sexta-feira, 18 de abril de 2014

Pequenas imperfeições (RJ)

Luciana Fontenelle e Diego Braga
Foto: divulgação

A repetição inadvertida da situação inicial

Em “Pequenas imperfeições”, temos a história de dois personagens-atores que estão ensaiando uma peça, mas também o início de suas carreiras. Interpretados pelos atores Diego Braga e Luciana Fontenelle, os personagens-atores estão sozinhos, sem direção, sem um texto, mas querendo fazer algo novo, algo que chame a atenção da crítica, da classe, da fama. Quem é de teatro vai identificar  facilmente o desejo de fazer algo relevante e a prece por ser reconhecido nessa montagem que tem supervisão de Letícia Guimarães e está em cartaz às sextas-feiras no Voz Plena em Copacabana. O problema é que, aos poucos, vai-se percebendo que o exagero das construções interpretativas não leva propriamente para espaço algum, pois não há uma curva dramática que sustente a audiência para além dos momentos iniciais de reconhecimento da história infelizmente.

Tudo é muito exagerado. Os movimentos, as expressões, as intenções, os volumes da voz, as direções de olhar, tudo tem muita força. No início, o efeito é positivo, porque pode querer expressar a gana desses personagens em vencer na vida, em obter o sucesso que almejam e pelo qual parecem se esforçar apesar do desamparo. Na dramaturgia, eles estão criando um espetáculo e já estão cansados de ensaiar. Nota-se uma relação de poder entre o personagem de Diego Braga em relação ao interpretado por Luciana Fontenelle, mas isso também não evolui. Apreendida a situação inicial, o público acaba por ficar como os personagens: desolado.

São visíveis os bons trabalhos de corpo e de voz em Braga e em Fontenelle na viabilização dos personagens-atores. Dentro do proposto, “Pequenas imperfeições” acaba por exibir um bom material de atuação para quem for ver a peça. O senão fica para o fato de que, como uma estrutura cênico-narrativa, a peça acaba por não funcionar, pois o ritmo é regular, monótono e sem justificativas claras.

“Pequenas imperfeições” positivamente se passa em uma sala de ensaios. O espaço, uma sala de aula (e de apresentações) da Voz Plena, serve bem para o que a narrativa propõe. As carências de luz e de caixa cênica, a disposição das cadeiras, o piano ao fundo, todos os elementos estéticos contribuem eficientemente para a narrativa. No entanto, o figurino contribui para o fortalecimento de uma potência que acaba não se estabelecendo. O personagem de Diego Braga não se desgrenha, mas mantém-se com a roupa inicial quase em modificações.

O título “Pequenas imperfeições” sugere um tom humano para o encontro desses dois personagens, recuperando um desejo do público para que eles consigam o que querem. Nesse sentido, a relação da plateia com os personagens acaba por ser próxima da com os intérpretes. Em uma boa narrativa, o herói parte em busca dos seus objetivos ou ao caminhar é levado. Nessa história, esses personagens ficam no desejo. É uma pena.

*

Ficha técnica:
Supervisão Letícia Guimarães
Texto e Atuação: Diego Braga e Luciana Fontenelle
Assessoria de Imprensa: Diego Braga
Produção: Cia Umbigo de Édipo
Operação de som e luz: Julio Angelo
Fotos: Lara Barboza e Julio Angelo
Apoio: Voz Plena e A gata de biscuit

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