sábado, 24 de março de 2018

Caos (RJ)

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Foto: Andrea Rocha


Rita Fischer e Maria Carol

Ótima comédia de Rita Fischer


“Caos” é uma ótima ótima comédia escrita por Rita Fischer, dirigida por Thiago Bomilcar Braga e interpretada por Maria Carol e pela autora. O texto consiste na reunião de algumas crônicas escritas por Fischer em que se vê seu ponto de vista sobre fatos do seu dia, suas emoções, reflexões, opiniões e sobretudo suas aventuras. Na peça, a proposta surge dinâmica, engraçada e também com um fundo ideológico bem marcado, fazendo o público pensar sobre questões pertinentes a vários temas do cotidiano. A luta das mulheres, o embate político, o choque de gerações e os conflitos de relacionamentos afetivos-sexuais estão entre eles. Vale muito a pena conhecer o universo de Rita, divertir-se com ela, aprender com ela, assistindo à montagem que fica em cartaz no Teatro Serrador, na Cinelândia, até o dia 27 de março, sempre às terças e às quartas, às 19h30. 

Fluência, graça e interesse na dramaturgia de “Caos” 
Do ponto de vista teórico, o aspecto mais interessante de “Caos” é pensar sobre como ficção e realidade sem confundem na dramaturgia que apresenta Rita sendo interpretada por ela mesma em seu texto dramatúrgico. Ela é a protagonista em todas as crônicas que fazem parte da peça de modo que a espetacularidade não incide sobre a criação de uma figura, mas sobre a manipulação dela e dos momentos pelos quais ela passou. O texto, nesse sentido, é um pacote que envolve o objeto a ser apresentado, uma embalagem que modifica o conteúdo do seu interior e define traços essenciais do momento em que ele é oferecido ao público. 

Lá pelas tantas, a plateia, que preenche as fileiras do Teatro Serrador, fica plenamente envolvida por Rita: a personagem da dramaturgia, a autora do texto, a personagem da peça e sua atriz. O sucesso desse envolvimento fica claro na maneira como se relacionam palco e plateia: são amigos conversando, debatendo, trocando energias e sensações. 

Há vários personagens que surgem na narrativa além de Rita e eles também ganham corpo no espetáculo. Os funcionários da Casa & Vídeo, o vendedor de pasteis, a cachorra Futrica e outros vêm filtrados pelo olhar de quem escreveu sobre eles, mas positivamente também ganham o máximo de complexidade a que têm direito. Eles existem pelo modo como se relacionam com a protagonista e essa existência é válida e legítima na medida em que a dramaturgia reivindica o direito de Rita de existir também na esfera ficcional. 

De modo ágil e competente, a escrita de “Caos” une fluência, graça e interesse tanto na viabilização de um material gostoso de conhecer como na construção de algo rico para se pensar. 

Excelente ritmo na direção de Thiago Bomilcar Braga 
O maior mérito da direção de Thiago Bomilcar Braga é o excelente ritmo com que “Caos” ganha corpo no palco. O tempo corre, mas sem pressa, estando preocupado com a fluência e com a articulação. A construção de uma ideia de coerência e coesão - capaz de fazer a peça parecer uma só e não uma galeria de momentos separados – é um objetivo plenamente atingido. Um quadro se engendra no outro e dos dois surge um terceiro: todos eles levantados do nada (só há duas cadeiras em cena além das atrizes), mas responsáveis pelo brilho de todo um universo que é concreto aos olhos da audiência. 

O figurino de Dora Devin – roupas de malhas e tênis, unindo tons diferentes de cinza e de vermelho – faz participação positiva nos méritos do ritmo pela fluência que ele promove. A iluminação de Paulo César de Medeiros e a trilha sonora de Rádio Lixo valorizam as oportunidades poéticas do quadro geral, aumentando os valores estéticos da obra como um todo. 

Um grande encontro entre Maria Carol e Rita Fischer 
Rita Fischer e Maria Carol apresentam ótimos trabalhos de interpretação a partir de usos da voz e do corpo bastante potentes, de bom repertório expressivo e de enorme carisma. Sem jamais sair de cena durante toda a sessão, elas ficam expostas – entregues – ao contato com o público em um afinado trabalho colaborativo. Com destaque óbvio, Fischer tem melhores oportunidades, mas Carol vence o desafio de interpretar Rita diante de Rita, oferecendo ótimo equilíbrio à montagem. É um grande encontro entre elas e de ambas com a plateia. 

“Caos” é uma ótima opção na programação teatral carioca pelo modo como faz rir e pensar, por apresentar Rita Fischer como ótima dramaturga e cronista competente e por trazer uma equipe toda bastante qualificada em projeto de muitos valores estéticos na sua despretensão legítima. 

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Ficha técnica

Texto: Rita Fischer

Direção: Thiago Bomilcar Braga

Elenco: Maria Carol e Rita Fischer

Direção de movimento: Luísa Pitta

Iluminação: Paulo César Medeiros

Figurino: Dora Devin

Trilha sonora: Rádio Lixo

Fotos de divulgação: Andréa Rocha- ZBR

Produção: Rita Fischer

Identidade Visual: David Lima

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