sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Retrospectiva teatral 2015: um Rio de Janeiro de muitos espetáculos

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Foto: divulgação


"Kiss me, Kate", "Krum", "Salina"e "Caranguejo Overdrive"foram alguns destaques em 2015

Retrospectiva teatral 2015: um Rio de Janeiro de muitos espetáculos

2015 foi um ano bastante rico para a programação teatral do Rio de Janeiro. Por semana, uma média de noventa produções estiveram em cartaz na cidade entre espetáculos para adultos, para crianças, de dança e apresentações circenses. Um feito! Abaixo um panorama do que de mais relevante estreou para o público adulto. Constam projetos novos e também produções de outros estados que ainda não tinham se apresentado por aqui.


Monólogos. O ano foi repleto de grandes solos que deram destaque às interpretações individuais. Vale o destaque para:

Silvero Pereira em "BR-Trans"
“Perdas e Ganhos”: adaptação livro homônimo de Lya Luft com direção de Beth Goulart, esse belo monólogo trouxe de volta aos palcos a atriz Nicette Bruno.

“Um pai (puzzle)”: em destacável trabalho dirigido por Guilherme Leme Garcia e por Vera Holtz, Ana Beatriz Nogueira interpretou a filha do psicanalista Lacan.

“Eugênia”: primeiro monólogo de Gisela de Castro, a deliciosa comédia foi dirigida por Sidnei Cruz e contava a história de uma amante de Dom João VI.

“O narrador”: o texto original de Diogo Liberano trouxe o próprio, emocionando a plateia a partir de artigo de Walter Benjamin sobre Nikolai Leskov.

“A geladeira”: Márcio Vito esteve em bela atuação no monólogo do argentino Copi (1939-1987), cuja obra foi celebrada em programação especial.

“BR-Trans”: produção gaúcha e cearense sobre transexualidade ganhou elogios de todo o país e enfim se apresentou no Rio. Silvero Pereira em bela atuação.

“Se vivêssemos em um lugar normal”: em ótimo trabalho de interpretação, Roberto Rodrigues adaptou romance homônimo de Juan Pablo Villalobos.

“Pra mim, chega! – Uma história carioca”: Miguel Thiré brilhou em comédia dele e de Carlos Arthur Thiré sobre personagens cotidianos do Rio de Janeiro.

“A voz humana”: célebre monólogo de Jean Cocteau ganhou nobre versão interpretada por Claudia Ohana com direção de José Lavigne.

“Uma Ilíada”: uma das melhores interpretações do ano, Bruce Gomlevsky apresentou excelente versão do épico de Homero.

“Mamãe”: o ator Álamo Facó em tocante monólogo sobre a morte de sua mãe, a arquiteta Marpe Facó Soares Drummond, falecida em 2010.

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Homenagens. A programação de teatro carioca fez muitas homenagens. A seguir, alguns destaques:

Cia. Atores de Laura em "O Pena Carioca"
“S`imbora, o musical – A história de Wilson Simonal”: com Ícaro Silva no papel título, excelente espetáculo homenageou o famoso cantor (1938-2000).

“Eu não dava praquilo”: monólogo de Cássio Scapin de 2013 finalmente veio ao Rio. Texto de Cássio Junqueira homenageou a atriz Myrian Muniz (1931-2004).

“João Cabral”: a Companhia Teatro Íntimo apresentou elogiado espetáculo a partir de textos do pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999).

“Amargo fruto – A vida de Billie Holiday”: musical biográfico com Lilian Valeska homenageou cantora americana (1915-1959). Direção de Ticiana Studart.

“O Pena Carioca”: a Cia. Atores de Laura celebrou os duzentos anos de nascimento de Martins Pena (1815-1848), apresentando três de suas comédias.

“Guerrilheiras ou Para a terra não há desaparecidos”: espetáculo idealizado por Gabriela Carneiro da Cunha trata do desaparecimento de mulheres na Guerrilha do Araguaia nos anos 70. Texto de Grace Passô e direção de Georgette Fadel.

“Por amor ao mundo – um encontro com Hannah Arendt”: escrito por Márcia Zanelatto, a peça era sobre o pensamento da filósofa alemã (1906-1975).

“Ludwig/2”: espetáculo da Artesanal Cia. de Teatro celebra o Rei Ludwig II (1845-1886), da Baviera. Dirigido por Henrique Gonçalves e Gustavo Bicalho.

