quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Imagina esse palco que se mexe (RJ)

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Foto: divulgação

Rita Fischer

Mais um ótimo espetáculo de Moacir Chaves


A primeira temporada do ótimo “Imagina esse palco que se mexe” terminou ontem na Sala Multiuso do Espaço SESC de Copacabana infelizmente. A peça é dirigida por Moacir Chaves e tem no elenco as atrizes Karen Coelho, Luísa Pitta, Mônica Biel e, em destaque, Rita Fischer, essa última substituindo Elisa Pinheiro. A dramaturgia, que é estruturada pela justaposição de vários pequenos monólogos, foi construída pelo grupo a partir de encontros com o astrofísico João Ramos Torres de Mello Neto, professor titular da UFRJ. Ela versa sobre temas relacionados à física: o homem tentando entender a si mesmo e ao universo bem como sua relação com os outros e com o que lhes circunda. Com um humor inteligente viabilizado principalmente por ótimos trabalhos de interpretação, a montagem sugere diversas reflexões, tornando sua assistência um momento especial nesse final de primavera de 2016. Que volte mais vezes à programação carioca!

Pequenos monólogos compõem a dramaturgia
Como já foi dito, a dramaturgia de “Imagina esse palco que se mexe” se constitui a partir da justaposição de pequenos monólogos. Alternadamente, cada uma das quatro atrizes entra no palco e, depois de se situar no centro dele, inicia sua apresentação. Há textos em que se vê uma narrativa, como a de um menino que veio do Acre para o Rio de Janeiro e se impressiona com as diferenças e as similaridades entre as duas cidades. Há outros que tratam das descobertas da ciência: a invenção do raio-x, pesquisas sobre o buraco negro, as reflexões sobre o que é sólido e o que não é entre as coisas do universo, por exemplo. Por fim, há ensaios sobre o homem no espaço e sobre as relações que ele estabelece com outros de sua espécie e com seu entorno.

Na plateia, a cada nova oportunidade, o público vai sendo levado a construir o mapa semântico do espetáculo. Ele identifica o lugar de onde a obra fala e qual o contexto das propostas que a peça oferece. É sempre uma reflexão científica, por vezes dura e difícil, mas constantemente disposta a fazer pensar para além de entreter. O modo como a dramaturgia se organiza nesses discursos é o primeiro ponto positivo da produção a ser destacado. Apesar de se pautar sobre conceitos “cabeçudos”, muitos deles exigentes, é brilhante o modo como uma aparente leveza consegue transparecer. Isso acolhe a recepção, mantém viva a atenção e diverte!

A delicadeza na direção de Moacir Chaves
Entrando na análise dos aspectos que dizem respeito à encenação, é preciso destacar o jeito como as atrizes – codramaturgas do espetáculo ao lado do diretor Moacir Chaves – agarram cada oportunidade de transformar as sentenças do texto em teatro. Todas elas nutrem o discurso verbal de corporalidade através de largo investimento sobre o seu som, sobre o ritmo de sua verbalização e sobre curvas nas entonações, produzindo um movimento colorido para o que é dito. Com quase nenhum momento corporal, quase toda a encenação se dá no campo da oralidade, o que é um enorme desafio. Porque vencido, fica fácil perceber o grande mérito do conjunto. Rita Fischer se destaca talvez porque consiga emprestar ao trabalho seu talento natural para a comédia, mas ratifica-se os elogios à Karen Coelho, Luísa Pitta e à Mônica Biel igualmente.

A direção de Moacir Chaves nesse trabalho, lembrando os grandes tempos do saudoso Alfândega88, é delicadíssima. Arregimentando sutilizas, ele obtém na montagem altíssimos níveis estéticos. A iluminação de Paulo César de Medeiros preenche o fundo do palco com pequenas luzes sobre o negro, sugerindo um infinito diante do qual o homem é um mero desafio. Os discretos figurinos de Inês Salgado positivamente valorizam as vozes das atrizes e o texto, isto é, não chamam a atenção para suas aparências positivamente. A direção musical de Tato Taborda, como a luz, age em favor da sonoridade da dramaturgia, qualificando a reverberação possível capaz de aprofundar a construção do sentido. Assistida por Francisco Ohana, a direção de Chaves, por tudo isso, é outro destaque da montagem.

Uma ótima surpresa!
Considerado o movimento invisível da Terra e consequentemente de tudo o que há nela, a peça faz um convite para a reflexão a respeito de tudo aquilo que aparentemente é fixo em nosso entorno. Esse ponto de vista é capaz de fazer ver novas relações possíveis entre nós e de nós com nosso entorno. A complexidade da existência, longe de ser apenas um desafio, pode ser uma aventura deliciosa. “Imagina esse palco que se mexe” é uma ótima surpresa nesse segundo semestre.

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Ficha técnica

Direção: Moacir Chaves

Elenco: Elisa Pinheiro, Karen Coelho, Luísa Pitta e Monica Biel

Texto: Dramaturgia coletiva a partir de relatos do astrofísico João Ramos Torres de Mello Neto

Iluminação: Paulo César Medeiros

Figurinos: Inês Salgado

Direção Musical: Tato Taborda

Direção de Produção: Luísa Pitta e Monica Biel

Assistência de Direção: Francisco Ohana

Fotos de Divulgação: Bruna Thimotheo

Assessoria de Imprensa: Ney Motta

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