segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Rei Lear (RJ)

Foto: divulgação

Versão simplificada de Rei Lear
Essa montagem de “Rei Lear” não modifica a opinião que já se tinha acerca da magnitude de William Shakespeare como autor nem de Juca de Oliveira como ator, mas infelizmente é uma desvalorosa produção do clássico original. Trata-se de um resumo adocicado e infantil da história escrita entre 1604 e 1606 pelo dramaturgo inglês cujo aniversário de 450 anos o mundo todo tem comemorado nesse ano. Dirigido por Elias Andreato, o monólogo tem adaptação assinada por Geraldo Carneiro e está em cartaz no Teatro dos Quatro no Shopping da Gávea, na zona sul do Rio de Janeiro.

Ao contrário dessa adaptação, “Rei Lear” não é sobre o ego, mas sobre a velhice, a fase da vida a que todos os que nascem estão, a princípio, condenados a viver. Enquanto, nessa versão, um rei mimado resolve dividir o seu reino em três partes para gozar dos privilégios de Rei sem ter que sofrer as responsabilidades da coroa, no original de William Shakespeare (1564-1616), um homem, que é também um país, trava a maior batalha de sua vida justamente na sua fase mais difícil. A cena inicial é simbólica: o nobre Gloucester apresenta seu filho bastardo Edmund para o nobre Kent. Desde o início, a relação entre pais e filhos e as pequenas e as grandes ambições que envolvem os laços familiares quanto às heranças dominam as cenas em várias instâncias. Inicialmente unidas, as irmãs Goneril e Regan brigarão pelo coração de Edmund, esse, por sua vez, que entrará em franca batalha com seu irmão Edgar, filho legítimo de Gloucester. Vale lembrar que a Inglaterra elisabetana (a Rainha Elizabeth havia falecido um ano antes de Shakespeare começar a escrever a história) estava repleta de filhos bastardos tanto de nobres como de homens comuns. Além disso, a velhice de Lear também simbolizava a velhice do longo reinado de Elizabeth (que durou 45 anos) que foi substituída por Jaime IV, mais idoso que a prima, que então já era Rei da Escócia havia 36 anos. Por fim, a cena final em que Lear vê Cordélia, sua filha mais amada, ser enforcada e morre tentando fazê-la reviver é muito mais forte que o desfecho superficial dessa montagem em que Lear e Cordélia terminam passeando de mãos dadas pelos campos da Bretanha. 

Elogiar Juca de Oliveira é variar no comum. Como sempre, ele diz o texto muito bem, suas pausas são nobres, suas intenções bem articuladas. Essa produção, dirigida por Andreato e assistida por André Acioli, não trouxe afinal grandes desafios a Juca de Oliveira também porque, por mais empobrecida que a história tenha ficado, sobrou-lhe um resquício de uma trama que ainda é forte e que há de agradar quem não sabe qualquer coisa sobre “Rei Lear”, ou sobre Shakespeare. Dentre todos, o desenho de luz de Wagner Freire é o elemento mais bem usado na produção que conta também com uma boa direção musical de Daniel Maia.

Abrindo a peça, a título de prólogo, a fala de “Hamlet” do terceiro ato dá instruções aos atores acerca de como eles devem atuar. Nessa montagem de “Rei Lear”, em momento algum, esquece-se que Juca de Oliveira é quem apresentando um monólogo como esse com as várias dificuldades que o enredo impõe apesar dos seus 79 anos. O desafio técnico acaba, por fim, sendo mais importante que a história em si. O homenageador aparece sendo mais importante que o homenageado, mas, pelo menos, trata-se de um grande homem de teatro como Juca de Oliveira. Ele merece.

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FICHA TÉCNICA
Texto: William Shakespeare
Tradução e Adaptação: Geraldo Carneiro
Elenco: Juca de Oliveira
Direção: Elias Andreato
Assistente de Direção: André Acioli
Figurino e Cenário: Fabio Namatame
Iluminação: Wagner Freire
Preparação Corporal: Melissa Vettore
Trilha Sonora: Daniel Maia
Fotografia: João Caldas
Logo: Elifas Andreato
Programação Visual: Vicka Suarez
Patrocínio: Itaú
Gestão de Patrocínios: AT Cultural
Administração / Lei Rouanet: Sodila Projetos Culturais
Produção Rio: Gávea Filmes – Bianca de Felippes
Produção Executiva RJ: Gabriel Bortolini
Direção de Produção: Keila Mégda Blascke
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

2 comentários:

  1. Uau! Sua resenha está maravilhosa! Adorei o Juca de Oliveira mas senti falta das disputas Shakedpereanas😊

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  2. Uau! Sua resenha está maravilhosa! Adorei o Juca de Oliveira mas senti falta das disputas Shakespereanas😊

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