quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Show em Simonal (RJ)

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Foto: divulgação



Ícaro Silva

O feliz reencontro do público com Ícaro Silva e com seu Wilson Simonal

Na ótima “Show em Simonal”, o ator Ícaro Silva retorna ao cantor brasileiro Wilson Simonal (1939-2000), lotando o Teatro Leblon onde a peça está em cartaz. Com sucesso, ele interpretou o mesmo personagem em 2015 no excelente espetáculo “S’imbora, o musical”. Essa nova montagem, que como a anterior é dirigida por Pedro Brício, porém privilegia o contato do público com o músico e com sua obra, dando menos força ao conflito dramático do texto de Nelson Motta e de Patrícia Andrade. Mesmo assim, e talvez mais, o público se diverte enquanto relembra e conhece faixa importante da história da nossa música aqui tão bem defendida. A produção, nessa primeira temporada, pode ser conferida até 2 de outubro.

Segundo espetáculo sobre Wilson Simonal
O cantor carioca Wilson Simonal surgiu através das mãos do produtor, compositor e apresentador de televisão Carlos Imperial (1935-1992) no início dos anos sessenta. Sucessos como “Nanã”, “Sá Marina”, “Chuva” e “Mamãe passou açúcar em mim” o levaram a um estrelato somente comparável (ou talvez maior) ao de Roberto Carlos naquele período entre bossa nova, jovem guarda e tropicalismo. “Não vem que não tem”, “Meu limão, meu limoeiro”, “País tropical” são canções que valem ser citadas também.

A derrocada de sua carreira começou por volta de 1970. Suspeitando de ser vítima de um desfalque em suas contas, o cantor iniciou um processo trabalhista contra seu contador, Rafael Viviani. Preso e torturado pelo DOPs - aonde os presos políticos da ditadura militar eram levados -, o contabilista denunciou depois o ex-patrão, acusando-o dele ter sido o mandante de um espancamento do qual sofreu por policiais. Por causa disso, no meio do período mais radical da história recente do país, Simonal foi associado pela classe artística ao governo do General Médici. Passou nove dias preso e o resto da vida condenado pela opinião pública, sem nunca mais conseguir retornar à fama.

A peça “S’imbora, o musical” tratava sobre o modo como os ânimos acirrados em período de radicalismos podem confundir negativamente política e arte. O espetáculo terminava com um convite para a reflexão sobre de que maneira essa associação pode ser injusta quando confere à parcialidade ares de visão plena. Interpretando Simonal, o ator Ícaro Silva levou em torno de cem mil pessoas ao teatro em várias capitais do país, sendo sua performance considerada um dos destaques do teatro em 2015 ao lado da de Thelmo Fernandes, que interpretava Carlos Imperial, e da de grande elenco. O feito esteve envolvido com a mais que valorosa recuperação da memória do artista, esse que foi um dos mais célebres cantores da música popular brasileira. 

Em “Show em Simonal”, Silva alterna o personagem título e uma versão dele próprio, apresentando a vida do cantor, mas também sua relação pessoal com a obra dele. O resultado é que, de maneira muito fluída, esse novo espetáculo aproxima o público do repertório musical de Simonal, contextualizando historicamente as canções, mas dando ênfase à alegria que elas sugerem. Dirigida por Pedro Brício, com roteiro adaptado por ele a partir da dramaturgia original de Nelson Motta e de Patrícia, essa segunda peça colhe méritos tão valorosos quanto os da anterior, mas por outros caminhos.

O brilho de Ícaro Silva
A direção de Pedro Brício, nesse segundo espetáculo, coerente com a proposta, faz o público pensar, em alguns momentos, que está em um show de Wilson Simonal. A banda, composta por Ananda Torres, Romulo Duarte e por Kim Pereira, está visível no palco ao longo da apresentação. O diálogo com quem assiste permanece aberto, propondo um clima que se mantém alegre principalmente para os interessados em se divertir. A direção musical, com vibrante qualidade técnica, é de Alexandre Elias.

Essencialmente pautada nas canções, essa nova peça tem seus melhores valores cênicos na atuação de Ícaro Silva e de Aline Wielwy, Ariane Souza e de Julia Gorman, essas que interpretam as “Simonetes”. O repertório delicioso, mas principalmente a técnica, a habilidade e o enorme carisma dos intérpretes garantem o sucesso do ritmo. O trio de backing vocals participa da ação, envolvendo a audiência no que parece ser as intenções da obra.

Ícaro Silva permanece apresentando aqui os mesmos ótimos valores na defesa do personagem título já apontados anteriormente, mas com mais responsabilidade e, por isso, maiores louros. Entre os vários méritos na interpretação dele, é possível que, para além proximidade conquistada com a plateia, o mais destacável seja o modo sensível como o ego do homenageado seja expresso. Na narrativa, a felicidade de Simonal em ver seu trabalho lhe rendendo atenções mundiais (e dinheiro) pode tê-lo impedido de perceber os problemas que nasciam na sua vida pessoal e profissional. E essa problemática, que é tão humana, o torna ainda mais querido para além da popularidade das canções do seu repertório. Silva expressa isso de maneira muito delicada e nobre.

Em cada sessão, há um(a) convidado(a) especial. Na que essa análise se dedica, a atriz Carla Daniel participou do show, encantando o todo.

Teatro lotado
Grande parte da equipe que assinou o espetáculo anterior está de volta em “Show em Simonal”. O cenário, também de Hélio Eichbauer, tem um telão que exibe passagens históricas da vida de Simonal. Elas, que são assinadas pelos videografistas Rico e Renato Vilarouca, colaboram para a construção do clima de show do projeto. Renato Vieira assina de novo as coreografias e a direção de movimento em um trabalho menor, mas não menos valoroso. O mesmo se pode dizer do desenho de luz de Tomás Ribas e do figurino de Marília Carneiro.

É bonito encontrar a plateia cheia e ouvir as pessoas comparando as duas montagens enquanto se divertem também nessa nova proposta. É Wilson Simonal brilhando de novo através de Ícaro Silva e de sua equipe. Sempre vale a pena!

*

FICHA TÉCNICA
Adaptação de texto e direção: Pedro Brício
Texto: Nelson Motta e Patrícia Andrade
Direção musical e arranjos: Alexandre Elias
Direção de movimento e coreografia: Renato Vieira
Cenografia: Hélio Eichbauer
Figurino: Marilia Carneiro
Designer de som: Marcelo Claret
Designer de Luz: Tomás Ribas
Direção e criação audiovisual / projeções: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Fotografias: Leo Aversa
Produtora de elenco: Cibele Santa Cruz
Designer Gráfico: Márcio Oliveira
Comunicação Digital: Joana Tiso
Produção Geral: Luiz Oscar Niemeyer
Direção de Produção: Joana Motta
Coordenação de Marketing e Comunicação: Aline Santanna
Produção Executiva: Laura Storino
Diretor Assistente: Gustavo Wabner
Assistente de figurino: Michele Kisiolar
Realização: Bonus Track

Elenco: Ícaro Silva, Ariane Souza, Julia Gorman e Aline Wirley
Piano – Ananda Torres
Bateria – Kim Pereira
Baixo acústico – Romulo Duarte

EQUPE TÉCNICA:
Chefe de palco: Gilson Ferreira
Operador de som: João Gabriel Mattos
Operador de luz: Jarbas Sardinha
Operador de vídeo: Edmar da Rocha

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