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Foto: divulgação
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Cassiano Fernandez e Mirna Rubim |
Uma bela lição de vida!
“Paradinha cerebral” é o belo espetáculo protagonizado por Mirna Rubim e por Cassiano Fernandez que está em cartaz no Teatro 2 do Shopping Fashion Mall, em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Ela interpreta Madalena, uma apresentadora de programa de televisão que, um dia, é surpreendida pela produção com um entrevistado misterioso. Trata-se de Cacá, um jovem amante de óperas que vive em uma cadeira de rodas como consequência de uma paralisia cerebral. O encontro entre eles poderá modificar a vida da anfitriã bem como dos (tele)espectadores. Com texto e direção de Iuri Saraiva, a peça cumpre temporada até 15 de setembro.
Problemas na dramaturgia não diminuem os méritos sociais
A produção é cheia de boas intenções, mas, em termos de dramaturgia, vai mal. Há dois personagens: Madá (Mirna Rubim) e Cacá (Cassiano Fernandez), mas nenhum deles é explorado pelo texto para além de uma pobre superfície. Através de uma rápida menção, sabe-se que ela se sente frustrada por não ter se tornado uma cantora lírica. Por causa disso, a produção de seu programa ao vivo na TV resolve quebrar o paradigma e trazer-lhe um entrevistado surpresa. Cacá não fez dos limites motores decorrentes de uma paralisia cerebral barreiras capazes de impedi-lo de estudar canto. A partir do encontro entre eles, espera-se que Madá reflita sobre o que a fez desistir do seu sonho e retorne à busca por sua realização.
O problema é que a peça investe demais no retrato de Cacá e negativamente pouco explora a relação entre ele e sua anfitriã. Nesse sentido, Madá, através de quem o público acessa a narrativa, fica como uma escada dispensável na dramaturgia que não é mais obsoleta por conta da defesa dos seus números musicais. “Paradinha cerebral” termina sem que tenha, de fato, havido uma mudança na situação inicial, o que justificaria, em termos estéticos, a dramaturgia.
A pobreza do texto, porém, não tira o mérito do compromisso social da produção. Tudo leva a crer que, se há distância entre Madá e Mirna Rubim, ela inexiste entre Cacá e Cassiano Fernandez. Personagem e ator são alunos de canto, os dois moram em Botafogo, ambos têm menos de trinta anos, trabalham fora, gostam de ópera e andam em cadeira de rodas. Os longos monólogos em que o entrevistado (que, fora da narrativa, é de fato aluno de Rubim) fala de si e do modo como vê o mundo e as pessoas é inspirador. Nesse clima de “peça de autoajuda”, o espetáculo parece realizar suas melhores intenções, atingindo seu objetivo e, por isso, merecedor dos aplausos.
Diálogos interessantes entre Mirna Rubim e Cassiano Fernandez
A direção de Iuri Saraiva, que assina a dramaturgia notoriamente baseada em fatos reais, tem méritos no modo como organiza a narrativa cênica em blocos. Conversas sobre a biografia da diva Maria Callas (1923 -1977), o universo particular (ficcional ou não) do entrevistado, números de canto, inserções de vídeo (belas colaborações de Daniel Gonçalves) e um tom mais reflexivo são momentos que se alternam ao longo do espetáculo de maneira equilibrada. O ritmo, centrado em Cassiano Fernandez, mas abrilhantado por Mirna Rubim, é bastante positivo ao longo da encenação, o que garante o sucesso da obra como um todo.
Mirna Rubim, uma das estrelas do teatro musical brasileiro, apresenta excelente trabalho. A postura absolutamente ereta, expressões controladas, balanço no corpo e na voz e sobretudo a excelência no modo como toca o piano e canta árias difíceis e belas atribuem à encenação de “Paradinha cerebral” enormes valores. Cassiano Fernandez tem excelente dicção, é carismático e equilibra na voz suas dificuldades em se movimentar. O diálogo entre ele e sua parceira é ágil, rico e interessante, sendo esse o melhor aspecto de toda a peça.
Com pontuais participações do cenário e figurino de João de Freitas Henriques e da iluminação de Rafael Andrade, “Paradinha cerebral”, produzido por Lara Pozzobon, dá uma lição de vida! Aplausos!
Ficha técnica:
Texto e Direção: Iuri Saraiva.
Elenco: Cassiano Fernandez e Mirna Rubim
Videografia: Daniel Gonçalves
Cenário e Figurino: João de Freitas Henriques
Iluminação: Rafael Andrade
Concepção e Produção: Lara Pozzobon
Patrocínio: Secretaria Municipal de Cultura, Fomento Cidade Olímpica
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