Nelson Freitas e Claudia Netto se alternando nos papéis de Helena e de Claudio na primeira direção de Alonso Barros |
Com vocês, Alonso Barros!
“Se eu fosse você” abre com excelência o ano de 2014 em termos de grandes musicais. Baseado no filme homônimo de 2006, dirigido por Daniel Filho, o espetáculo vem dirigido e coreografado por Alonso Barros, aqui em seu primeiro trabalho como diretor. Feito inteiramente com sucessos de Rita Lee, a história permanece a mesma do filme: Helena (Claudia Netto) e Cláudio (Nelson Freitas) são casados há vinte anos e estão nas vésperas de conseguir finalmente fazer a sua lua de mel quando um grande contrato na empresa de Claudio pode estragar tudo mais uma vez. Decepcionada com o marido, Helena o expulsa de casa e, em uma de suas brigas, os dois trocam de corpos. Cláudio começa a habitar o corpo de Helena e ela o dele. O tema requentado das diferenças entre homens e mulheres se torna interessante pela forma como vem à baila nesse texto assinado por Flávio Marinho. Com excelentes interpretações, essa nova produção da Aventura Entretenimento é divertida, honesta e cuidadosa. Sem dúvidas, um ótimo programa para todas as idades.
O gênero comédia musical americana é fruto da confluência de cinco gêneros anteriores. Um deles é a extravangaza, um tipo de espetáculo quase sem narrativa e com muita beleza que entretém os espectadores pela grandiosidade estética de seus números (ver os trabalhos de Florenz Ziegfeld no início do século XX e os desfiles das escolas de samba da Marquês de Sapucaí atuais). Interessa, nessa questão, que o espectador queira estar no lugar daqueles personagens, isto é, cantando lindamente, dançando brilhantemente, fazendo parte de momentos incríveis enquanto vive a sua vida cotidiana quase como as pessoas reais. Para contar a história de Helena e de Cláudio através de um musical, a dramaturgia desse espetáculo se alarga corretamente para dar espaço para os números de canto e de dança, mas também para abrigar a grandiosidade dos cenários, dos quadros, dos convites à emoção e da catarse mais simples. “Se eu fosse você” tem o mérito de vencer esse desafio tão terrível: manter a atenção do público firme apesar dos tempos tão esticados. A evidência disso aparece principalmente no segundo ato, quando a história praticamente já acabou. Os números musicais de Claudia Netto (Helena) e de Kakau Gomes marcam definitivamente o sucesso dos objetivos da produção, pois são apresentados sem nada além de suas vozes. Em outras palavras, se, nas cenas iniciais, a peça precisou usar de muitos recursos para dizer a que veio, nos momentos finais, já está em alto grau nas considerações da plateia e pode economizar, voltando a essência.
Alonso Barros constrói bastante bem a caminhada do sucesso. O cenário frio (quase sempre cinza) de Chris e de Nilson Aizner e de Paulo Corrêa ganha pela sua grandiosidade que preenche bem o palco do teatro Oi Casa Grande onde a peça está em cartaz, entrando e saindo nos momentos certos, o que ratifica o bom ritmo da dramaturgia, das canções e das coreografias. Os números de dança surgem sutis, mas criativos e têm seu melhor momento no quadro Ascott Gavote da peça, em que, lá pelas tantas, Nelson Freitas canta ao lado de um brilhante sapateado em pés de pato. Os 132 figurinos de Marcelo Pies vestem os 22 atores, mantendo os valores da peça dentro do roteiro previsto pelo gênero: em uma comédia musical americana tradicional como essa, o idealismo precisa estar preservado - nada está fora do lugar, tudo é bem feito. O visagismo de Beto Carramanhos situa esteticamente a produção em um lugar correto: em “Se eu fosse você”, a narrativa do marido no corpo da esposa e vice-versa é a protagonista e todos os outros elementos (figurinos, cenários, cabelos, dança e canto) podem ser belos, mas precisam ocupar o lugar de coadjuvante.
Os trabalhos de interpretações são excelentes. Fafy Siqueira (a mãe), Carla Daniel (a sogra da filha), Lua Blanco (a filha), Eduardo Leão (o amigo de Claudio), Kakau Gomes (a romântica) e Marya Bravo (a analista) têm participações marcantes que sinalizam a grandiosidade do espetáculo mesmo nas articulações menores. Nelson Freitas (Cláudio), que não é cantor, conquista a plateia com seu grande carisma e é uma das portas de entrada do público para fruir bem a peça. Claudia Netto, o grande nome da produção, oferece à audiência tudo aquilo que dela se espera: a excelência de uma das nossas melhores cantoras, atrizes e, agora também, comediantes. O único senão é Bruno Sigrist, cuja interpretação é apagada, sem sex appeal, e menor em relação à Blanco, sua parceira de cena.
O filme “Se eu fosse você”, com roteiro de Adriana Falcão, Renê Belmonte, Carlos Gregório, de Daniel Filho e de Roberto Frota, que consta também como criador da ideia original, foi a primeira maior bilheteria do cinema brasileira desde a retomada, somente superado por “Tropa de elite”. Essa produção de teatro musical, com composições da brasileira Rita Lee (sem ser mais uma biografia!), pode, sim, partir de um gênero originariamente americano, mas em nada perde a oportunidade de orgulhar o público teatral do país. Para se divertir!
Ficha técnica
Supervisão artística – Daniel Filho
Direção e coreografia – Alonso Barros
Direção Musical – Guto Graça Mello
Texto adaptado – Flavio Marinho, baseado em personagens e situações criados por Carlos Gregório e Roberto Frota, a partir de uma ideia original de Roberto Frota.
Conceituação Artística : Chris e Nilton Aizner
Cenógrafo Associado: Paulo Correa
Figurino – Marcelo Pies
Design de som – Carlos Esteves
Iluminação – Paulo Cesar Medeiros
Visagismo – Beto Carramanhos
Casting – Marcela Altberg
Elenco – Claudia Netto, Nelson Freitas, Lua Blanco, Bruno Sigrist, Alberto Goya, Carla Daniel, Carlos Arruza, Eduardo Leão, Giselle Lima, Igor Pontes, João Corrêa, Kacau Gomes, Lana Rodes, Lucas Drummond, Mariana Amaral, Marya Bravo, Neusa Romano, Nicola Lama, Osvaldo Mil, Thati Lopes e Vanessa Costa. Participação especial: Fafy Siqueira
Realização – Aventura Entretenimento, sob licença da Total Entertainment
acho Claudia neto pernóstica e nelson Freitas forçado depois de elis a músical é triste assistir isso ai
ResponderExcluirAssisti o musical a alguns dias atras, comparar um musical que conta a vida de uma artista com um musical que a historia é fictícia não é justo e nem comparável! Mas vamos la, particularmente achei o musical bom, as musicas encaixam perfeitamente.. não é o melhor musical que ja vi, mas com certeza um musical muito bom! Sobre O ator que voce comentou por ultimo, o Bruno Sigrist.. na minha opinião é a melhor voz depois da Claudia Netto! Não só na voz como tambem na atuação, achei melhor que a atris que contracena com ele, nos duetos da pra perceber bem a diferença, e no solo que ele tem no final fica bem nítido que o Menino é bom, muito bom.
ResponderExcluirGostei muito da peça. Bastante divertida, com um elenco ótimo e um cenário bem criativo.
ResponderExcluirGostei muito do musical, muito mesmo. Não achei ruim a atuação do ator mais jovem, e ele possui uma bela voz. Gostei da atriz que contracena com ele também, carismática. Claudia Netto e Fafy brilhantes... Todo o elenco vai bem.
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