quarta-feira, 20 de julho de 2016

Então... (RJ)

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Foto: divulgação


Beth Berardo, Clara Santhana, Michel Robin e Gabriel Bulcão

A luta da direção de Isaac Bernat em texto sobre a família

Em “Então...”, vê-se um enorme esforço da direção de Isaac Bernat em tornar o texto de Michel Robin interessante. No entanto, os bons movimentos de cena e a estética que valoriza a obra não são o bastante para a montagem sobreviver. A dramaturgia, inspirada na vida do seu autor, se organiza em quadros em que pais e filhos vivem situações diversas, como crescimento, envelhecimento, escolhas das profissões, lembranças do passado, ancestralidade e descendência, por exemplo. A articulação das cenas não consegue, porém, se sustentar apenas pela justaposição. Além de Robin, Beth Berardo, Clara Santhana e Gabriel Bulcão dão vida a Pai, Mãe e a Filhos, com destaque positivo para os trabalhos do primeiro e da terceira. O espetáculo fica em cartaz até 21 de agosto no Teatro do Centro Cultural da Justiça Federal, na Cinelândia, zona central do Rio de Janeiro.

Dramaturgia fechada demais
Há quatro figuras em cena: o Pai (Michel Robin), a Mãe (Beth Berardo), a Filha (Clara Santhana) e o Filho (Gabriel Bulcão). A partir de uma constante troca de nomes próprios que os personagens usam para se referir uns aos outros, que inclusive acontece no interior de cada cena, pode-se perceber que não se tratam dos mesmos personagens na peça inteira apesar de cada posição ser sempre interpretada pelo mesmo ator. Por outro lado, há várias características que, ao se repetirem quadro após quadro, permitem pensar que, sim, são as mesmas pessoas e tudo compõe uma só história ao longo de toda a encenação. Assim, em “Então...”, há dois movimentos concomitantes. No primeiro, um núcleo específico quer ser metáfora para todas as famílias. No segundo, em oposição, várias famílias querem dar a ver possíveis marcas que podem (querer) estruturar a ideia de uma família que seja comum. 

Esse jogo, que teoricamente parece interessante, impede que o espectador se entregue ao espetáculo. Permanece-se negativamente tentando unir pontos, compreender o que está vendo, digerir a proposta. Lá pelas tantas, o cansaço vence e todos os méritos que possam ser encontrados na direção de Isaac Bernat e nos demais elementos que serão citados a seguir não são o suficiente para fazer a fruição retomar o bom convívio com a peça. Ela paira fechada, envolvida em intenções muito particulares e que pouco são acessíveis.

Direção, Cenário e Trilha Sonora: méritos
A direção de Isaac Bernat, assistida por Camila Abrantes, procura oferecer belos quadros estéticos. As cenas se organizam a partir de movimentos criativos que colaboram com a potencialização das relações entre os personagens, dando a ver uma narrativa que, do ponto de vista da teatralidade, é valorizada em relação à dramaturgia. O ritmo, enfrentando os entraves já relatados, é beneficiado pelo interesse que Bernat consegue despertar através dos atores e da equipe técnica.

Beth Berardo (Mãe) e Gabriel Bulcão (Filho) apresentam trabalhos de interpretação rígidos, inexpressivos e com pouca profundidade. Michel Robim (Pai) e Clara Santhana (Filha), na busca por aproveitar oportunidades, conseguem maiores méritos principalmente nos números de dança e canto. Ao lado de um modo mais rico de dizer o texto, em que há a exploração de diversos tons, esses são pontos a seu favor. No todo, não há nenhum grande destaque.

O cenário de Doris Rollemberg e a direção musical de Alfredo Del Penho e de Federico Puppi são, ao lado da direção, os pontos mais altos da montagem. Com elegância e graça, o modo como esses dois elementos abrem espaço para as propostas iniciais do texto corrobora positivamente para os méritos iniciais do trabalho. Eles oferecem um contexto que pode ser geral e específico, oferecendo argumentos para a análise acima descrita. O figurino de Desirée Bastos, cuja proposta veste os personagens em roupas de gala durante toda a peça, não tem justificativas claras. A iluminação de Aurélio de Simoni pouco participa.

Dentre as melhores propostas de “Então...”, talvez esteja a de valorizar o modo como algumas características unem gerações diferentes de uma mesma família para além dos laços de sangue. Isso deve ser valorizado.

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FICHA TÉCNICA
Texto: Michel Robim
Direção: Isaac Bernat
Elenco: Beth Berardo, Clara Santhana, Gabriel Bulcão, Michel Robim
Cenografia: Doris Rollemberg
Figurinos: Desirée Bastos
Iluminação: Aurélio de Simoni
Assistência de Direção: Camila Abrantes
Direção Musical: Alfredo Del Penho e Federico Puppi
Direção de Movimento: Michel Robim
Direção de Produção: Marcia Queiroz
Direção de Vídeo: Hernane Cardoso
Realização: Michel Robim, Isaac Bernat, Marcia Queiroz, Clara Santhana, e Naine Produções Artísticas Ltda

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