quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Selfie (RJ)

Mateus Solano e Miguel Thiré
Foto: divulgação

Excelente

“Selfie”, em cartaz no Teatro Miguel Falabella, no Méier, é excelente em todos os sentidos. Brilhantemente interpretada por Mateus Solano e por Miguel Thiré, a peça tem valorosa dramaturgia assinada por Daniela OCampo e direção coberta de méritos por Marcos Caruso. Vale a pena assistir ao espetáculo e refletir sobre o tema proposto com tanta sobriedade e inteligência.

Na história, Claudio trabalha conectado com várias pessoas quando decide abandonar todas as redes sociais virtuais estabelecidas e focar-se em uma só criada e mantida por ele cujo nome é MyClaudio (em referência ao ICloud, tecnologia da Apple em que os dados armazenados podem ser compartilhados por vários dispositivos via wi-fi). O problema é que a inicialização do novo sistema não acontece como deveria e Claudio perde tudo o que tinha acumulado em mídia digital em sua vida: fotos, documentos, todos os e-mails, tudo. Desesperado, procura pela mãe e pela namorada em busca de cópias enquanto tenta em vão recuperar as informações perdidas através do conserto da rede planejada. Para nunca mais passar por esse percalço, sua mente brilhante cria então um chip capaz de ser instalado dentro de sua própria cabeça, fazendo com que ela consiga se conectar à internet em alta velocidade. Nasce, assim, o “Connected Man”, a versão super informada (e informatizada) de Cláudio. Escrito por Daniela OCampo, o texto apresenta o protagonista e os demais personagens através de situações-problema dispostas em uma ordem crescente, virtuosamente organizadas em direção ao ápice como nos melhores e mais clássicos roteiros do cinema americano. O resultado é que o público facilmente se identifica com o enredo e frui a história com interesse. Excelente.

Se, no âmbito da dramaturgia, “Selfie” fala sobre o modo como a tecnologia pode distanciar o homem de si próprio, a encenação de Marcos Caruso age centrando a narrativa no homem e no que ele pode oferecer para o teatro. Não há projeções, não há cenário e o figurino não se modifica ao longo da peça. Com a ajuda do desenho de iluminação de Felipe Lourenço e com a direção musical e a trilha sonora original de Lincoln Vargas, toda a história é contada por Mateus Solano e Miguel Thiré na excelência de seus trabalhos corporais. Os gestos são limpíssimos, precisos na expressão dos detalhes. O olhar e o tom de voz são claros, hábeis em construir os diversos níveis de cada ponto da narrativa. Na meritosa de direção de Caruso, os movimentos criam a poética de cada cena, sem perder-se no desafio alcançado de unir momentos cômicos, reflexões mais profundas e beleza estética.

De um lado as agruras de um herói que atravessa momentos difíceis, o sucesso e a derrocada. De outro, a graça e a agilidade essencial na apresentação de diversos tipos: a mãe, o amigo, a namorada, o velho e a criança, entre outros. Mateus Solano e Miguel Thiré, que já estiveram juntos em um projeto não menos cheio de valor - a peça “Dois para viagem”, em 2008 - dão a ver trabalhos de interpretação de primeira grandeza. Com o corpo e a voz alinhados na articulação da dramaturgia, ambos atravessam o espaço e o tempo da encenação com pontualidade, segurança, carisma e muita graça.

Idealizado por Solano, Thiré e Carlos Grun, “Selfie” começa com uma cena em que dois macacos estão em uma jaula no zoológico. Um deles rouba a câmera fotográfica de um visitante e faz uma selfie (um autorretrato), gerando uma polêmica sobre quem detém os direitos de imagem da fotografia: o dono da câmera ou o macaco? Mantendo-se longe de qualquer moralismo que possa apresentar regras de comportamento em relação ao uso da internet, distante de uma possível superficialidade na ideia de que “antigamente era melhor”, o espetáculo “Selfie” questiona os problemas da contemporaneidade sem encerrar qualquer discussão. Nisso, celebra o tema complexo cada vez mais essencial nas relações de hoje em dia. Por tudo isso, mas também pela forma como o teatro se apresenta em sua máxima potência, essa produção merece o sucesso que tem feito e que ainda há de aumentar.

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FICHA TÉCNICA
Idealização: Carlos Grun, Mateus Solano e Miguel Thiré
Texto: Daniela Ocampo
Direção: Marcos Caruso

Elenco e personagens:
Mateus Solano: Claudio
Miguel Thiré: Paulista, o amigo técnico / Solange, a mãe / Amanda, a namorada / Álamo, o amigo maconheiro / o Empresário / Suzana Souza, a apresentadora de TV / o Barman / a Mulher do Bar / o Deputado / o Menino / Inocêncio, o velho (personagens por ordem de entrada em cena)

Figurinos: Sol Azulay
Desenho de Luz: Felipe Lourenço
Direção Musical e Trilha Sonora: Lincoln Vargas
Preparação Corporal: Arlindo Teixeira
Fotos: Sergio Baia
Design Gráfico: Raquel Alvarenga
Produção: Carlos Grun - Bem Legal Produções
Assessoria de imprensa: João Pontes e Stella Stephany - JSPontes Comunicação

3 comentários:

  1. Simplesmente excelente!! Indico cm ctz!

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  2. Naõ,entendi o porque Mateus Solano naõ atende as pessoas apos a peça.A peça é muito boa,porém um pouco cansativa.

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  3. Horrível, porcaria de peça

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