quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Fluxo (SP)

Foto: divulgação

Bruno Autran e Thiago Ciccarino


Bruno Autran em bom espetáculo sobre a violência no trânsito

“Fluxo” termina sua primeira temporada carioca no próximo dia 26 de setembro. O espetáculo, produzido em São Paulo, estreou em 2014 e fez duas temporadas por lá. Escrita e dirigida por Thiago Ciccarino, a peça tem excelente interpretação de Bruno Autran, dividindo o palco com o autor. Em cartaz ainda no Centro Cultural da Justiça Federal, na Cinelândia, eis aqui uma proposta interessante que sugere uma reflexão sobre a violência no trânsito. Mais do que isso, propõe um debate atual sobre fatalidades de toda ordem as quais qualquer um está sujeito tanto na situação de vítima como na de algoz.

Um possível reencontro
Dois personagens se encontram em um bar. Um deles (Thiago Ciccarino) está em uma cadeira de rodas. No passado, o segundo (Bruno Autran) atropelou um homem de quem nunca mais ouviu falar. Desde a primeira cena, a culpa aproxima esses dois inicialmente desconhecidos, começando um diálogo que evolui pela ironia e pela curiosidade. Os reencontros atingem o jogo mórbido e sarcástico em que a superioridade, na cena, define seus jogadores. Talvez um tenha sido o responsável pelo presente do outro. Quem sabe o outro motive um novo futuro para o anterior. Em pauta, está o homem incapaz de decidir todos os caminhos de seu destino, mas condenado a lidar com as consequências de diversas situações de sua existência.

Verborrágico demais em alguns momentos, nem sempre o ritmo dos diálogos consegue prender a atenção. Unicamente apoiado na exuberância da interpretação de um dos personagens, por vezes, o desequilíbrio sobra. Citações ao universo do teatro, recorrências à comédia e explorações retóricas esvaziam a obra negativamente em poucas passagens. Mesmo assim, a direção apresenta um belo trabalho. Assistido por Renato Jacques, Thiago Ciccarino lentamente descortina o panorama de lugares mais e menos claros até chegar ao embate final.

Interpretação brilhante de Bruno Autran
Com trabalhos de interpretação completamente diferentes nos termos de sua concepção, destaca-se o ator Bruno Autran pelo excelente trabalho corporal e pelo vibrante colorir de todas as suas expressões vocais. Bailando em volta de um passado que seu personagem cria para si, enquanto tenta disfarçar um fato em que ele acha que esteve envolvido, o ator brilha em cena. Thiago Ciccarrino se empenha nas pausas como fontes de tensão da contracena positivamente.

O cenário de Dartagnan Zavala se aproveita da simbologia de uma faixa de pedestres, mas não faz qualquer menção ao bar onde a situação acontece pobremente. O figurino de Daniel Infantini apresenta bem o personagem de Autran, mas não investe no de Ciccarino. A iluminação de Celso Melez, cheia de responsabilidade, vence o desafio com galhardia.

Decisões pautadas em aparências de realidade
É verdade que “Fluxo” insere a temática da violência no trânsito na programação teatral carioca. No entanto, o espetáculo pode ser visto como além. Aparências de realidade pode dar margem para diversas reações, nem todas elas exatamente apropriadas. E, observando por esse aspecto, essa peça tem potencial para envolver muito mais o público. Vida longa!



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FICHA TÉCNICA:

Texto e direção: Thiago Ciccarino

Elenco: Bruno Autran e Thiago Ciccarino

Cenário: Dartagnan Zavala

Figurino: Daniel Infantini

Luz: Celso Melez

Assistente de direção: Renato Jacques

Produção executiva e direção de produção no RJ: Paulo Lessa