domingo, 18 de fevereiro de 2018

Noite de musicais – 16.02 (RS)

www.facebook.com/criticateatral
Instagram: @criticateatral
Foto: divulgação 

Mona Vipere


Com Saraghina, Rebeca Rebu brilha em “Noite de Musicais”

Noite de musicais – 16.02” foi mais uma edição de um bom show de dublagens que faz parte da programação recorrente do bar Workroom. Aberta em abril de 2017, a casa tem uma decoração toda apoiada na popularidade do “RuPaul`s Drag Race”, o famoso reality show norte-americano em que várias drag queens disputam entre si a vitória ao longo das temporadas. Com direção artística assinada por Julha Franz, o evento serve pra entreter o público que frequenta uma das noites da casa. Rebeca Rebu, Mona Vipere e Isa Bennett apresentaram, cada uma, dois números no dia 16 de fevereiro, mas só a primeira teve performance realmente meritosa, embora as duas últimas tiveram sucesso com seu carisma. A deliciosa Workroom fica na Rua Lopo Gonçalves, 364, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. 

Mona Vipere, como Alex Owens, também se destacou 
O primeiro número da noite foi de Rebeca Rebu dublando a ótima “Good morning, Baltimore”, música de abertura do musical “Hairspray”, gravada na voz de Nikki Blonsky. Lançado em 2002 na Broadway, o musical conta a história de amor entre uma garota gordinha e o cara mais bonito da escola. Com músicas de Mark Shaiman, letras de Scott Wittman e roteiro de Mark O’Donnell e de Thomas Meehan, a peça foi levada ao cinema com direção de Adam Shankman em 2007. No Brasil, vale lembrar a montagem de 2009 dirigida por Miguel Falabella com Simone Gutierrez no papel principal (tem inteiro no youtube). Rebeca Rebu trouxe, no figurino, algumas referências à protagonista Tracy Turnblad, valorizando a peruca, mas não infelizmente o peso da personagem. O uso de um laquê (em inglês, hairspray) no meio do número foi muito positivo. Com gestos limpos e pronunciando com intensidade todas as palavras da letra, Rebu deu energia à apresentação meritosamente. 

O segundo e melhor quadro da noite também foi interpretado por Rebeca Rebu. Sua versão de Saraghina foi esplêndida. A personagem faz parte do musical “Nine – um musical felliniano”, que estreou na Broadway em 1982 com roteiro de Arthur Kopit e cancões de Maury Yeton, tendo sido indicado a 12 categorias do Tony e levando 5 estatuetas. Em 2009, houve a irrelevante versão de Rob Marshall para cinema e, no Brasil, a peça recebeu uma muito boa versão de Charles Moeller e de Cláudio Botelho em 2015. Myra Ruiz foi quem interpretou Saraghina aqui, brilhando no número “Be italian” (tem no youtube), o mais importante quadro da peça que adapta para musical o filme “8 ½” de Federico Fellini. Rebeca Rebu, com muita segurança, dublou não só a canção como reproduziu excelentemente a célebre coreografia com o pandeiro, que faz a referência ao mundo cigano da personagem. Foi vibrante! 

A noite continuou no terceiro número. Mona Vipere interpretou a boa “Don`t forget me” da fracassadíssima série musical de televisão “Smash”. Composta por Mark Shaiman e por Scott Wittman (a mesma dupla da já referida aqui “Good morning, Baltimore”), a canção apareceu no 15o episódio da primeira temporada, cantada por Katherine McPhee, que interpretava uma atriz dando vida à Marilyn Monroe. Todo o mérito da dublagem de Mona Vipere é do vestido que ela usou na defesa do número: um longo e bem trabalhado gown branco bordado lindamente com pastilhas. Parabéns para o figurinista! 

O pior momento da noite aconteceu no quarto quadro. Isa Bennett interpretou “Spotlight”, utilizando a gravação da série musical de televisão “Glee” na voz de Amber Riley (Mercedes). Originariamente a música não faz parte do universo dos musicais e sua aparição no terceiro episódio da terceira temporada de “Glee” não torna as coisas melhores. Isa Bennett não faz qualquer referência à Mercedes (que, na narrativa, reflete sobre um conselho dado por seu namorado em relação à Rachel Berry) e, assim, perde a oportunidade de manter a proposta do evento. Usando um vestido vermelho, ela - mais preocupada com o cabelo do que com a música - demonstra não saber bem a letra da canção em péssima dublagem. A finalização foi muito ruim também. Foi um número bem dispensável. 

Outro ótimo momento de “Noite de musicais – 16.02” foi a interpretação de “What a felling” por Mona Vipere. Escrita por Giorgio Moroder, Keith Forsey e Irene Cara, a canção aparece na voz de Cara na abertura do filme “Flashdance”, de 1983, dirigido por Adrian Lyne. Em 2008, houve a adaptação para teatro em Londres com Victoria Hamilton-Barritt interpretando Alex Owens, papel que a Jennifer Beals fez no cinema. Vestindo um maiô prateado, uma jaqueta de nylon rosa e uma peruca de cabelos negros crespos, a performer levantou a audiência com muita alegria em uma explosão de gestos e passos. Foi um dos melhores momentos da sessão. 

O último número consistiu na intepretação de “So emotional” por Isa Bennett. A canção, composta por Billy Steinberg e por Tom Kelly, se popularizou na voz de Whitney Houston, gravada em 1987, sem qualquer relação com o universo dos musicais. No 17o episódio da terceira temporada de “Glee”, ela aparece cantada por Lea Michele e Naya Rivera em um número sem muito apelo narrativo. Isa Bennett, vestindo um longo traje completamente negro, explorou positivamente todos os ambientes de Workroom, tentando trazer alguma força para a canção com algum sucesso. Infelizmente, o número não alcançou maiores méritos ainda que tenha servido à intérprete para mostrar à audiência sua habilidade em se movimentar no espaço. 

Falta de concepção 
De um modo geral, “Noite de musicais – 16.02” foi bom, mas infelizmente perdeu ótimas oportunidades para se tornar um ótimo espetáculo. Faltou uma concepção estética melhor amarrada que unisse os seis números em uma só proposta. Com longuíssimos intervalos entre os números, as canções do ínterim também não valorizaram o evento. Ao longo de toda noite, só se ouviram duas canções de musicais além dos números apresentados. Foram elas: “Summer nights”, de “Grease”, e uma de “Rock Horror Picture Show”. Considerando o interesse do público – a casa estava lotada – e o empenho das artistas em apresentar seu melhor, valeria mais apuro em outras edições para que os méritos fiquem ainda maiores. 

*

Ficha técnica:
Direção artística: Julha Franz
Performers: Rebeca Rebu, Mona Vipere e Isa Bennett

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo!