segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ary Barroso (RJ)

Diogo Vilela, Tânia Alves, Ana Baird e Reynaldo Machado
brilham em produção boa, mas sem gradiosidade
Foto: divulgação

Morno

            “Ary Barroso – Do Princípio ao Fim” é um bom espetáculo, mas é morno. Nele falta a pitada de stravaganza, um dos cinco gêneros que geraram a comédia musical americana, como desde 1927 se conhece, que daria ao todo uma razão para o aplauso em pé. Por stravaganza, chamam-se aquelas produções grandiosas, sem história nem, às vezes, um tema, mas com cenários grandes e figurinos majestosos que enchiam o olhar do público, sobretudo quando dirigidas por Florence Ziegfield. Com direção de Diogo Vilela, que interpreta o protagonista, e supervisão artística de Amir Haddad, o espetáculo é muito pequeno para o palco grandioso do Teatro Carlos Gomes e o texto, também de Vilela, um tanto quanto fraco para o compositor brasileiro do hino “Aquarela do Brasil”. Não há dúvidas de que o espectador irá assistir a belas interpretações, tanto teatrais como musicais, e ouvir um repertório escolhido de forma positivamente especial, mas é bem provável que não sairá do teatro com aquele “gostinho de quero mais” tão bom de se sentir quando grandes espetáculos terminam. 

No último dia de sua vida, Ary Barroso (1903-1964) recebe a visita de membros da Escola de Samba Império Serrano que, naquele ano, estava homenageando o compositor mineiro. É quando os sambistas pedem a ele, que está em uma cama no hospital, que conte alguns trechos de sua vida, satisfaçam dúvidas acerca da relação entre ele e Carmen Miranda, sobre como foi composta a canção “Aquarela do Brasil” e outros segredos. O roteiro se organiza, então, assim, nessa simplicidade rasa, em que as lembranças de Ary Barroso ganham vida e se apresentam no palco diante do público sem grandes novidades. A ordem dos acontecimentos, positivamente, é não linear, de forma que o segundo ato oferece um pouco mais para ver do que o primeiro. Habilmente, as cenas são rápidas e a história, dentro do proposto, é bem contada de forma que o ritmo flui a contento. 

Diogo Vilela apresenta um excelente trabalho de interpretação. Figura conhecida do teatro e da televisão, com larga e profícua experiência, o ator faz o público se esquecer de que está em um teatro pela forma coesa e coerente com que articula a voz, os movimentos, as entonações, os direcionamentos, as intenções. É sempre o sexagenário Ary quem revive trechos de sua vida, o que, embora possa oferecer poucos desafios ao ator, traz mais dificuldades em manter a construção. Vilela o faz com emoção, carisma e, sem dúvida, talento e técnica. Brilham no elenco ainda Ana Baird (Linda Batista) e Reynaldo Machado (Boneca de Pixe), ambos com excelentes vozes e trabalhos de interpretação, dando vivacidade e força com presenças cênicas sólidas e bem medidas. Mariana Baltar apresenta uma fraca Carmen Miranda em um número musical cujo coro chama mais a atenção do que os balangandans. Marcos Sacramento protagoniza cenas de forma igualmente apagada. Tânia Alves, com excelente participação, não tem o espaço merecido, mas marca a sua presença de forma definitiva e exuberante. 

O figurino de Pedro Sayad é simplório porque meramente ilustra os personagens, sem oferecer ao espetáculo a grandiosidade de que ele precisa. O cenário de Beli Araújo se apresenta esteticamente pobre, porque perde oportunidades de ser criativo, apesar dos poucos recursos. Os painéis são gastos e mal postos, aproximando a produção de outras menos profissionais. O desenho de luz de Jorginho de Carvalho é bastante óbvio e a coreografia de Carlos Leça é sem destaque. Apesar de tudo isso, e incluindo as boas interpretações de que já se tratou, a peça, com direção musical de Josimar Carneiro, apresenta um belo desenho de som (Andréa Zeni), com repertório louvável e bem interpretado que exalta a música brasileira e, apenas por isso, merece já os mais calorosos aplausos. "Ary Barroso – Do Princípio ao Fim” não deixa de ser um bom programa para quem gosta de conhecer a história da música brasileira.

*
Ficha Técnica:
Texto e Direção: Diogo Vilela
Supervisão Artística: Amir Haddad
Direção Musical e Arranjos: Josimar Carneiro

Elenco:
Diogo Vilela
e
Ana Baird, Alan Rocha, Esdras De Lucia, Mariana Baltar, Reynaldo Machado e Marcos Sacramento
Participação Especial: Tânia Alves

Músicos:
Saxofones / Flauta Henrique Band, Violão / Guitarra Josimar Carneiro,
Piano / Acordeon Antônio Guerra, Contrabaixo Marcelo Müller
Bateria / Percussão André Boxexa

Iluminação: Jorginho de Carvalho
Cenário: Beli Araújo,
Figurinos: Pedro Sayad
Preparação vocal: Janaína Azevedo,
Preparação Corporal: Carlos Leça
Direção de Produção: Marília Milanez
Realização Ministério da Cultura, Nitiren Produções Artísticas e Bardo Produções Artísticas Ltda.

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