“A noiva do condutor”: A opereta de Noel Rosa foi motivo para Marcelo Nogueira, Izabella Bicalho e Rodrigo Fagundes, no elenco, homenagearem o compositor.

“Nordestinos”: produzido por Alexandre Lino, peça foi escrita a partir de histórias de nordestinos que vieram morar no Rio. Direção de Tuca Andrada.

“Satã, um show para madame”: monólogo musical dirigido por Édio Nunes e interpretado por Leandro Melo homenageou Madame Satã (1900-1976).

“Andança – Beth Carvalho, o musical”: espetáculo biográfico dirigido por Ernesto Piccolo, celebrou os 50 anos de carreira da Madrinha do Samba.

Em 2015, alguns artistas apresentaram espetáculos celebrando com méritos suas próprias carreiras. Vale lembrar dos belíssimos monólogos “Autobiografia autorizada” e “Passando batom”, em que Paulo Betti e Jane Di Castro emocionaram o público, narrando suas histórias de vida. E também de “Raia 30 – O musical” (foto), em que Cláudia Raia celebrou com pompa e circunstância seus 30 anos de vida profissional.

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Dramaturgias originais: dentre os vários espetáculos que tiveram dramaturgias originais, podemos listar alguns de altíssima qualidade estética. Entre eles, estão:

Elisabeth Monteiro, Gustavo Barros e Tiago d`´Avila em "Antologia do Remorso"
“Bilac vê estrelas”: com trilha sonora original de Nei Costa, o espetáculo partiu do livro de Ruy Castro com personagens como Olavo Bilac e José do Patrocínio.

“Antologia do Remorso”: o texto de Flávia Prosdocimi, organizado em cinco crônicas, foi comparado aos de Nelson Rodrigues devido a sua qualidade.

“Sexo neutro”: trazendo a pauta da transexualidade, o autor e diretor João Cícero teve seu espetáculo em destaque na programação teatral de 2015.

“Pequenos poderes”: essa excelente comédia foi escrita por Diego Molina e apresenta cinco quadros fáceis de relacionar com o momento atual. Ótimo!

“Não nem nada”: muito elogiado em São Paulo, em 2014, o espetáculo com texto de Vinícius Calderoni finalizou temporada no Rio no ano passado com sucesso.

“Caranguejo Overdrive”: muito elogiada em 2015, a peça une Guerra do Paraguai e temas atuais. Direção de Marco André Nunes e texto de Pedro Kosovski.

"War": em nova comédia de Renata Mizhari, três casais de amigos se encontram para jogar uma partida de War e discutir a relação.

“Bolo de carne”: A Cia. em Obra e a Sala Escura Cia de Teatro se encontraram nesse texto escrito por Pedro Emanuel e dirigido por Iuri Kruschewsky.

“Ideia fixa”: dirigido por Henrique Tavares, essa comédia inteligente de Adriana Falcão trata da dificuldade de se libertar de relacionamentos do passado.

Além desses, houve espetáculos que, adaptando outras obras, também tiveram muito sucesso. Em “Para os que estão em casa”, Leonardo Netto apresentou nova versão do filme “Denise está chamando”, de 1996. “Hamlet ou Morte!” (foto), produzido pelo grupo Os Trágicos, ampliou a esquete “Hamlet em 15 minutos”, de Tom Stoppard. No ótimo “Madame Bovary”, Bruno Lara Resende recebeu muitos e merecidos elogios por sua adaptação do romance homônimo de Gustave Flauber. Flávio Marinho, por “Estúpido Cupido”, teve destaque por sua versão para musical a partir da telenovela de Mário Prata.

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Interpretações. A qualidade nas interpretações em espetáculos musicais e não-musicais foi altíssima em 2015. Os prêmios precisarão se ajustar à nova feliz realidade nos anos vindouros.

Renato Carrera, Silvero Pereira, Danilo Grangheia, Rodrigo Bolzam, Bruce Gomlevski, Nicola Lama e Daniel Infantini brilharam ao lado de José Mayer nas melhores interpretações masculinas de 2015

Renato Carrera em “O homossexual ou A dificuldade de se expressar”

Dentre as interpretações masculinas, receberam destaque os trabalhos de Cássio Scapin em “Eu não dava praquilo”, de Matheus Macena em “Caranguejo Overdrive”, de Johnny Massaro em “Cara de Fogo”, de Miguel Thiré em “Pra mim, chega! – Uma história carioca”, de Mathias Wunder e de Yuri Ribeiro em “Hamlet ou Morte!” e de Roberto Rodrigues em “Se vivêssemos em um lugar normal”.

