Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram:@criticateatralFoto: Carol Beiriz
Linn Jardim e Juliana Lohmann |
“Roma” estreou no fim de 2015 e segue fazendo uma bonita temporada nesse verão carioca. Dirigida por Renato Farias, a peça teve texto livremente inspirado no belo filme “Um quarto em Roma”, do espanhol Julio Medem, lançado em 2010. Em meio a uma festa de réveillon em um hotel na capital italiana, Ana e Isabella fogem para o quarto da primeira, onde se conhecem e desfrutam de momentos de prazer. Para uma, mas talvez para ambas, nasce assim uma história de amor. Com Linn Jardim e Juliana Lohmann no elenco, o espetáculo é encantador. Voltará em cartaz entre os dias 19 e 28 de fevereiro na na Galeria do Teatro Sérgio Porto, no Humaitá, zona sul do Rio de Janeiro.
Filme e Peça oferecem reflexões diferentes, mas igualmente nobres
O filme “Um quarto em Roma” e a peça “Roma” se diferem no modo como a história das duas personagens se relaciona com o que é exterior. Na obra escrita e dirigida por Julio Medem, Alba (Elena Anaya) é uma espanhola que, depois de ter se casado com homem na Arábia Saudita, voltou para a Europa onde viveu com uma mulher um romance que terminou há pouco. Natasha (Natasha Yarovenko) é uma atriz russa cuja personalidade se confunde com a de sua irmã gêmea. Ela está prestes a se casar com um homem. O encontro entre as duas se dá no primeiro dia do verão, em Roma, na Itália, para onde cada uma veio por motivos profissionais.
A narrativa do filme percorre em torno de dez horas em que Alba e Natasha passaram juntas no quarto da primeira. Nesse meio tempo, o espectador saberá que esses não são seus nomes verdadeiros. Além disso, entre elas, não se fala nem espanhol, nem russo, tampouco italiano, mas inglês. Isoladas em um país estrangeiro e com um idioma diferente, elas estão livres para ressignificar suas existências. Em uma das cenas mais bonitas do filme, uma bandeira branca tremula entre a de Roma e a da União Europeia enquanto a câmera sobe e o globo terrestre é contemplado. Está na hora do tipo de amor que se vivenciou ali não precisar mais se esconder, mas ganhar o mundo em paz.
O texto de “Roma”, em versão assinada por Guilherme Prates, não dá conta dessa reflexão mais política, centrando a dramaturgia no encontro entre as duas personagens. Na peça, elas se chamam Ana (Linn Jardim) e Isabella (Juliana Lohmann) e ambas são brasileiras. Em uma festa de réveillon na capital italiana, elas se conhecem e vão para o quarto de Ana enquanto os demais convidados comemoram. Depois de um jogo de sedução vencido arduamente pela anfitriã, as duas desfrutam da intimidade e conversam sobre si.
O público assiste à peça sentado em volta das atrizes em espaço plenamente branco e iluminado. Essa opção colabora com o espetáculo em sua primeira parte: Ana e Isabella, cujas histórias são quase iguais as de Alba e Natasha, estão se conhecendo. A festa lá fora dá sinais de que o ano novo já chegou e, dentro do quarto, jogos de prazer são divertidos. Quando a dramaturgia vira, no entanto, os resultados não são tão positivos.
Na segunda parte de “Roma”, muito diferente do que foi narrado do filme, as histórias de Ana e Isabella se misturam. Um drama se estabelece e ganha corpo, tomando o lugar da situação original. Essa nova força, porém, não tem uma estética que lhe valorize tão bem. Quando mais densos ficam os diálogos, mais constrangido fica o público, inadequado nessa nova energia. O espetáculo perde a boa fluidez de outrora.
Se, em “Um quarto em Roma”, torce-se até o fim para que o momento ganhe eternidade – o que não tira o valor do fugaz –, em “Roma”, a reflexão é outra. A capacidade do homem de reinventar a própria vida, e assim de alguma forma resolvê-la, é uma delas. E não se pode dizer que essa é menos valorosa que aquela.
Ótimas interpretações de Linn Jardim e de Juliana Lohmann
A direção de Renato Farias, assistido por Fernanda Boechat, tem excelentes resultados na primeira parte do espetáculo, mas há também vários méritos na segunda. A alegria explode na apresentação das personagens, do contexto e da narrativa, momentos esses em que se expõem os medos, as forças e o prazer que as personagem sentem uma com a outra. Depois, em cuidadosa opção, os movimentos diminuem e a ação fica mais densa, concentrando o foco. Como dito anteriormente, a manutenção do lugar do público em volta das atrizes não conversa fluentemente com o rumo que a história ganha, mas é notório que outras opções se esforçam em favor disso.
É bonito notar como as atrizes Linn Jardim (Ana) e Juliana Lohmann (Isabella) ganham o público ao longo da encenação. Suas construções evoluem com delicadeza e cuidado, se dirigindo potentemente para o fim. Ambas são carismáticas, movendo-se com habilidade tanto nos momentos mais animados quanto naqueles mais densos.
Se o espectador da peça tiver assistido ao filme, terá mais meios de interpretar o branco que impera no cenário de Gigi Barreto para a peça. É possível pensar que esse seja o modo como a história de Ana e Isabella pode atravessar o mundo e se tornar universal. No filme, a direção de arte de Montse Sanz optou por várias referências da história da arte ocidental para oferecer esse estilhaçamento. A luz de Rafael Sieg e o figurino de Thiago Mendonça fazem boas colaborações aqui. Tem destaque vibrante a trilha sonora da peça escolhida por Pedro Gracindo. Com certeza, os melhores momentos do ritmo se apoiam no ótimo uso desse elemento.
“Roma” está sendo um diferencial na grade de programação teatral do Rio de Janeiro nesse verão. A ver!
*
Ficha técnica:
Texto: Guilherme Prates
Direção: Renato Farias
Elenco: Juliana Lohmann e Linn Jardim
Direção assistente: Fernanda Boechat
Iluminação: Rafael Sieg
Cenário: Gigi Barreto
Figurino: Thiago Mendonça
Trilha Sonora: Pedro Gracindo
Visagismo: Bruno Fattori
Fotografa: Carol Beiriz
Projeto Gráfico: Daniel Vides Veras
Assessoria de Imprensa: Bianca Arman e Thiago Braga
Direção de Produção: Eudes Veloso
Realização: Por Acaso e Companhia de Teatro Íntimo