sábado, 22 de março de 2014

O enxoval (RJ)

Verônica Reis e Ana Paula Secco em cena
Foto: divulgação

Uma pérola!

            “Enxoval” é uma pérola. Célia e Amélia são vistas na velhice, em um entre tantos dias que se repetem em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. A visão, que se mostra limitada em termos de espaço, é grandiosa em questão de tempo, o que aproxima o público de todas as idades das personagens, da história narrada, da peça como um todo. Participante das comemorações de vinte e dois anos da Cia Atores de Laura, a peça se apresenta no Teatro Poeira, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro.
            O lugar trágico, marca artística da contemporaneidade desde o Teatro do Absurdo, é aquele em que algo é superior à vontade dos personagens. O tempo é o principal protagonista dessa situação, pois ele passa independente do espaço e das pessoas. Em “O enxoval”, há quem espere o casamento que nunca aconteceu, há quem sinta falta do marido que já se foi, mas há também quem já se acostumou com os dois sentimentos e não faz, dessa falta, algo que lhes mude o contorno da vida. O dia a que o espectador de “O enxoval” assiste é apenas mais um dia, igual a tantos outros, de forma que a banalidade é tema, é assunto, é a questão pautada. O texto de Ana Paula Secco, Verônica Reis e de Luiz André Alvim reforça isso através das repetições triádicas, também expressas na direção de Alvim, cujo bom casamento deixa ver bom teatro.
            O trabalho de interpretação de Ana Paula Secco (Célia) e de Verônica Reis (Amélia) é, em minúcias, positivíssimo. O resultado emociona, diverte e faz refletir. O pequeno detalhe enternece, as repetições fazem rir e o todo pontua a discussão tanto sobre a forma como os idosos são tratados por si e pelas outras idades, como aquilo a que se espera quem ainda não está lá (mas quer chegar). Com um formato que se mostra meramente superficial no início, os trabalhos de interpretação se sujeitam a provas mais rígidas e passam por todas elas com louvor.
            O uso de todos os elementos estéticos é bastante simples, apontando para o principal nesse espetáculo: a interpretação da história. Fornecendo boas possibilidades sem causar entraves, o cenário e o figurino de Secco e a iluminação de Alvim dão a ver a narrativa em sua maior e mais positiva potencia.

            “O enxoval” estreou em abril de 2010. Há de envelhecer com o público, permanecendo um ótimo espetáculo.

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Ficha técnica:
Texto: Ana Paula Secco, Verônica Reis, Luiz André Alvim
Direção: Luiz André Alvim
Elenco: Ana Paula Secco, Verônica Reis, Luiz André Alvim
Iluminação: Luiz André Alvim
Cenário: Ana Paula Secco
Figurinos: Ana Paula Secco
Direção de Produção: Ana Lelis
Produção executiva: Isabel Pinheiro e Renata Campos

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