segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Quando a gente ama (RJ)

Cris Viana ao centro e Vilma Melo (de vestido azul) em
belo musical a partir de canções de Arlindo Cruz
Foto: Marcus Gullo

Antes de ser um bom musical, é um ótimo teatro!

É uma pena que nem todos os musicais em cartaz no Rio de Janeiro sejam tão bons quanto “Quando a gente ama”. A partir de músicas de Arlindo Cruz (1958), a qualidade da direção musical de Marcelo Alonso Neves, dos músicos e dos intérpretes é grande, mas é menor que a excelente dramaturgia de João Batista, que também assina a direção. A peça não é apenas para familiares e para fãs de Arlindo Cruz, tão pouco só para interessados em conhecer sua biografia. “Quando a gente ama” é sobre o amor em várias de suas facetas, pontos de vista, possibilidades, momentos e, por isso, é para o homem lembrar-se de que é homem, propondo, assim, arte da melhor qualidade. Em cartaz no Teatro Sesc Ginástico, no centro do Rio, a produção tem destaque para Édio Nunes, para Milton Filho e para Wladimir Pinheiro, mas principalmente para Cris Viana e sobretudo para Vilma Melo.

O espetáculo se passa em uma roda de samba, um “pagode”, em um lugar onde moradores de regiões menos favorecidas da cidade se encontram ao fim do dia para beber, encontrar-se com amigos, relaxar. Cada uma das 12 músicas de Arlindo Cruz interpretadas pelo elenco afinadíssimo é antecedida por um diálogo em que dois personagens começam ou terminam uma relação, declaram-se apaixonados ou chegam à conclusão de que o amor já terminou, conhecem-se ou afirmam querer esquecer-se, beijam-se, dançam e brigam. Em cada um desses quadros, cujos personagens nunca se repetem, o amor está exposto de um jeito diferente, mas sempre de forma bastante interessante, cheio de complexidade e de potência, isso graças ao excelente texto e à ótima direção de João Batista, mas também à qualidade dos intérpretes enquanto ótimos músicos, mas também enquanto bons atores. Se, no início, temos personagens mais caricatos, farsescos, cheios de expressividade (destaque para o sempre muito expressivo Milton Filho) e consequentemente dispostos ao riso e à superficialidade, na medida em que o espetáculo vai avançando, temos situações dramáticas mais densas com interpretações mais profundas e não menos, mas talvez mais valorosas. Ao lado de Filho, Cris Viana surge sólida, neutra, segura, firme em uma belíssima cena em que o casal avalia se uma nova chance vale a pena para o relacionamento entre os dois. Depois, Patrícia Costa e Édio Nunes deixam ver um imenso abismo entre os seus personagens que descobrem que o amor já terminou e que findou-se um casamento de mais de dez anos. Nessa cena, há que se notar o peso das palavras, mas também dos silêncios, a forma contida como cada emoção é representada nos diálogos. Próximos do fim, temos o ponto alto de tantos bons momentos da participação de Vilma Melo, então dando vida a uma mulher mais velha que fora abandonada em troca de uma menina por seu jovem amor. A delicada dosagem da emoção faz da personagem dessa cena uma vultuosa figura capaz de tirar o fôlego da plateia mais atenta.

Não só as cenas, mas o como elas se relacionam com as canções fazem de “Quando a gente ama” um grande espetáculo. Embora o esquema se repita doze vezes (um quadro = cena + música), é possível avaliar como bastante positivo o fato da multiplicidade de pontos de vista diferentes sobre o amor nutrir o espectador de interesse por mais e mais. O repertório, bem interpretado pelo grupo, mas sobretudo pelo excelente Wladimir Pinheiro, uma das vozes masculinas mais belas do país, serve de forma natural à expressão dos sentimentos dos personagens construtores das cenas. O resultado é uma galeria bem estruturada e bastante bem defendida.

Com méritos ainda aos detalhes estéticos (cenário de Doris Rollemberg, figurino de Mauro Leite, iluminação de Renato Machado, coreografias de Dani Cavanellas), o espetáculo faz, sim, bonita homenagem a Arlindo Cruz, apresentando-o a quem não o conhece e honrando quem é seu fã, mas merece aplausos da crítica teatral por ser apresentado de forma tão valorosa os signos teatrais bem usados. Parabéns!

*

Ficha Técnica
Texto e Direção: João Batista
Direção musical e arranjos: Marcelo Alonso Neves
Elenco: Cris Vianna, David Junior, Édio Nunes, Jéssica Moraes, Milton Filho, Patrícia Costa, Vilma Melo, Wladimir Pinheiro
Cenografia: Doris Rollemberg
Figurinos: Mauro Leite
Iluminação: Renato Machado
Produção: Sábios Projetos
Realização: Sábios Projetos e Cia Dramática de Comédia

2 comentários:

  1. Quando a Gente Ama!Crítica maravilhosa resume detalhadamente a qualidade do espetáculo pontuando as melhores e mais marcantes esquetes do espetáculo que esta em cartaz no Sesc Ginastico de 4ª a Dom as 19hs até dia 22

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