Simone Kalil |
Não morde
O problema de “Morde” é que o público se sente obrigado a rir uma vez que a atriz ri das próprias piadas. Em cartaz na Sala Rogério Cardoso, da Casa de Cultura Laura Alvim, a comédia escrita e interpretada por Simone Kalil serve para comemorar os 15 anos de sua carreira no teatro. Apesar do grande carisma, a atuação e a dramaturgia não têm méritos que superem o constrangimento de uma expressão que deveria (e poderia!) ser espontânea como a risada. Fica “chato” não rir e essa sensação afasta o espetáculo da avaliação mais positiva.
No texto de "Morde", constam uma série de crônicas engraçadas escritas por Kalil e publicada em livro homônimo. Repleto de estruturas cômicas por si só, a dramaturgia deixa pouco para o teatro. A atriz, vestida de negro, em um cenário muito colorido (que talvez faça referência às peças que ela interpretou nesses anos de carreira), se dirige ao público em primeira pessoa, contando diversas histórias. Nem todas as narrativas são sobre teatro. Nem todas as narrativas são sobre família. Nem todas as narrativas têm Kalil como protagonista. “Morde” também não chega a ser um stand up comedy, porque, além do cenário e do figurino (Kalil usa uma saia farthingale e um corpete com ombreiras no último trecho), a encenação tem dois pequenos intervalos que marcam o fim e o início de quadros que, para complicar, não se diferenciam entre si nem quanto à temática, nem quanto à estética.
Simone Kalil tem bom uso da voz, mas o ritmo da prosódia segue regular ao longo de toda a encenação dirigida por Alexandre Régis. São visíveis os problemas na pausa de respiração e na discordância entre os movimentos da fala e os olhos que medem a participação do público. Percebe-se um trabalho que celebra e visa o reconhecimento, mas há pouco espaço para ele vir naturalmente.
Como já se disse, o cenário e o figurino de Caká Oliveira não deixam exatamente claro onde está a atriz/personagem Kalil. A bancada, o espelho e a arara podem fazer ver um camarim ou uma coxia de teatro, principalmente porque estão à frente de uma cortina vermelha (que se abrirá como que para um público fictício). No entanto, o excesso de cores do conjunto e o “trono” à frente de um biombo à direita discordam da parte já citada e não estabelecem uma possibilidade nova de interpretação do espaço. Vê-se Kalil vestindo uma espécie de figurino, mas o texto realmente não assegura o espectador de que se trata de uma atriz recebendo o público.
Nas palavras da dramaturgia, “Morde!” é uma ordem dada aos atores para que eles fisguem o público (com os dentes) com o seu trabalho em cena. “Morde” tem boas intenções e faz com que o público saia do teatro torcendo pelo sucesso da atriz que o interpreta, mas infelizmente não “morde”.
Ficha técnica:
Texto e atuação: Simone Kalil
Direção: Alexandre Régis
Produção: Tamires Nascimento
Iluminação: Fábio Erre
Direção de movimento: Jefferson Almeida
Preparação vocal: Jane Celeste
Cenário e Figurino: Cacá Oliveira
Captação de recursos: Flávio Helder
Projeto Gráfico: Davi Palmeira
Assessoria de imprensa: Minas de Ideias
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