quarta-feira, 30 de julho de 2014

Marlene Dietrich – As pernas do século (RJ)

Foto: divulgação
Sylvia Bandeira é Marlene Dietrich em espetáculo de Aimar Labaki


De volta, o excelente espetáculo sobre Marlene Dietrich

O ótimo “Marlene Dietrich – As pernas do século” volta em cartaz no Teatro Maison de France. O musical, com Sylvia Bandeira interpretando com excelência a diva alemã, tem como maior destaque a coragem do dramaturgo Aimar Labaki e do diretor William Pereira em contar essa história dessa forma. O ritmo lento, aliado à constituição de números repletos de beleza, “fisga” o espectador aos poucos, oferecendo-lhe ao final um espetáculo de altíssimo bom gosto.

Sylvia Bandeira interpreta o personagem desde 2010 quando a peça estreou. A beleza e o ótimo uso da voz no uso dos idiomas francês e alemão ficam ao lado de um trabalho de interpretação sutil, mas vigoroso que se vê ao longo de toda a encenação. O diálogo de Labaki é coberto de não-ditos, de escapes de sentido, de ironia, mas, por outro lado, na situação dramática inicial, temos uma senhora de noventa anos e um jovem amedrontado conversando. A peça começa com Marlene Dietrich (1901-1992) já velha e reclusa em seu apartamento em Paris quando um entregador entra fazendo o seu serviço. Os dois iniciam um diálogo e Marlene percebe que o jovem rapaz não sabe quem é ela, oportunidade ideal para uma revista do passado. 

Trata-se de um desafio. William Pereira tem o mérito de não transformar isso em um espetáculo além do que ele já é, esquivando-se de aparecer mais que o texto, privilegiando a peça como ela se torna ser. Aos poucos, a poltrona vai sendo abandonada e a Marlene dos anos 90 vai dando lugar para a dos anos 20, 50, 60 com mais frequência. Com segurança, a narrativa se dá aos poucos, delicadamente, mas se estabelece ao longo do tempo em uma estrutura firme, sólida e sedutora. Sai-se com o desejo de “quero mais!”.

José Mauro Brant completa o elenco com ótima participação, interpretando o jovem com perspectivas limitadas, e que poderá sair do apartamento da grande diva renovado. Sua qualidade vocal, em equilíbrio com a agilidade dos seus movimentos, dão a graça que ajuda a manter o clima favorável.

Os personagens pequenos se multiplicam, movimentando a história que revela para o jovem e para o público vários trechos da vida de Marlene Dietrich que podem ser desconhecidos para o público de hoje e no Brasil. Para nós, o ponto alto pode ser a apresentação no Copacabana Palace, quando ela contou em português. Para outros, pode ser a participação na guerra ou sua primeira visão por sobre a Berlin destruída. Sem dúvida, a interpretação de “Where have all the flowers gone” é um dos números mais bonitos do espetáculo, em que se interpretam mais de vinte canções célebres do século XX.

Outro destaque de “Marlene Dietrich – As pernas do século” é o figurino de Marcelo Marques. O guarda-roupa que veste os quatro atores (Marciah Luna Cabral e Silvio Ferrari completam o elenco) atende a requisitos históricos e narrativos precisos, mas também sustenta a peça em alta qualidade estética. Marlene conta a história do ponto de vista de seu apartamento-refúgio nos anos 90, mas o ar sombrio desse momento é amplamente colorido pelo entrar e sair de figurinos que ajudam a dar à peça o ar de espetáculo. Na direção musical, Roberto Bahal concorda com a dramaturgia e com a direção, modificando o ritmo aos poucos, mas mantendo positivamente aceso o interesse sobre como a história vai terminar.

“Marlene Dietrich – As pernas do século” é uma biografia como sucessivas outras têm preenchido a programação de teatro carioca. Nem todas elas, infelizmente, têm a qualidade dessa. Aplausos.

*

Ficha Técnica:
Texto: Aimar Labaki
Direção e Cenografia: William Pereira

Elenco:
Sylvia Bandeira
Marciah Luna Cabral
José Mauro Brant
Silvio Ferrari

Direção Musical e Arranjos: Roberto Bahal
Figurino: Marcelo Marques
Visagismo: Beto Carramanhos
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Preparação Vocal: Marciah Luna Cabral
Preparação Corporal: Marcia Rubin
Coreografia do Tango: Paulo Masoni

Músicos:
Piano - Roberto Bahal;
Clarinete - Mauriicio Silva
Violoncelo – Flavia Chagas

Produtores Associados: Minouskine Produções Artísticas

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