quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Fazendo História (RJ)

Foto: divulgação 
André Arteche e Hugo Kerth em cena


Espetáculo tocante!

“Fazendo História” é um dos espetáculos mais tocantes do ano. O texto do britânico Alan Bennett, vencedor dos prêmios Laurence Olivier e Tony, foi escrito há dez anos, mas já surge parecendo clássico. A produção marca a estreia de Glaucia Rodrigues na direção, trazendo Xando Graça, Mouhamed Harfouch, Nedira Campos, Edmundo Lippi, Hugo Kerth, Rafael Canedo, André Arteche, Renato Góes entre outros no elenco. Em cartaz no teatro Eva Herz, na Cinelândia, eis aqui um espetáculo emocionante.

O texto de Alan Bennett tem muitos méritos. Na peça, uma escola sofre com o mal desempenho dos alunos nos exames de ingresso em universidades importantes da Inglaterra. Para tentar solucionar o problema, o Diretor (Edmundo Lippi) contrata o professor Irwin (Mouhamed Harfouch), almejando oferecer uma formação mais qualificada. Para tanto, o professor Hector (Xando Graça) precisará abrir mão de parte de sua carga horária, diminuindo as aulas de Cultura Geral em que os alunos adquirem repertório artístico. Com claras relações a “O Despertar da Primavera” (Frank Wedekind), “Os meninos da Rua Paulo” (Férenc Mólnar) e a “Sociedade dos Poetas Mortos” (Tom Schulman e Peter Weir), a dramaturgia apresenta bipartições, mas avança potentemente por sobre elas. Em um primeiro momento, a polarização entre Hector e Irwin é ultrapassada porque a distância entre os dois se mostra tão relevante quanto sua proximidade. Depois, o contraponto dos alunos mais bem resolvidos versus o jovem esportista e com mais dificuldades intelectuais, em que a trama flerta com o roteiro tradicional, também dá vistas a uma história mais complexa em que se pontuam a corrupção dos processos seletivos e o advento de uma juventude com menos preconceitos e mais decidida a aceitar as diferenças. Situada nos anos 80, “Fazendo História” é uma homenagem à inteligência humana, às conquistas sociais, ao convívio entre a cultura pop e a erudita e às amizades feitas nos bancos escolares e que podem durar para sempre. E principalmente é uma reverência à escola, à educação, aos professores e aos seus alunos de todos os tempos e lugares.

A encenação de Glaucia Rodrigues é excelente por dois motivos: primeiro porque abre mão de refletir qualquer pretensão, apresentando o texto de forma sólida, bem cuidada e em toda a sua delicadeza. Segundo porque todos os doze atores estão em ótimos trabalhos de interpretação, sem desníveis, mas com muitos méritos. Ao longo do avanço do tempo e da multiplicidade dos espaços desenhados no palco quase nu, o espetáculo se veste de vários tons enfrentando desafios, vencendo obstáculos, construindo ideias e emocionando. É um trabalho lindo.

No que se refere às interpretações, “Fazendo História” é uma ótima oportunidade para encontrar Xando Graça em um dos seus melhores trabalhos. A viabilização do personagem afetado e presunçoso Hector, que Graça possibilita, explica o carisma do professor entre os alunos, apesar de seu comportamento politicamente incorreto, esse uma figura viva, complexa e bastante interessante. No grupo dos alunos, têm destaque Hugo Kerth (um dos protagonistas do musical “The book of Mórmon”) e André Arteche (protagonista do filme “Houve uma vez dois verões”), principalmente pelos números de canto e de piano respectivamente (as canções "Millord" e "Bewitched" fazem parte do espetáculo), além dos qualificados trabalhos de interpretação de ambos. Além destes, Renato Góes (Dakin) apresenta com leveza o aluno sedutor. O elenco conta ainda com Rafael Canedo (Timms), Helder Agostini (Lockwood), Yuri Ribeiro (Rudge), Guilherme Ferraz (Akhar) e com Ricardo Knupp (Crowther) como alunos, e com Nedira Campos como a professora Dorothy, todos esses, como já se disse, em bons trabalhos.

Sem cenário, a peça oferece um belíssimo conjunto de figurinos concebidos por Dani Vidal e por Ney Madeira (Espetacular Produções e Artes) e com pontual desenho de iluminação de Rogério Witgen. Os dois quesitos participam com galhardia da construção dos méritos dessa montagem.

O mundo em que nunca se viu tamanha facilidade de acesso à informação parece ser identificado como também aquele em que menos se sabe. Valorizando o acúmulo de experiências de toda ordem e o uso inteligente desse saber, “Fazendo História” não dispensa o prazer sexual, o carinho entre amigos e o respeito a todos aqueles que nos ensinaram e que aprenderam conosco. Por tudo isso, esse aqui é um espetáculo essencial.

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FICHA TÉCNICA:
Tradução e adaptação – José Henrique Moreira
Direção - Gláucia Rodrigues
Cenário- José Dias
Figurinos – Ney Madeira e Dani Vidal
Iluminação – Rogério Wiltgen
Direção Musical - Edvan Moraes
Fotos - Guga Melgar
Assessoria de Imprensa – Ana Gaio
Produção Executiva - Valéria Meirelles
Realização - Júpiter Teatro Produções

ELENCO
OS PROFESSORES: XANDO GRAÇA (Hector), MOUHAMED HARFOUCH (Irwin), NEDIRA CAMPOS (Doroty) E EDMUNDO LIPPI (diretor)

ALUNOS: ANDRÉ ARTECHE (Scripps), RENATO GÓES (Dakin), HUGO KERTH (Posner), HELDER AGOSTINNI (Lockwood), RAFAEL CANEDO (Timms), YURI RIBEIRO (Rudge), RICARDO KENNUP (Crowther), GUILHERME FERRAZ (Akthar). Stand-in: Marcos Guian e Johnny Ferro

2 comentários:

  1. Ruim demais! Marmanjos barbados se passando por garotos de 16 anos!
    Querem pegar carona na peça inglesa, mas.............. Fujam!

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  2. EXCELENTE TEXTO, BELAS INTERPRETAÇÕES E NÚMEROS MUSICAIS DE QUALIDADE! ESPETÁCULO CATIVANTE.A IDADE DE ALGUNS ATORES NÃO INTERFERE NO RESULTADO FINAL. RECOMENDO!!

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