Foto: João Julio Mello
Elementos estéticos pouco
explorados
“[des]Conhecidos”
é uma comédia dramática escrita e dirigida por Igor Angelkorte que tem como
mote narrativo um blind date. Duas pessoas que não se conhecem marcam um encontro
via internet em um bar. Lá chegando não se reconhecem, mas, devido à
superlotação, acabam por dividir a mesma mesa, o que talvez seja um deus ex
machina. O diálogo rápido em lugar público é substituído pela relação sexual no
apartamento de um dos dois, iniciando aí uma relação entre eles que segue sem
compromissos. A presença/ausência de compromissos firmados é o conflito, o
ponto de partida para a discussão que a obra propõe: a necessidade deles nas
relações contemporâneas. Angelkorte também assina a produção, cujo ponto mais
relevante seja o fato de, aos sábados e domingos, os personagens serem um homem
e uma mulher heterossexuais e, nas segundas-feiras, serem dois homens, um homo
e um bissexual. Em ambas as situações, o diálogo e as ações permanecem
exatamente os mesmos, de forma que a obra, assim, permita pensar a respeito da natureza
dos relacionamentos nas diferentes orientações sexuais.
Com
personagens bem definidos e uma estrutura dramática organizada dentro da linha
clássica de causa e efeito (primeiro encontro causa primeira transa que causa relacionamento
que causa discussão de relacionamento), “[des]Conhecidos” sofre o fato de ser
decrescente: ri-se na situação de abertura, excita-se no desenvolvimento e, quando
o conflito enfim aparece, anseia-se por sair. O anti-ápice acontece
negativamente em meio a uma reflexão sobre as leis que transpassam as relações
contemporâneas, de jeito que a narrativa funciona, nesse ponto da história,
como um argumento para uma tese. No processo de fruição, sai-se da catarse
inicial e passa-se à dissertação, virando o jogo, substituindo as bases do
equilíbrio, “ficando chato”.
Igor
Angelkorte e Samuel Toledo apresentam marcas de uma interpretação que aproxima
a narrativa do real existente além dela, o que é bastante positivo por promover
uma rápida identificação. Como já foi dito, o diálogo flui de um jeito leve e
vibrante, mesmo quando o tema é pesado. Vale dizer, no entanto, que a leveza
que faz bem aqui faz mal em outros elementos que estruturam a obra cênica.
Cenário, figurino, trilha sonora e iluminação são itens que parecem ter sido pouco
ou não considerados pela concepção de “[des]Conhecidos”. O fato de vestirem
roupas bastante realistas é positivo, mas sente-se a falta de uma concepção que
justifique a opção pelos tecidos, pelas estampas, pelas texturas. Encontrar o
sofá visível desde a cena inicial também prejudica a fruição do momento inicial.
Embora haja músicos prontos para a execução ao vivo da trilha sonora, quase não
há músicas assim como é meramente funcional o desenho de luz. Com elementos
estéticos pouco explorados além do texto, a Cia. Probástica apresenta um
espetáculo um discurso interessante com boas interpretações, mas não muito além
disso.
*
Ficha técnica
Elenco: Igor Angelkorte e Samuel Toledo (ou Chandelly Braz)
Direção e dramaturgia: Igor Angelkorte
Diretores assistentes: Samuel Toledo e Lívia Paiva
Diretora de movimento: Lavinia Bizzotto
Supervisão de direção: Diego de Angeli
Supervisão de texto: Felipe Barenco
Cenografia: Julia Deccache e Laura Shalders
Iluminação: Diego Diener
Figurinos: Luiza Fardin
Designer de Projeto: Fernando Nicolau
Fotos: João Julio Mello
Produção: Igor Angelkorte
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Bem-vindo!