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Foto: Linn Jardim
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Eliane Costa |
Eliane Costa em excelente atuação
“Lucrécia” apresenta o ótimo trabalho de interpretação de Eliane Costa, mas quase nada além disso. Escrita por Leandro Baumgratz a partir de ideia original de Alexandre Mello, que dirigiu a montagem, a peça quis oferecer, no teatro, a importância que o som tem nos filmes da cineasta argentina Lucrecia Martel. Um dos motivos de não ter alcançado o objetivo apresentado na divulgação pertence à natureza do teatro, que não é a mesma do cinema, mas há outros. Oscar Saraiva, Guilherme Prates, Paula Loffler, Nina Reis, Rogério Garcia, Jojo Rodrigues e Luana Salazar também estiveram no elenco na temporada do Teatro 1 do Sesc Tijuca que encerrou no último dia 28 de fevereiro.
Barco sem porto
A história narrada em “Lucrécia” não é uma adaptação daquelas contadas nos filmes de Mertel. Em uma casa velha, uma família vive de modo diferente um dia de carnaval. A divulgação apresenta o lugar como Villa Lucrécia, um ficcional palacete em decadência construído no fim do século XIX no bairro Engenho Novo, na zona norte do Rio de Janeiro, onde atualmente mora a quarta geração de moradores. A protagonista Sulamita (Eliane Costa) passa o dia bebendo enquanto às voltas do que acontece com sua prole. Seu marido, o aposentado Soriano (Oscar Saraiva), filosofa no segundo andar. Os filhos Murilo (Guilherme Prates), Miriam (Paula Loffler) e Mirtes (Nina Reis) brincam, descobrem a sexualidade e as questões do mundo adulto. A empregada Clarice (Luana Salazar) procura um meio de resolver seus problemas com o namorado sem desagradar os patrões. A prima Estefânia (Jojo Rodrigues) e seu marido Rodrigo (Rogério Garcia) chegam e acabam se envolvendo com as questões dos anfitriões.
De modo sutil, surge uma questão interessante. Há, no seio dessa família, um elo forte de ligação com sobrenatural. Um dos personagens julga ver Jesus Cristo, outro prevê o futuro. Lá pelas tantas, um fato terrível ocorre e esses dons podem auxiliar no desenrolar dessa situação, que é, de alguma maneira muito sutil, referencial ao contexto narrativo de “A menina santa”, longa de 2004 de Lucrecia Martel. Na peça muito mais do que no filme, esse aspecto submerge em meio às várias outras situações.
Ao final, “Lucrécia” parece ter tentado falar de várias questões sem ter desenvolvido mais profundamente nem uma delas. O conflito de gerações, problemas sociais, sexualidade, poderes sobrenaturais são temas que entram e saem, arrastando a história que avança como um barco sem porto e cuja viagem demora para terminar.
Eliane Costa em excelente atuação
A divulgação de “Lucrécia” apresenta o interesse do diretor Alexandre Mello em investigar meios de reconstruir no teatro a importância do som nos filmes de Lucrecia Martel. A proposta é interessante, mas o problema é que, em cena, não se vê o resultado desse estudo em sua melhor potência. O modo mais privilegiado com que o som aparece no espetáculo perde espaço ao longo da peça para o desenrolar dos fatos. A partir de três microfones instalados no palco (que não são vistos por quem se senta mais à esquerda da plateia), os atores produzem sonoplastia no esforço de materializar o intento do diretor. Na narrativa, porém, isso não encontra lugar e colabora para prejudicar a tarefa do público em discernir sobre o que está vendo.
De um modo geral, os atores têm esforços visíveis na viabilização dos personagens, defendendo bem seus papéis. Oscar Saraiva (Soriano), no mais insólito dos desafios, diz o difícil texto com clareza e demais ótimos resultados. Guilherme Prates (Murilo), Paula Loffler (Miriam) e Nina Reis (Mirtes), com mais e menos possibilidades, aproveitam bem o que têm em mãos. O mesmo se pode dizer de Rogério Garcia (Rodrigo). De todos, mais privilegiada também, Eliane Costa se destaca. O habilidosíssimo uso do tempo pela atriz dá aparência de tensão nos diálogos e nos silêncios, apresentando uma solidez por trás da personagem que qualifica a história como um todo. Um excelente trabalho!
Cinema e Teatro na obra de Christian Metz
“Lucrécia”, na relação entre sua proposta e o modo como ela se encaminhou, faz lembrar sobre a teoria de Christian Metz sobre a maneira como os acordos da plateia com cinema e com o teatro são diferentes. Com luz assinada por Renato Machado, desenho de som por Phillippe Baptiste, figurinos por Nina Reis e cenário pelo diretor Alexandre Mello, a produção vale pela reflexão que provoca e por convidar o público a conhecer o trabalho de Lucrecia Martel dentre outros nobres motivos.
Ficha técnica e artística
Direção, cenografia e ideia original: Alexandre Mello
Texto: Leandro Baumgratz
Produção: Rogerio Garcia & Paula Loffler
Elenco
Eliane Costa é Sulamita
Oscar Saraiva é Soriano
Guilherme Prates é Murilo
Nina Reis é Mirtes
Paula Loffler é Miriam
Rogério Garcia é Rodrigo
Jojo Rodrigues é Estefânia
Luana Salazar é Clarice
Banda sonora e desenho de som: Phillippe Baptiste
Desenho de luz: Renato Machado
Figurinos: Nina Reis
Assistência de figurino: Yanna Bello
Cenotécnico: Marcelo Dertonio
Assistente de produção e direção: Lays Ariozi
Assessoria de imprensa: Gabriela Mota
Programação visual e redes sociais : Paula Sattamini
Fotos: Linn Jardim