terça-feira, 23 de agosto de 2016

Boa noite, professor (RJ)

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Foto: Guga Melgar


Ricardo Kosovski e Nina Reis
O Tablado faz 65 anos com ótimo texto de suspense

O ótimo “Boa noite, professor”, com texto e direção do crítico Lionel Fischer e de sua filha, a atriz Julia Stockler, marca a retomada do Teatro O Tablado, na comemoração dos 65 anos dessa importantíssima escola, ao horário nobre na grade de programação teatral carioca. Na peça, uma aluna de curso superior vai à casa de um professor querendo convencê-lo a orientar seu trabalho de conclusão sobre psicopatia. Os papéis são brilhantemente interpretados Nina Reis e por Ricardo Kosovski. Vale a pena ver! O espetáculo fica em cartaz até o dia 25 de setembro no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro.

Dramaturgia assinada por Lionel Fischer e por Julia Stockler
Difícil divulgar uma análise crítica desse espetáculo sem antecipar algumas informações que o espectador pode considerar caras durante a fruição. A peça se passa na casa do professor Paulo (Ricardo Kosovski), um apartamento de frente para o mar. Ela começa com a chegada de Verônica (Nina Reis), que vem nervosa com a possibilidade que ela almeja de que o respeitado mestre a oriente em sua monografia de conclusão de curso. A pesquisa dela é sobre a psicopatia.

O diálogo inicial deixa ver que os dois não se conhecem bem e que o professor, com relutância, aceita receber a aluna em sua casa com reservas. Ele está às portas de sua aposentadoria e considera diminuir o ritmo de trabalho nessa fase de sua carreira. Com estranhamento, em um breve momento em que a deixa sozinha em sua sala, ele surpreende a visitante mexendo em fotografias antigas que ele guarda. Aos poucos, a dramaturgia de Fischer e de Stockler revela que há um segredo por trás dos reais motivos no interesse de Verônica por Paulo. Na metade da peça, que dura breves cinquenta minutos, o espectador saberá qual é ele bem como seus meandros.

Verônica traz, entre vários objetos, um diário de alguém próximo a ela. O último texto registrado nele, que nunca foi lido por ninguém além dela, foi escrito logo antes de seu assassinato. O autor faz referências a um professor, cujas ações permitem considerar um pernicioso jogo de poder entre opressor e oprimido. Isso, mas também as outras informações de “Boa noite, professor”, acende o suspense sobre o que une Verônica e Paulo.

Os diálogos, econômicos e fortes, atribuem valores bastante positivos à dramaturgia da peça. Ela só não é melhor porque aparentemente há uma desigual força à ação dramática em relação à natureza dos personagens. Em outras palavras, o melhor de uma história de suspense é a manutenção da sede do espectador em saber como ela termina. “Boa noite, professor”, porque é ótimo, poderia durar bem mais. Várias reviravoltas, apoiadas sobre melhores nuances de Verônica e de Paulo, poderiam garantir um final mais saboroso do que já está.

Excelentes trabalhos de Nina Reis de de Ricardo Kosovski
Nina Reis (Verônica) e Ricardo Kosovski (Paulo), bem dirigidos pela dupla de dramaturgos, apresentam excelentes trabalhos de interpretação. Reis, com uma sedutora articulação de expressões que deixam ver um misto de fragilidade e de força, nutre a presa que depois se torna à algoz e, por fim, pode vir a ser outra coisa. Kosovski, no empenho de marcas sustis e enormemente valorosas à cena – que é vista pelo público quase dentro da sala de seu personagem –, vai em direção oposta com mesmo mérito. A direção de Lionel Fischer e de Julia Stockler, em um roteiro delicado de ações, promove uma situação cheia de complexidade. É a força dessa que, no que diz respeito à encenação, garante a atenção do público sobre trabalho tão qualificado dos atores.

“Boa noite, professor” tem méritos ainda no modo como os demais elementos defendem a proposta. O cenário de José Dias, com poucos recursos, promove tudo o que é necessário para a percepção do todo sem pesar a narrativa habilmente. Com mesma força, o figurino de Ana Carolina Lopes, a trilha sonora de Tato Taborda e a iluminação de Aurélio de Simoni envolvem a cena, oferecendo com o essencial e justo as melhores colaborações de seus materiais. O todo se constitui em panorama fluido que apoia a vontade do público em gastar mais tempo com esses personagens, como já se disse.

Nos seus 65 anos, O Tablado abre nova pauta
“Boa noite, professor”, enfrentando um tema árduo com ações pontuais, faz ver Lionel Fischer e Julia Stockler como uma dupla de dramaturgos que merece atenção. A essa, espera-se que eles respondam com mais trabalhos. A essa valorosa pauta reaberta na oferta de teatro carioca, o público deve dar sonoras boas vindas e um pedido de que não se feche. Parabéns aO Tablado por seus 65 anos!

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FICHA TÉCNICA
Texto e Direção: Lionel Fischer e Julia Stockler
Elenco: Ricardo Kosovski e Nina Reis
Cenário: José Dias
Figurino: Ana Carolina Lopes
Trilha Sonora: Tato Taborda
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção de movimento: Renato Linhares
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Fotos divulgação: Guga Melgar
Produção Executiva: João Sant’Anna
Direção de Produção: Fernando do Val
Realização: Teatro O TABLADO

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