Laurindo”. Refletir sobre todos esses espetáculos, de 2008 pra cá, tem sido uma honra enorme para mim e, em várias vezes como nessa, uma experiência divertida também. Cabe a mim agradecer por todas essas oportunidades. E, inclusive aqui, aplaudir! Obrigado!
FICHA TÉCNICA:
Idealização e texto: Rodrigo Alzuguir
Direção: Sidnei Cruz
Cenário: José Dias
Figurinos: Flavio Souza
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção musical: Luis Barcelos
Direção de movimento e Preparação Corporal: Ana Paula Bouzas
Preparação Vocal: Marcelo Rodolfo
Elenco: Alexandre Moreno, Vilma Melo, Claudia Ventura, Marcos Sacramento, Rodrigo Alzuguir, Hugo Germano e Nina Wirtti
Músicos: Yuri Villar, Luis Barcelos, Magno Julio, Marcus Thadeu e Rafael Mallmith
Assistente de direção: Patrícia Zampiroli
Coordenação de Projeto: Carol Miranda
Direção de Produção: Ana Lelis e Marcelo Mucida
Produção Executiva: Joana D’Aguiar – Sopro Escritório de Cultura
Assistente de Produção: Renata Celidônio
Realização: Marraio Cultural
Prezado Rodrigo, quero parabenizá-lo pelo blog, pela milésima crítica. Fiquei surpreso com a profundidade das suas análises em textos extensos, ricos, procurando expor todos os aspectos importantes dos espetáculos, algo cada vez mais raro hoje na imprensa. Que venham outras milhares de críticas ! Gostaria de poder ler mas textos seus referentes a peças daqui de São Paulo. Forte abraço. Marcio Fernandes.
ResponderExcluirPrezado Rodrigo, quero parabenizá-lo pelo blog, pela milésima crítica. Fiquei surpreso com a profundidade das suas análises em textos extensos, ricos, procurando expor todos os aspectos importantes dos espetáculos, algo cada vez mais raro hoje na imprensa. Que venham outras milhares de críticas ! Gostaria de poder ler mas textos seus referentes a peças daqui de São Paulo. Forte abraço. Marcio Fernandes.
ResponderExcluirAssisti esse lindo musical na estreia e gostei bastante... conhecia a musica de abertura "Triste Cuíca" de Noel Rosa, na voz do Marcos Sacramento e foi isso que me levou ao espetáculo.
ResponderExcluirParabéns Rodrigo pela milésima critica, estou sempre de olho por aqui e, como já te disse pessoalmente, és um dos melhores no Brasil.
Que venham mais 1000 criticas em pouco tempo.
Abração!!!