segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar e a Senhora Rosa (RJ)

Tadeu Aguiar dirige a primeira montagem
do texto no Brasil
Foto: divulgação

Valorosa produção marca dos 55 anos de carreira de Miriam Mehler

“Oscar e a Senhora Rosa” é para gente forte. O espetáculo, cuja produção comemora os 55 anos de carreira da atriz Miriam Mehler, tem como protagonista um menino, paciente terminal de câncer, que mora em um hospital. Ao contrário do peso que possa parecer, mas sem negá-lo, a peça trata do que há de melhor no ser humano, independente da idade, do sexo, da região onde mora ou nasceu, da época em que vive ou viveu: a sua vontade de deixar uma marca e, através dela, permanecer nesse mundo maravilhoso além de sua morte. Com esse olhar, descobre-se que “Oscar e a Senhora Rosa” não fala nem de câncer, nem de morte, nem de hospital, nem de enfermeiras, tampouco de Deus. O assunto, na forma de pergunta, é como cada um de nós está vivendo o seu dia? Como apenas um dia ou como dez anos em vinte e quatro horas? 

Escrito pelo dramaturgo francês Eric-Emmanuel Schmitt no início dos anos 2000, o texto de “Oscar e a Senhora Rosa” já recebeu montagens pelo mundo inteiro, situando-se próximo dos sucessos “O visitante”, “Variações Enigmáticas” e “Parceiros no crime”, outros grandes trabalhos do mesmo autor. Aos dez anos, Oscar está internado em um hospital e, como outros pacientes, recebe a visita de voluntários que vêm trazer mais cor para a vida de quem pode estar no limiar da morte. Por estar vestida de rosa, Oscar passa a chamar uma das voluntárias, uma velha senhora, de Vovó Rosa. Um dia ela sugere ao garoto que passe a escrever cartas a Deus para não se sentir sozinho. Schmitt aí corajosamente enfrenta o desafio de colocar a sua peça num lugar que já é comum. “O diário de Anne Frank”, “A cor púrpura”, “Às terças com Morrie”, para citar apenas três, são todos livros em que os personagens se comunicam com o desconhecido sobre a sua vida e o seu destino. Aparece aí o único problema da dramaturgia: sabe-se, logo de início, que serão dez dias, dez cartas. Quando estamos, assim, no terceiro, sabemos que faltam sete. E essa contagem prejudica a fruição, porque, além de fazer prever como a peça vai terminar, promove uma curva descendente até o fim. Schmitt, felizmente, é um renomado bom narrador e recheia o texto de pérolas que promovem a reflexão, a catarse e, envolto à emoção, o bom entretenimento. 

Miriam Mehler interpreta os dois personagens: o garoto Oscar e a Vovó Rosa. Como se não bastasse, faz ver também outras tantas pessoas que povoam esse universo: o médico, os enfermeiros, outros pacientes, os pais de Oscar. A atriz apresenta construções de forma bastante ágil, o texto é dito claramente e bem posto. O desenho de marcação, que evidencia uma direção bastante firme de Tadeu Aguiar, surge, marcando o ritmo e erigindo a narração solidamente no cenário extremamente valoroso de Edward Monteiro. Ao mesmo tempo em que é quarto, o espaço é a casa da Senhora Rosa, ou a casa de Deus que, quem sabe, lê as cartas de Oscar. Cheio de detalhes bem articulados, a iluminação de Rogério Wiltgen, a trilha sonora original de Liliane Secco, o figurino da Espetacular!, ao lado de Monteiro e da interpretação de Mehler, dosam equilibradamente o realismo necessário para a cartarse e a poesia essencial para a emoção. 

O ser humano é um intervalo entre um antes e um depois. Se o pouco antes é fácil de descobrir o muito, assim com o depois, permanecem desconhecidos. O avanço da ciência e a exploração do uso dos meios de comunicação tornam esse não-sabido diferente ou, quem sabe, um pouco menor. No entanto, aquilo que o homem não sabe sobre si próprio ainda está lá e, desde sempre, recebe o nome de Deus. Dar sentido para a própria existência é uma forma, entre tantas, de se falar com esse Deus. “Oscar e a Senhora Rosa”, por tratar desse contexto tão humano e de forma tão cheia de bons valores, merece positivos aplausos e vida longa. Evoé! 

*

Ficha técnica:
Texto: Eric-Emmanuel Schimitt
Elenco: Miriam Mehler
Direção, tradução e adaptação: Tadeu Aguiar
Diretora Assistente: Flávia Rinaldi
Trilha Sonora Original: Liliane Secco
Cenário: Edward Monteiro
Figurino: Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faedo – Espetacular! Produções & Artes
Iluminação: Rogério Witgen
Projeto Gráfico: Cláudia Xavier
Diretor de Cena: Marcelo Valentim
Operador de Luz: Ricardo Alexandria
Operador de Som: Raphael Allonso
Produção Executiva: Roberta Abreu
Coordenação de Produção: Norma Thiré
Idealização e Produção Geral: Eduardo Bakr e Tadeu Aguiar

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