Foto: Marcelo Stammer
Teatro para cortar a alma
“Música para cortar os pulsos” tem como principal mérito prometer bem pouco. Sua encenação se apresenta, desde o primeiro momento, de forma tão simples e carismática que estará errado quem da proposta espera muito. O “pouco” (ênfase nas aspas) que o grupo paulista Empório de Teatro Sortido promete se transforma em muito, fazendo do resultado uma ótima surpresa para quem gosta de um tipo de teatro que, delicado e sutil, mobiliza poucos recursos, mas fala, emociona, faz refletir e consegue contar bem uma boa história.
Isabela, Ricardo e Felipe são jovens que vivenciam os seus primeiros relacionamentos afetivo-sexuais. Descobrem os compromissos, os acordos, os prazeres. Fazem promessas para si E para os pares, vêem sonhos se desfazerem, traçam metas, se decepcionam e buscam a felicidade. Seus encontros e desencontros são a matéria com qual o público, de todas as idades, se identifica, ainda que os mais jovens tenham a sua disposição mais elementos para fazer a catarse. O trabalho de interpretação de Fábio Lucindo (Felipe), de Victor Mendes (Ricardo) e de Mayara Constantino (Isabela) é bastante positivo dentro do contexto previsto para a peça: um diálogo sem entraves com o espectador, voz e dicção próxima do real além da narrativa, expressões faciais e corporais discretas, movimentação coreografada. Constantino, no entanto, merece positivo destaque por alcançar um excelente resultado na cena em que é entrevistada, em que a atriz dá vida, ao mesmo tempo, a duas personagens, desafio ao qual não foram contrapostos os dois outros atores. De um modo geral, a voz baixa dos três atores é o seu ponto mais positivo: o texto flui de forma confessional, íntima, cordial, como numa conversa/desabafo entre amigos.
Rafael Gomes assina a dramaturgia literária e também a cênica. Na primeira, cria imagens potentes e diálogos rápidos, fazendo referências bastante ricas ao espetáculo, como a citação de Rosalinda, personagem de Shakespeare, além de letras de músicas conhecidas pelo público, de Roberto Carlos a Beach Boys, passando por Piazolla, Debussy e Massenet. Na segunda, há a visível intenção de promover dez situações belas esteticamente de forma que cada uma se apresente como um argumento ou um ponto de vista diferente da narrativa que une os três personagens.
O cenário previsto por André Cortez assim como os figurinos de Anne Cerutti são adequados e contributivos. A troca de lugar dos estrados e dos falsos microfones ajuda a dar ritmo à narrativa, embora só se justifique pela elevação dos padrões visuais da peça, não tendo funções dramatúrgicas. Ainda nos aspectos técnicos, a iluminação de Marisa Bentivegna e a trilha sonora, apesar das falhas na operação em uma das sessões, são responsáveis por momentos bastante positivos. Os movimentos de luz dão a pausa necessária à reflexão sobre o visto, enquanto a trilha ilustra o discurso cênico, dele fazendo parte diegeticamente.
O cenário previsto por André Cortez assim como os figurinos de Anne Cerutti são adequados e contributivos. A troca de lugar dos estrados e dos falsos microfones ajuda a dar ritmo à narrativa, embora só se justifique pela elevação dos padrões visuais da peça, não tendo funções dramatúrgicas. Ainda nos aspectos técnicos, a iluminação de Marisa Bentivegna e a trilha sonora, apesar das falhas na operação em uma das sessões, são responsáveis por momentos bastante positivos. Os movimentos de luz dão a pausa necessária à reflexão sobre o visto, enquanto a trilha ilustra o discurso cênico, dele fazendo parte diegeticamente.
Tratar artisticamente dos relacionamentos modernos é cada vez mais um desafio difícil uma vez que o tema é cada vez mais (e pior) explorado. “Música para cortar os pulsos”, apesar do título pesado, o faz de forma bastante delicada e sutil. Sutil, aliás, é o nome do grupo dirigido Felipe Hirsch, responsável por “Trilhas Sonoras de Amor Perdidas”, espetáculo que, guardadas as devidas proporções, é uma ótima referência para entender esse que, agora, está em cartaz no Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro. Fazer a comparação há que ser, primeiro, uma honra para ambas produções, mas por fim, uma grata satisfação para o público brasileiro.
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Ficha técnica:
Texto e Direção: Rafael Gomes
Assistente de Direção e Preparação de Atores: Thiago Ledier
Elenco:
Fábio Lucindo - Felipe
Mayara Constantino - Isabela
Victor Mendes - Ricardo
Guilherme Gorski (alternante)
Cenografia: André Cortez
Figurino: Anne Cerutti
Iluminação: Marisa Bentivegna
Pperador de luz: Renato Franco
Produção: Euforia Produções/ Ioiô Filmes
Coordenação de Produção: Isabel Sachs
Assistente de Produção: Adriana Sá Moreira
Produção Executiva Viagem Teatral:Maira Cessa
Design gráfico: Camila Sato
Fotos: Fabio Furtado
Um espetáculo: Empório de Teatro Sortido
Realização original: SESC - SP
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