domingo, 25 de janeiro de 2015

Cachorro-Quente (RJ)

Foto: divulgação

Sacha Bali, Olívia Torres, Rosanna Viegas e Renato Livera (em cena)


O engraçado reencontro entre João Fonseca e Sacha Bali

Livremente inspirada na obra do escritor norte-americano Chuck Palahniuk, “Cachorro-Quente” é uma comédia muito bem escrita e protagonizada por Sacha Bali. Dirigida por João Fonseca, a peça está em cartaz no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro. No elenco em ótimos trabalhos, estão também Laila Zaid (no lugar de Letícia Lima), Renato Góes (substituindo Renato Livera), Rosanna Viegas, Olívia Torres e Pedro Henrique Monteiro. A produção é uma ótima sugestão de bom divertimento.

Luca Mastroianni (Sacha Bali) ganha a vida aplicando golpes em restaurantes caros. Durante a refeição, ele se engasga com a comida, esperando ser salvo por algum cliente rico que, sentindo-se herói, passe a lhe ajudar financeiramente. A tramoia quase sempre funciona de forma que Luca garante o tratamento de sua mãe que está internada em uma clínica para contornar os males do Alzheimer. Antes que ela piore, Luca precisa descobrir detalhes de sua origem. No hospital, ele conhece uma Doutora (Laila Zaid) que pode ajuda-lo também em outra questão: sexo. Luca, que participa de reuniões de terapia em grupo para se curar, é viciado em sexo e reage com estranheza a sua incapacidade de transar com a médica de sua mãe. Estaria ele, enfim, apaixonado? Ao longo da peça, por caminhos inusitados, o protagonista descobre ser descendente direto de um grande personagem da história universal, fato esse que poderá mudar definitivamente sua vida. Cheia de personagens malucos e de situações engraçadas, e contada de uma forma ágil e vibrante, a narrativa acontece de forma exuberante, oferecendo ao Rio de Janeiro um vaudeville moderno, sarcástico e bastante bom.

A direção de João Fonseca em “Cachorro Quente” talvez revele uma volta do encenador ao estilo de produções como “O Casamento” e “Escravas do Amor” da saudosa Cia. Fodidos Privilegiados. As cenas são curtas em uma narrativa em tom farsesco, quase não há uso de elementos cênicos, os atores se sucedem na apresentação de vários personagens, o ápice é bem preparado e não decepciona. Além disso, o diálogo com o público é próximo de modo que o espectador se sente ao lado de Luca, torcendo por ele, acompanhando-o em suas aventuras e mal passos. Eis aqui alguns méritos da direção.

Em ótimo trabalho de interpretação, Sacha Bali dá vida a um malandro carismático que esconde a poética do sofredor que também tem direito ao seu lugar ao sol. Luca protagoniza a história, permitindo que a audiência se divirta com seus percalços docemente. O elenco conta ainda com ótimas composições de Pedro Henrique Monteiro (a Mediadora do Grupo de Terapia), de Renato Góes (o melhor amigo de Luca), de Rosanna Viegas (a Mãe), de Laila Zaid (a Médica) e principalmente de Olívia Torres (as amantes de Luca). O conjunto representa o emaranhado de figuras esquisitas que atravessam o mundo de Luca com o qual a plateia se identifica e se diverte.

O figurino situa bem os personagens, apresentando as figuras dentro do pulp fiction em que a peça esteticamente se dá a ver. O mesmo não se pode dizer do cenário. As caixas de papelão, ainda que usadas de forma neutra pela direção, não são objetos de todo desprovidos de personalidade, não conseguindo também representar as pedras usadas para a construção de um templo nas cenas finais. Negativamente, ficam no meio do caminho. Tanto o figurino como o cenário são assinados por Nello Marrese. Tem destaque positivo o desenho de luz de Luiz Paulo Nenem, ratificando as intenções direção e das interpretações em garantir ritmo veloz em narrativa clara.

Sucedendo “Pão com Mortadela” na parceria entre João Fonseca e Sacha Bali, “Cachorro-Quente” merece ser visto. 

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Ficha técnica:
Direção: João Fonseca
Dramaturgia: João Fonseca e Sacha Bali livremente inspirados na obra de Chuck Palahniuk
Elenco: Sacha Bali, Laila Zaid, Olivia Torres, Pedro Henrique Monteiro, Renato Góes e Rosanna Viegas
Assistentes de Direção: Lucas Massano e Philipe Carneiro
Iluminador: Luiz Paulo Nenem
Cenografia e Figurino: Nello Marrese
Assistente de cenografia: Lorena Lima
Assistente de figurino: Gustavo Henrique
Direção de movimento: Rafaela Amado
Direção de Produção: Miçairi Guimarães
Produção Executiva: Cristiana Miranda
Assistente de Produção: Inessa Azevedo
Técnico de luz: Roberto Macedo
Técnico de som e Contrarregra: Tallys Moreno

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