domingo, 29 de abril de 2012

[des]Conhecidos (RJ)


Foto: João Julio Mello

Elementos estéticos pouco explorados

                “[des]Conhecidos” é uma comédia dramática escrita e dirigida por Igor Angelkorte que tem como mote narrativo um blind date. Duas pessoas que não se conhecem marcam um encontro via internet em um bar. Lá chegando não se reconhecem, mas, devido à superlotação, acabam por dividir a mesma mesa, o que talvez seja um deus ex machina. O diálogo rápido em lugar público é substituído pela relação sexual no apartamento de um dos dois, iniciando aí uma relação entre eles que segue sem compromissos. A presença/ausência de compromissos firmados é o conflito, o ponto de partida para a discussão que a obra propõe: a necessidade deles nas relações contemporâneas. Angelkorte também assina a produção, cujo ponto mais relevante seja o fato de, aos sábados e domingos, os personagens serem um homem e uma mulher heterossexuais e, nas segundas-feiras, serem dois homens, um homo e um bissexual. Em ambas as situações, o diálogo e as ações permanecem exatamente os mesmos, de forma que a obra, assim, permita pensar a respeito da natureza dos relacionamentos nas diferentes orientações sexuais.
                Com personagens bem definidos e uma estrutura dramática organizada dentro da linha clássica de causa e efeito (primeiro encontro causa primeira transa que causa relacionamento que causa discussão de relacionamento), “[des]Conhecidos” sofre o fato de ser decrescente: ri-se na situação de abertura, excita-se no desenvolvimento e, quando o conflito enfim aparece, anseia-se por sair. O anti-ápice acontece negativamente em meio a uma reflexão sobre as leis que transpassam as relações contemporâneas, de jeito que a narrativa funciona, nesse ponto da história, como um argumento para uma tese. No processo de fruição, sai-se da catarse inicial e passa-se à dissertação, virando o jogo, substituindo as bases do equilíbrio, “ficando chato”.
                Igor Angelkorte e Samuel Toledo apresentam marcas de uma interpretação que aproxima a narrativa do real existente além dela, o que é bastante positivo por promover uma rápida identificação. Como já foi dito, o diálogo flui de um jeito leve e vibrante, mesmo quando o tema é pesado. Vale dizer, no entanto, que a leveza que faz bem aqui faz mal em outros elementos que estruturam a obra cênica. Cenário, figurino, trilha sonora e iluminação são itens que parecem ter sido pouco ou não considerados pela concepção de “[des]Conhecidos”. O fato de vestirem roupas bastante realistas é positivo, mas sente-se a falta de uma concepção que justifique a opção pelos tecidos, pelas estampas, pelas texturas. Encontrar o sofá visível desde a cena inicial também prejudica a fruição do momento inicial. Embora haja músicos prontos para a execução ao vivo da trilha sonora, quase não há músicas assim como é meramente funcional o desenho de luz. Com elementos estéticos pouco explorados além do texto, a Cia. Probástica apresenta um espetáculo um discurso interessante com boas interpretações, mas não muito além disso.

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Ficha técnica
 Elenco: Igor Angelkorte e Samuel Toledo  (ou Chandelly Braz)
Direção e dramaturgia: Igor Angelkorte
Diretores assistentes: Samuel Toledo e Lívia Paiva
Diretora de movimento: Lavinia Bizzotto
Supervisão de direção: Diego de Angeli
Supervisão de texto: Felipe Barenco
Cenografia: Julia Deccache e Laura Shalders
Iluminação: Diego Diener
Figurinos: Luiza Fardin
Designer de Projeto: Fernando Nicolau
Fotos: João Julio Mello
Produção: Igor Angelkorte

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