terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Perdas e Ganhos (RJ)

Foto: divulgação

Nicette Bruno em cena

Abraço à família Bruno Goulart

O maior mérito de “Perdas e Ganhos” é o modo como a direção de Beth Goulart constrói o espetáculo, tirando bom proveito do que se sabe da atriz Nicette Bruno fora dos palcos. A carreira brilhante, a constituição da família e a recente viuvez pelo falecimento de Paulo Goulart (1933-2014), seu marido por mais de cinquenta anos, são fatos públicos da vida pessoal de dona Nicette dos quais o espectador não consegue se desvencilhar ao longo da apresentação do texto em que se adapta o livro homônimo de Lya Luft. O efeito é positivo porque o sentido da dramaturgia se estabelece com mais força. Em cartaz no Teatro Leblon, o espetáculo tem ainda belíssimo cenário de Ronald Teixeira e trilha sonora de Alfredo Sertã.

Lançado em 2003, o livro “Perdas e Ganhos” é uma reflexão da escritora gaúcha Lya Luft sobre o desafio do envelhecimento da mulher e vários temas nesse entorno. Adaptado por Beth Goulart, o texto é dito em primeira pessoa em momentos preenchidos por grande serenidade, viabilizando bem mensagens que visam ajudar o homem a atravessar melhor o caminho de sua existência. A dramaturgia é ainda intercalada por três cenas ficcionais, em que se revelam personagens do livro de contos “O silêncio dos amantes”, também de Luft. Publicado em 2008, a obra reúne vinte histórias em que a dor surge como elemento que dá consistência para as relações. Nesses momentos, Nicette interpreta a mãe que perde o filho (do conto “A pedra da Bruxa”), a dona de casa submissa que se descobre sexualmente e a mulher traída que dá a volta por cima (“O silêncio dos amantes”).

Ao contrário do que acontece normalmente, em “Perdas e Ganhos”, a peça começa no aviso de desligar os celulares. A voz de Paulo Goulart, que avisa que o espetáculo é um “encontro de família”, é saudada pelo público com um aplauso ao ator recentemente falecido. Em seguida, vinda de dentro do cenário luminoso de Ronald Teixeira, entra Nicette Bruno em seu primeiro monólogo. A conexão entre a intérprete e as personagens é plena, com a primeira valorizando bastante o texto de Lya Luft. Não se pode deixar de observar a potente sintetização de elementos de dentro e de fora da cena que acontece nesse espetáculo, tornando o momento da audiência em um segundo particular além de especialmente único.

De Alfredo Sertã, a trilha sonora, da qual fazem parte três canções compostas por Nicette Bruno, acerta ao fugir do melodrama, atravessando a pantanosa estética da autoajuda em direção a algo cuja complexidade faça melhor para a arte. No mesmo sentido, o cenário potente de Ronald Teixeira, em sua economia, registra a beleza das palavras do texto no tom dado pela direção e pela atriz. Como sempre, deve-se fazer positiva menção às projeções de Renato e de Rico Vilarouca e ao desenho de luz de Maneco Quinderé. Ocupando um quarto de tempo da encenação, a apresentação do curta-metragem “O anjo” sobra.

“Perdas e Ganhos” trata da capacidade do homem em carregar seu passado, da importância de aprender a se desfazer de lembranças para se adquirir novas vivências e avançar. O espetáculo fala ainda sobre a beleza da família e é uma celebração à força que se deseja àqueles que perderam seus entes queridos. Sobretudo, é uma oportunidade de aplauso à família Bruno Goulart. 

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FICHA TÉCNICA
Texto: Lya Luft
Adaptação e Direção: Beth Goulart
Assistente de Direção: Ana Paula Bouzas
Interpretação: Nicette Bruno
Cenário: Ronald Teixeira
Iluminação: Maneco Quinderé
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Trilha Sonora: Alfredo Sertã
Programação Visual: Studio C - Carol Vasconcellos
Assessoria de Imprensa Nacional: Pierina Morais Comunicação
Fotografia Programa: Nana Moraes
Direção e Realização das Peças Audiovisuais: Rodrigo Benatti e Raquel Couto
Coordenação Geral de Produção / Supervisão: Pierina Ferreira de Morais
Direção de Produção: Amora Xavier
Produção Executiva: Manoela Reis

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