Houve também os elogiados Manoel Madeira em “Ludwig/2”, Renato Carrera em “O homossexual ou A dificuldade de se expressar”, Rogério Fróes em “Família Lyons”, Joaquim Lopes e Tonico Pereira em “Anti-Nelson Rodrigues”, Silvero Pereira em “BR-Trans” e Bernardo Mendes e Leonardo Franco em “Talk Radio”.

Estavam excelentes também Rodrigo Ferrarini, Rainieri Gonzalez e Danilo Grangheia em “Krum”, Joelson Medeiros em “Madame Bovary”, Rodrigo Bolzam (foto) em “projeto brasil”, Paulo Hamilton em “O Pena Carioca”, Bruce Gomlevsky em “Uma Ilíada” e Bruno Autran, Flávio Tolenzani e Daniel Infantini em “The Pillowman – O Homem Travesseiro”. 

Nos musicais, se destacaram Ícaro Silva em “S`imbora”, Nicola Lama (foto) em “Nine, um musical felliniano” e Gracindo Jr., Cláudio Lins e Thelmo Fernandes em “O Beijo no Asfalto”. Gustavo Gasparani brilhou em “SamBRA”e André Dias foi destaque em “Bilac vê estrelas”, mas também em “Ou tudo ou nada” em que também se destacou Cláudio Mendes. O ano de 2015, porém parece ter sido de José Mayer em “Kiss me, Kate! – O beijo da megera”, que também teve ótimas participações de Will Anderson e de Guilherme Logullo.

Letícia Isnard, Carolina Virguez, Laila Garin, Débora Falabella, além de Alessandra Verney e de Renata Sorrah, foram atrizes em trabalhos de destaque em 2015

Carolina Virguez em "Caranguejo Overdrive"

Apresentaram excelentes trabalhos, as atrizes Suzana Faini em “Família Lyons”, Ana Paula Secco em “O Pena Carioca”, Cristina Flores em “Sexo neutro”, Ana Beatriz Nogueira em “Um pai (puzzle)”, Kelzy Ecard em “Por amor ao mundo – um encontro com Hannah Arendt”, Gisela Castro em “Eugênia”, Claudia Ohana em “A voz humana” e Suzana Nascimento e Débora Lamm em “El Pánico”.

No ano passado, na programação de teatro carioca, houve ainda Beth Zalcmann e Thaís Loureiro em “Boa noite, mãe”, Heloísa Jorge em “Race”, Júlia Bernat e Soraya Ravenle em “Cara de Fogo”, Letícia Isnard em “Marco zero”, Paula Cohen em “As lágrimas quentes de amor que só meu secador sabe enxugar”, Verônica Reis em “War”, Mariana Consoli em “Pequenos poderes” e em “Talk Radio” e Débora Falabella em “Mantenha fora do alcance do bebê”.

Renata Gaspar e Mariana Constantino se destacaram em “Não nem nada”, Luísa Arraes, Adassa Martins e Vilma Mello em “Santa Joana dos Matadouros”, Carolina Virguez em “Caranguejo Overdrive” e em “Guerrilheiras ou Para a terra não há desaparecidos” e Grace Passô, Inez Viana e Renata Sorrah (foto) em “Krum”, essa última em um dos melhores trabalhos do ano ao lado de Ariane Hime e de Tatiana Tibúrcio em “Salina (a última vértebra).

Nos musicais, Janaína Azevedo e Laila Garin (foto) brilharam em “O Beijo no Asfalto”, Malu Rodrigues e Totia Meirelles em "Nine", Alice Borges em “Bilac vê estrelas”, Kakau Gomes, Patrícia França e Sylvia Massari em “Ou tudo ou nada”, Ana Berttines em “Andança – Beth Carvalho, o musical”, Fabi Bang e Alessandra Verney em “Kiss me, Kate! – O beijo da megera” e Cláudia Raia em “Raia 30.

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Outros destaques. As trilhas sonoras originais de “Bilac vê estrelas” (músicas de Nei Lopes e direção musical de Luís Felipe de Lima) e de “O Beijo no Asfalto, o musical” (músicas de Cláudio Lins e direção musical de Délia Fischer) foram destaques na programação teatral de 2015 no Rio de Janeiro. A pesquisa de sonoridades e interpretação ao vivo de todos os diversos instrumentos musicais por Fábio Simões Soares em “Salina (a última vértebra) também foi um dos pontos altos nesse quesito. Os direções musicais de Marcelo Alonso Neves em “Amargo fruto – A vida de Billie Holiday” e de Paulo Nogueira em “Nine, um musical felliniano”, assim como a de Marcelo Castro em “Kiss me, Kate! – O beijo da megera” receberam igualmente merecidos elogios.

Cenário de Bia Junqueira para "Santa"

Os figurinos de Carol Lobato para “Kiss me, Kate!”, assim como os de Ana Teixeira e de Stephane Brodt para “Salina” e os de Ticiana Passos para “Krum”, ou os de Lino Villaventura para “Nine” e os de Joana Lima para “El Pánico” fizeram ótimas contribuições para os espetáculos. Vale lembrar ainda os cenários de Fernando Mello da Costa para “O Pena Carioca”, de Bia Junqueira para “Santa” e para “Meu saba”, de Ronald Teixeira para “Perdas e Ganhos” e para “Ideia fixa” e de Aurora dos Campos para “Cara de cavalo”.

"The Pillowman - O homem travesseiro"
De modo ímpar, a articulação entre todos os elementos estéticos deram a ver produções de enorme beleza em 2015. Lista-se, por exemplo: o colorido de “Salina”, dirigido por Ana Teixeira e por Stephane Brodt; e de “Kiss me, Kate!”, por Charles Möeller e por Cláudio Botelho; e o expressionismo em “The Pillowman – O homem travesseiro”, por Bruno Guida e por Dagoberto Feliz.

De largo impacto visual, foram os espetáculos “BR-Trans”, dirigido por Jezebel de Carli; “SamBRA”, por Gustavo Gasparani; “Santa Joana dos Matadouros”, por Marina Vianna e por Diogo Liberano; e principalmente “Krum”, por Márcio Abreu.

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Os melhores espetáculos. Em torno de 200 espetáculos teatrais para público adulto cumpriram primeiras temporadas no Rio de Janeiro ao longo de 2015. Em ordem alfabética, é possível, embora bastante difícil, listar as dez melhores entre essas produções. Vejamos:

"Anti-Nelson Rodrigues"
“Anti-Nelson Rodrigues”: terceira montagem oficial do penúltimo texto do mais célebre dramaturgo brasileiro. Com Joaquim Lopes e Tonico Pereira no elenco.

“BR-Trans”: o ator Silvero Pereira apresenta sua pesquisa sobre o universo dos transexuais no nordeste e no sul do país. Direção de Jezebel de Carli.

"Caranguejo Overdrive": espetáculo da Aquela Cia. de Teatro trata sobre questões essenciais da contemporaneidade no aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro.

"Kiss me, Kate! - O beijo da megera"

“Kiss me, Kate! – O beijo da megera”: musical de Cole Porter dirigido por Charles Möeller e por Cláudio Botelho com Alessandra Verney e José Mayer no elenco.

“Krum”: espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro com texto do israelense Hanoch Levin dirigido por Márcio Abreu com Danilo Grangheia e Renata Sorrah.

“O Beijo no Asfalto, o musical”: versão musical do texto de Nelson Rodrigues dirigido por João Fonseca com Cláudio Lins e Laila Garin no elenco.

“Salina (a última vértebra)”: espetáculo do grupo Amok Teatro dirigido por Ana Teixeira e por Stephane Brodt com texto do francês Laurent Gaudé.

“SamBRA”: dirigido por Gustavo Gasaparni, musical conta a história do samba no aniversário do mais fomoso ritmo musical brasileiro.

"Santa Joana dos Matadouros"
“Santa Joana dos Matadouros”: texto do alemão Bertolt Brecht dirigido por Marina Vianna e por Diogo Liberano com Luisa Arraes no papel título.

“The Pillowman – O homem travesseiro”: produção paulista do texto de Martin MacDonagh dirigida por Bruno Guida com Daniel Infantini e Flávio Tolenzani.

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Em 2016, boa parte das produções do ano anterior voltarão em cartaz no Rio e em outras cidades do país. Se, como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer”, não ir é como respirar sem agradecer por ela. Feliz ano novo! Aplausos!