sábado, 22 de março de 2014

Camille e Rodin (SP)

Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore em cena
Foto: divulgação

Morno

“Camille e Rodin”, apesar de ser um bom espetáculo, acaba por ser um tanto quanto monótono porque não exibe a evolução dos personagens além de um mínimo muito tímido. A peça é um trabalho raro de viabilização cênica do impressionismo no teatro, o que significa que o espetador primeiro vê o mundo a partir do olhar de um personagem, segundo porque esse olhar é um manifesto cansaço da ordem das coisas na cidade (cada vez mais burguesa) e uma fuga para o campo, onde o natural continua tendo o seu privilégio. Assim, se, de um lado, temos no Teatro Maison de France um espetáculo teatral que, em sua forma, manifesta o conceito de gênero impressionista; de outro, temos uma dramaturgia que pode cansar o espectador, porque apresenta uma curva dramática bastante pequena.

“Camille e Rodin” tem, em sua estrutura fundamental, a figura da escultora Camille Claudel (1864 – 1943). É ela quem começa e quem termina a narrativa, as cartas dela ao irmão dominam boa parte das cenas, é ela quem propõe problema. Ainda bastante jovem, chegou às mãos do já famoso Auguste Rodin (1840-1917) como aluna e ajudante. Ao longo dos anos, veio a frustração profissional e amorosa. Nas reclamações da artista, apesar de trabalhar muito, era apenas o mestre quem ganhava os aplausos. Além disso, Rodin permanecia casado enquanto o romance entre os dois acontecia. Na visão de Keppler e de Andreato, Claudel se apresenta insatisfeita enquanto artista e enquanto mulher. Já Rodin aparece como aquele que nunca prometeu nada nem à aluna, nem à amante. Por isso, embora os nomes famosos, “Camille e Rodin” emprega sua força em se mostrar como uma grande “discussão de relacionamento” antes de qualquer outra coisa infelizmente. O desmérito, no entanto, não está nisso, mas em evidenciar pouco as nuances dessa situação inicial. É desde as primeiras cenas, e durante toda a peça, que se vêem as reclamações de Camille.

Os trabalhos de interpretação concordam com o texto e pouco deixam ver a crítica. De um lado, Melissa Vettore não perde um só momento de se expressar, preenchendo inclusive seus silêncios de gestos e de expressões faciais. Por outro, Leopoldo Pacheco tem raros momentos de explosão, mantendo as faces impassíveis em quase toda a narrativa. O resultado final não é ruim, pois, mesmo o ritmo permanecendo linear em boa parte da encenação, é possível identificar três momentos: o primeiro encontro entre os dois artistas, uma discussão definitiva e todo o resto. É preciso ressaltar positivamente o excelente trabalho de dicção, o bom uso do espaço e a relação corporal entre os dois intérpretes em cena.

O cenário de Marco Lima, o figurino de Marichilene Artisevskis e trilha sonora de Jonatan Harold pouco variam, o que ratifica o tom do texto, da direção das interpretações, dando a ver um trabalho coeso e coerente. De forma positiva, a iluminação de Wagner Freire pontua as cenas, criando em um espaço único dois universos diferentes, de tempos diferentes, sem prejudicar o realismo de que o impressionismo parte. A oficina de trabalho de Rodin e o quarto de Camille são pequenas "ilhas" onde os personagem se escondem para fugir do turbilhão da cidade. Por isso, é o melhor elemento usado em “Camille e Rodin”.

Desde o início, o espectador sabe tudo o que vai acontecer em “Camille e Rodin” e o “como as coisas vão acontecer” é pouco para manter a atenção. Em tempos de internet banda larga e de wikipedia, o interesse sobre a biografia de dois artistas fundamentais na história da arte também é um atrativo fraco. Fica um aplauso que é morno.

*

Ficha Técnica:
Texto: Franz Keppler
Direção: Elias Andreato
Elenco: Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore
Assistente de direção: Leandro Goddinho
Desenho de Luz: Wagner Freire
Cenografia: Marco Lima
Trilha sonora:  Jonatan Harold
Figurino: Marichilene Artisevskis
Fotografia: Alexandre Catan
Projeto: Dramática Produções Artísticas
Direção de Produção: Andrea Caruso
Produção Executiva: Gabriel de Souza
Realização: Dramática Produções Artísticas

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