quinta-feira, 5 de maio de 2016

Enterro dos ossos (RJ)

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Foto: divulgação

Pierre Baitelli

Jô Bilac perdeu a mão?

“Enterro dos ossos” é a 23ª peça cujo texto é assinado por Jô Bilac. Tudo indica que, em breve, esse já premiado jovem dramaturgo estará ao lado de Dias Gomes (1922-1999), de João Bethencourt (1924-2006) e de Mario Bortolotto entre outros escritores para teatro cuja obra é numerosa no país. Trata-se porém de um de seus textos menos teatrais: sem narrativas, sem personagens, sem bases mínimas para uma relação dramática. No espetáculo dirigido por Camila Gama e por Sandro Pamponet, veem-se os atores se esforçando muito para oferecer algum sentido para a verborragia filosófica e pouco consistente das falas. Em trabalho elogiável, o elenco é composto por Erom Cordeiro, Hugo Bonemer, Julia Marini, Lidiane Ribeiro e por Pierre Baitelli. O desenho de luz de Renato Machado é o ponto alto da produção que saiu de cartaz, no último dia 1º de maio, no Teatro de Arena do Espaço SESC Copacabana.

Para ser lido, não encenado
A peça se organiza – nem parte de, nem chega a – a partir de um campo semântico vasto e consequentemente pouco claro. Nele estão o choque de dois buracos negros e a possível destruição da Terra, os movimentos de colonização de outros planetas, o fim da vida humana e/ou questões da ordem da sobrevivência, relações entre deus(es) e homens, pecado, ética, valores morais, sociedade... Uma sucessão de monólogos (há apenas um resquício de diálogo) expõe reflexões de Jô Bilac sobre esses temas que nem aprofundam um debate sobre eles, nem estabelecem uma situação onde o espectador é confrontado de alguma maneira. Perdida na busca por reconhecer o que está vendo, a audiência mais esforçada paira em um desconforto gratuito e egoico. A menos dorme na monotonia.

Nesse contexto, há a luta homérica de Camila Gama e de Sandro Pamponet em impregnar o texto de teatralidade a fim de sua encenação fazer algum sentido. É um trabalho bravo! Erom Cordeiro, Hugo Bonemer, Julia Marini, Lidiane Ribeiro e Pierre Baitelli capricham na exploração de modos diversos de dizer o texto, alternando ritmos, tons, expressões faciais e gestuais. Eles visivelmente tentam defender alguma lógica na estrutura dos monólogos, mas infelizmente, como um todo, “Enterro dos ossos” não oferece marcas de teatro do absurdo que lhes ampare nesse intento. Nem de pós-dramático! Trata-se de um texto para ser lido, não encenado - e não há nenhuma vergonha em ser posto ao lado dos diálogos de Platão, dos textos de Sêneca, de “La Celestina” ou de “La Dorotea”, para citar alguns casos célebres.

Renato Machado no esforço em dar a ver belas imagens 
O desenho de luz de Renato Machado colabora na construção de belas imagens que, ao lado da interpretação dos atores, são algum alento. O figurino de Camila Gama e o cenário de Sandro Pamponet também investem positivamente nas qualidades estéticas do visual do espetáculo. São boas tentativas de conexão entre o palco e a plateia que merecem ser valorizados embora o empenho faleça em meio à aridez.

Encantado pelas imagens que a palavra revela, Jô Bilac investe aqui em um modo de escrita que já modestamente apareceu nos seus “Infância, tiros e plumas” e “Fluxograma”. Pouco a pouco, ele se distancia de “Savana Glacial”, “Rebu”, “Matador de Santas”, “Conselho de Classe”, “Cucaracha”, “Beije minha lápide” e outros trabalhos que lhe trouxeram notoriedade. Para quem gosta de teatro e admira uma boa dramaturgia, dá pena! Será que ele está perdendo a mão?

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Ficha técnica

Texto: Jô Bilac
Direção: Camila Gama e Sandro Pamponet
Elenco: Erom Cordeiro, Hugo Bonemer, Julia Marini, Lidiane Ribeiro e Pierre Baitelli
Figurino: Camila Gama
Cenário: Sandro Pamponet
Luz: Renato Machado.
Direção de Produção: Camila Gama
Produção executiva: Bruno Fagotti e Nana Martins
Classificação 12 anos