sexta-feira, 18 de abril de 2014

Concreto armado (RJ)

A nova peça do Teatro Inominável
Foto: Paula Kossatz

Pretensioso

“Concreto armado” se perde em muitas histórias, intenções não resolvidas, boas interpretações mal posicionadas em uma dramaturgia pretensiosa negativamente. De um lado, os diálogos poéticos tiram o foco das cenas que levam a história para adiante. De outro, a concepção de direção se apresenta desequilibrada em cenas justapostas, fazendo com que a aparência de várias peças dentro de uma se fortaleça ao longo da apresentação. Em cartaz no Teatro de Arena do Espaço Sesc Copacabana, a nova peça do Teatro Inominável tem texto e direção de Diogo Liberano. Vale a pena conferir o belo trabalho de Gunnar Borges e de Marina Vianna ao lado dos já bem esperados bons trabalhos de Adassa Martins e de Laura Nielsen.

Não é difícil perceber que “Concreto armado” fala sobre as oposições entre o concreto e o perecível, entre o oxigênio que vivifica, mas também corrói, entre o preservar e o destruir que fazem da vida ser representada de forma complexa nesse tipo de teatro positivamente. Também é fácil identificar que a narrativa se posiciona de forma crítica em relação à realização da Copa de 2014, ou melhor, em relação às reformas no Estádio do Maracanã que elitizaram o lugar, isso visto como um símbolo para a divisão cada vez mais acirrada de classes nas obras urbanas dos governos estadual e municipal no Rio de Janeiro. O problema é: se o assunto e o tema da peça são tão acessíveis, por que tantos rodeios poéticos?

Na narrativa escrita por Diogo Liberano (ao lado de Keli Freitas), as cenas iniciais - em que uma professora coordena a abertura de um grupo de estudo na pós-graduação em urbanismo em uma universidade - vão lançando várias questões à audiência. Em seguida, temos o universo particular de cada um dos alunos participantes do grupo, o que também vai abrindo plots narrativos (que precisarão ser fechados). A organização não-linear exige que o espectador, que ainda está identificando sobre o quê é o espetáculo, também tenha que organizar a história em sua cabeça para frui-la. Por fim, a alternância de tons (ora temos cenas fechadas em si, ora a professora lê os seus diários para o público) avisa que a peça tem, em si só, jeitos diferentes de se relacionar com a plateia. É só quase no final da peça que se percebe com clareza o pressuposto elementar: o Maracanã pode ruir. Como ponto de partida para uma história, essa imagem possível é válida, é interessante e é positiva ficcionalmente falando. No entanto, se ela aparece só no final, corre o risco de não ter bases suficientes na narrativa que lhe assegurem o direito de bem existir, pois, de antemão, ninguém realmente acredita que o Maracanã possa vir a ruir (assim como o Titanic, cuja impressão de invencibilidade tornou a tragédia ainda maior). Em outras palavras, cenas belíssimas como a de Riane (Adassa Martins) e Virgília (Flávia Naves) nem fundamentam o todo da história, nem se estruturam independentemente, de forma que sobram infelizmente na criatividade já reconhecida e elogiada de Liberano.

Adassa Martins brilha como era esperado em “Concreto armado”, principalmente em uma cena em que a atriz canta à capela. Construindo uma personagem que não consegue se situar nem a favor, nem contra às coisas que vê, o tom monocórdio ganha sentido e vida em um preciosismo delicado. Flávia Naves, Laura Nielsen e Marina Viana apresentam trabalhos cheios de potência em construções mais sutis, mas não menos fortes. Gunnar Borges surpreende em primeiro trabalho realmente relevante. A forma como o ator constrói uma figura sensual, complexa, forte e carismática através dos ótimos usos do tempo e das pausas, do desenho corporal e da excelente movimentação pelo espaço fazem desse personagem um ponto marcante.

A direção de Diogo Liberano não apresenta uma concepção sólida, mas uma cabaleante indecisão sobre como contar qual história. Não bastando os diálogos, co-escritos por ele, o diretor escreve cenas a partir de marcações histriônicas que, como o texto, pretendem coisas que depois não conseguirão oferecer. O quadro final, por exemplo, resume bem essa hipótese: o guarda-chuva é um símbolo, a paisagem estampada no guarda-chuva é outro símbolo, a água que os personagens jogam nesse guarda-chuva e que depois cairá sobre o palco são outros símbolos. O girar é outro símbolo. E, assim, “Concreto armado” é uma justaposição de símbolos, apenas alguns bem utilizados.

A barra de ferro, o cenário circular e em rampas, a planta alocada em uma beirada, o figurino com variações do mesmo tema são outros símbolos que podem ser muitas coisas e, em “Concreto armado”, também podem não ser nada. Muito diferente de “Sinfonia sonho” e de “Maravilhoso”, essa produção expressa a imaturidade que até Diogo Liberano tem o direito de ter. 

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FICHA TÉCNICA
Direção: Diogo Liberano
Dramaturgia: Diogo Liberano e Keli Freitas

Elenco: Adassa Martins (Riane), Andrêas Gatto (Paolo), Caroline Helena (Antonisia), Flávia Naves (Virgília), Gunnar Borges (Alexandre), Laura Nielsen (Glória) e Marina Vianna (Manuela).

Diretora Assistente: Marcela Andrade
Assistência de Direção: Taís Feijó
Direção Musical: Luciano Corrêa
Cenário: Elsa Romero
Figurinos: Marina Dalgalarrondo
Iluminação: Renato Machado
Assistência de Iluminação: Lívia Ataíde
Fotografia: Paula Kossatz
Vídeo: Philippe Baptiste
Social Media: Teo Pasquini
Programação Visual: Francisco Barcelos
Artistas-Pesquisadores (UFRJ): Bruno Marcos e Natã Lamego
Produção: Dani Carvalho e Tamires Nascimento
Realização: Teatro Inominável

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