quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Isto aqui é Rock'n'Roll (RJ)

Foto: divulgação


O que é teatro nisto aqui

Embora “Isto aqui é Rock’n’Roll” seja um show musical, as marcas de teatralidade são facilmente encontradas em seu uso bastante positivo. Carlos Loffler (neto dos atores Oscarito e Margot Louro) interpreta C. Q. Lee, uma verdadeira fictícia lenda do rock brasileiro, em um show que marca a sua volta ao mundo da música. Dessa forma, quando Loffler empresta seu corpo franzino e sarado para dar forma a uma grande estrela da música, quando um vidro transparente de água também transparente emprestam sua transparência para fazer ver um vidro de vodka, quando as caixas de som viradas para a plateia emprestam sua força para transformar um teatro com palco italiano e poltronas de veludo em uma casa de shows, é de teatro que estamos falando. Quanto à organização dos sentidos, deve-se observar que há três grandes tipos textuais (aprendidos desde a escola): narração, dissertação e descrição. A obra em questão é melhor vista a partir do último tipo, o que em nada é depreciativo, uma vez que há menos história e menos argumentação, ambas existentes, e muito mais a construção de um universo (ficcional) de show de rock como nos tempos de Raul Seixas, Cazuza, Cássia Eller, Sergei entre muitos outros não menos importantes na nossa história. Estabelecido, assim, o ponto de vista, pode-se partir para a observação do comportamento desses recursos de linguagem no espetáculo cuja direção geral é assinada por Aloisio de Abreu e a direção musical por Andrea Zeni.

Narrações em OFF anunciam o retorno de C. Q. Lee (Carlinhos Quase Lee, numa homenagem à Rita Lee), cantor conhecido em vários sotaques brasileiros e em vários idiomas mundiais. Eis que ele entra vestido em um casaco peludo e blusa apertada, calça que parece de couro, maquiagem pálida com sombras carregadas, cabelos compridos numa perfeita alusão a Mick Jagger (The Rolling Stones), cantor da primeira música da noite: “(I can’t get no) Satisfaction”. A partir daí, em várias oportunidades, a produção explora de forma rica o universo a que se propõe.

Carlos Loffler se movimenta no palco em um misto de agressão e sensualidade. Seus movimentos são fortes, floreados femininamente, mas masculinamente pontuais, marcas de uma androginia necessária à estética apresentada e felizmente presente. A voz grave como um trovão paira sobre a audiência, dominando a cena e emocionando quem viveu os anos agora simbolicamente reconstruídos e encantando quem é jovem demais para tê-los vivido. C. Q. Lee conta histórias de sua vida através das décadas e por vários lugares em que esteve, incluindo o Bar Ocidente e o saudoso Fim de Século em Porto Alegre. Faz poesia, diverte e se diverte. Anda pela plateia, convoca suas palmas, faz reinar o Rock’n’Roll que dá título ao espetáculo. Ao seu lado, outros símbolos são trazidos à cena, peças que se encaixam na construção do quadro: solos de guitarra emocionados, músicos balançando a cabeça e o corpo deixados levar pelo som que fazem ouvir, pouca luz e correntes na rotunda, bateria um degrau acima, cadeira barroca à direita, backing vocal à esquerda sob um foco só pra ela. Abreu não desperdiça signos e mostra bom uso de todas as letras que são possíveis para viabilizar a linguagem teatral escolhida em sua concepção.

Há que se fazer um destaque: Kalli Ane é, sem exageros, a Jennifer Holliday brasileira. A princípio, apenas mais uma marca bem colocada em referência ao universo dos shows musicais (cantora afro-descendente, vestido dourado apertado (que obriga a intérprete a puxá-lo para baixo em vários momentos, o que é negativo), expressões neutras e pequenos altos agudos de fundo), Ane ganha espaço à medida que o espetáculo se desenvolve. Em “Blues da Piedade”, um dos ápices encontráveis na produção, sua participação é tão positiva que o público se levanta e aplaude em pé o que vê. O mesmo se repete em “Mercedes Benz”, exibindo uma feliz negação da linearidade esperada em um espetáculo descritivo.

Isto aqui é Rock’n’Roll” faz homenagem a várias estrelas do rock e seus públicos enquanto se utiliza desses símbolos como meio de homenagear. Talvez esteja nisso o seu maior mérito uma vez que não torna o tema um mero simulacro, vazio de conteúdo, mas rico em forma. O excepcional repertório escolhido e a interpretação das canções (que, se agradam ou não os especialistas em música, nenhum mal causam no espectador de teatro) acontecem como um argumento vendido e plenamente hábil de ser comprado pela plateia: viva o rock nacional. Nas duas horas em que se dispõe sua apresentação, o único vilão real são as confortáveis poltronas da Sala Fernanda Montenegro no Teatro Leblon. Vilãs, elas impedem que a audiência dance, um problema.

(Melodia: “Dream a little dream of me”)

Sonhei com o Cazuza, com a Rita e com a Cássia sem blusa.
No sonho, eles cantavam para mim.
Quem não quer um sonho assim?
Boa noite, Cinderelas!
O sonho é só a vida mais bela.
Tão bom você aqui dentro de mim.
Quem não quer um sonho assim?
As dores de amores se calam
Se eu beijo você... 


*

Ficha técnica:

Com: Carlos Loffler e Banda
Roteiro e Direção Geral: Aloisio de Abreu
Direção Musical: Andrea Zeni

Guitarra: Lula Washington
Guitarra: Danilo Bareiro
Baixo: Rubey Catarcione
Bateria: Cassio Acioli
Backing Vocal: Kalli Ane
Ator convidado: Alisson Sant

Figurinos: Leo Muqui e Leo Neves
Cenário: José Camarano e Marcelo Argento
Cenotécnico: Set Design
Iluminação: Aurelio de Simon
Operador de Luz: Helio Malvino
Operador de Canhão: Felipe Pereira
Técnico de Áudio: Anderson Chames
Contra-regra: J. Bruno
Maquiagem: Romulo Flores
Camareira: Tania Haribol de Sosa
Foto: Fernando Schubach
Assessoria de Imprensa: Smart Mídia - Comunicação e Assessoria 
Marketing: Connected Thinking - Marrieti, Rossoni & Associados
Design Gráfico: 48/Coral Michelin
Assistente de Direção: Virgínia de Goméz
Produção Executiva: Antonio Libonati

Um comentário:

  1. Com tantos talentos reunidos, o epetáculo JÁ deu certo. Quero assisti-los. Bjos e linda temporada pra todos!!!!

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