quinta-feira, 1 de maio de 2014

Garatuja (RJ)

Andréa Dantas é Zefa
Foto: divulgação

Comercial

“Garatuja” é um monólogo cômico que trata do dia a dia de Zefa, uma camareira que também trabalha em outras atividades para sobreviver. Interpretado por Andrea Dantas, a personagem foi abandonada pelo marido Jorge que a trocou pela melhor amiga de Zefa. Enquanto enrola os doces que faz por encomenda, fala via Skype com amigos, lê e-mails e atende o telefone, ela reflete sobre a vida, lembra do casamento e da profissão e preenche o tempo. Com texto escrito por Fernando Duarte, a peça tem o problema de não fazer nem divertir, nem emocionar por vários motivos. Está em cartaz em horário alternativo do Teatro Leblon.

Garatuja é o desenho que as crianças fazem, aquela coleção de rabiscos que nasce de sua incapacidade de coordenar o lápis sobre o papel ou mesmo de representar pictoriamente o que quer devido à tenra idade. O título ilustra bem a história de Zefa, colocando a personagem como alguém que está ainda “no meio do furacão”, tentando entender os últimos acontecimentos de sua vida e se preparar para o futuro. O problema é no como, em termos primeiramente dramatúrgicos, mas depois da ordem da estética, essas informações chegam ao público. Coberto de piadas já conhecidas, frases clichês, situações não articuladas, o texto demora para sugerir uma leitura mais poética da personagem. A inclusão de trechos de textos de Martha Medeiros e de Adriana Falcão também não ajuda a construir um bom objeto de arte, mas deixa claro o tom comercial (e gratuito) da produção infelizmente.

Não é fácil supor que Zefa é uma mulher que está tentando “dar a volta por cima”, porque são muito raros os momentos em que a vemos por baixo. A interpretação de Andrea Dantas não oferece tempo ao espectador para que ele possa identificar a crítica, o embate, o conflito interno da personagem consigo própria. Ao contrário, ao longo da madrugada, Zefa está vestida de sapato alto, pulseiras, colares e faixa no cabelo. Está maquiada e, apesar do péssimo figurino, bela. E, assim, ao final da peça, depois de uma noite de trabalho, ela vai dormir, afastando a história do realismo ao qual outros elementos aparentemente quiseram aproximar. (A direção de fotografia dos vídeos, por exemplo, é suja porque quer realmente parecer um vídeo via Skype.)

Não se entende a concepção de Carol Fonseca para o figurino. Zefa veste, ao longo da peça, uma roupa que a faz parecer um “dálmata” pela oposição de fundo preto e estampa branca ou vice-versa. Para piorar o contexto estético, “Garatuja” tem cenários e adereços que acompanham essa proposta popularesca e superficial na paleta de cores e nas estampas. Nem fazem rir, nem tampouco sugerem alguma reflexão.

Aqui e ali é possível identifica uma vontade, em “Garatuja”, de não parecer mais uma peça sobre relacionamentos e de oferecer algo que seja um pouco mais profundo ao público carioca. Nessa intenção, a proposta é positiva.

*

Ficha Técnica:
TEXTO - Fernando Duarte
DIREÇÃO - Beta Leporage
CENÁRIO - Paula Santa Rosa e Rafael Pieri
FIGURINO - Carol Fonseca
PINTURA DE FIGURINO - Cátia Amélia
PROJETO DE LUZ - Renato Machado
TRILHA SONORA - Gabriel Lessa
ASSESSORIA DE IMPRENSA - Kassu Produções
MÍDIA SOCIAL E VIDEO - Chermont BR
DESIGN GRÁFICO - Jaqueline Sampin
FOTOS - Denis Alves
VISAGISMO - Luiz Bellini
VÍDEO - Ana Bolshaw
CAPTAÇÃO DE ÁUDIO - Eduardo Falcão da Rocha
PROJEÇÃO - Antonia Muniz
OPERADOR DE SOM - Gabriel Lessa
OPERADOR DE LUZ - Helio Malvino
COORDENADOR DE PALCO - Cedeli Martinusso
CENOTÉCNICO - Alcino dos Santos
PRÉ-PRODUÇÃO - Luis Fernando Bruno
PRODUÇÃO EXECUTIVA - Jr Fonseca e Juliana Soares
REALIZAÇÃO - Voleio produções

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo!