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Kadú Monteiro, Ivan de Oliveira, Michael Alves, Erika Ferreira e Nívea Santana |
Belíssimo musical para toda a família valoriza as lendas africanas
O belíssimo musical “Omi – do leito ao mar” termina hoje sua temporada no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Produzido pela Cia. Ávida, de São Gonçalo, ele tem seu texto escrito por Gabriel Mendes, que também assina a direção. No elenco em ótimas interpretações, Nívea Santana, Kadú Monteiro, Michael Alves, Erika Ferreira e Ivan de Oliveira, esses dois últimos em preciosos destaques, apresentam em torno de cinco lendas da mitologia africana. Todas elas têm a ver com a água (“omi” em ioruba), mas a narrativa trata também de muitos outros temas além desse. Os figurinos de Valério Bandeira e a música original de Kadú Monteiro são dois entre os melhores elementos de toda a encenação. Vale a pena torcer para que o espetáculo volte a cartaz novamente.
Dramaturgia a partir de lendas africanas
A peça começa com a entrada de cinco lavadeiras, trazendo seu trabalho para as margens de um rio. Enquanto executam sua lida, lhes vêm histórias antigas à cabeça que umas contam para as outras. A primeira delas é de Oxalá (Nívea Santana) que, com a ajuda de Nanã Burucu (Ivan de Oliveira), conseguiu criar o primeiro homem da terra com a condição de que, ao morrer, o homem devolvesse todo o material com o qual tinha sido criado. A perenidade da vida humana, como marca indelével de sua natureza, é um dos primeiros temas da lenda que abre a peça.
A narrativa continua com a lenda de Euá (Michael Alves), que precisou transformar-se em rio para salvar da morte seus dois filhos; de Oloú (Alves também), que foi castigado por Oxum (Erika Ferreira) pelos maus tratos a sua esposa Prenda Bela (Ivan de Oliveira); e do Rei dos Nupes (ou Oxaguiã) (Kadú Monteiro), que, com a ajuda de Iansã (ou de Odô-Oiá) (Nívea Santana), salva seu povo.
A última história é uma lenda de Iemanjá (Kadú Monteiro), que se casou com Oquerê, o Rei de Xaci (Ivan de Oliveira), sob a condição de que esse nunca comentasse a respeito de seus seios fartos. Um dia, porém, embriagado, Oquerê quebrou o pacto e, por causa disso, Iemanjá fugiu com a ajuda de um presente de sua mãe Olocum, transformando-se em rio. Oquerê, para impedir a fuga da esposa, transformou-se em montanha, mas Xangô, filho de Iemanjá, com um raio, partiu o monte em dois, criando um vale. O rio, assim, pode seguir livremente seu curso até o mar. Fidelidade, família, carinho e liberdade são os temas dessa última lenda.
Direção de Gabriel Mendes com belíssima trilha sonora e excelente figurino
“Omi – do leito ao mar” teve sua origem a partir de uma esquete que participou do 7o Niterói em Cena, em 2014. Depois de lá, participou de outros festivais, obtendo bastantes elogios até se tornar um espetáculo longo. Nessa versão, ele tem aproximadamente oitenta minutos em um belíssimo uso do tempo. Esse aspecto, mérito fundamental da direção de Gabriel Mendes, que também assina a dramaturgia, se dá a ver pela maneira como os signos teatrais estão articulados. O espetáculo começa com um palco praticamente vazio e, ao longo de sua realização, as cenas vão encontrando seu lugar e se transformando em um ritmo equilibrado e saboroso. Nisso também se veem a colaboração, principalmente, da trilha sonora e do figurino.
A trilha sonora original de Kadú Monteiro é belíssima e faz lembrar, com muita honra, do trabalho que a Barca dos Corações Partidos vêm desenvolvendo a partir de espetáculos como “Auê” e como “Ariano Suasssuna – O auto do Reino do Sol”. As músicas surgem encantadoras, ganhando o tempo e o espaço da narrativa, mas, ao mesmo tempo, impondo suas particularidades, o que eleva as qualidades da obra. Por si só, são um espetáculo a parte. A direção musical é assinada por Monteiro, mas também por Raquel Terra. Nelson Gaia, Silvano Marciano, Walace Dantas e Raquel Terra são os músicos que executam todos os sons ao vivo durante o espetáculo.
O mesmo que se disse das canções, pode-se dizer do figurino – que é também o cenário – de Valério Bandeira. Das próprias roupas que os personagens usam, com o auxílio das trouxas que as lavadeiras trazem para lavar, saem belíssimas imagens que compõem quadros visualmente bastante potentes. Dessa forma, a variedade das histórias encontra eco nas possibilidades imagéticas de sua realização em cena, alimentando o interesse e colaborando positivamente para o excelente ritmo da narrativa.
A valorização da cultura africana
Sobre os trabalhos de interpretação, vale destacar o uso do corpo por Michael Alves e as excelentes vozes de Erika Ferreira e de Ivan de Oliveira. No todo, os cinco intérpretes apresentam bom repertório expressivo na viabilização do enorme número de personagens, se servindo do, mas também colaborando para o enorme carisma do espetáculo. Em conjunto, o grupo canta lindamente (Kadú Monteiro e Erika Ferreira em especial) e, com perceptível integração, defende de maneira unânime a obra que disponibilizam.
“Omi – do leito ao mar”, em tempos em que se descobre a cultura africana, e se apaixona por ela, colabora lindamente com a extinção do preconceito cultural. Trata-se de um belíssimo espetáculo que cumpre com habilidade, além da função de existir como obra de arte, a tarefa de integrar diferenças, fazer conhecer e ajudar a respeitar. Aplausos!
Ficha técnica
Adaptação e Texto: Gabriel Mendes
Cenário: Ronald Lima
Figurino e Maquiagem: Valério Bandeira
Direção Musical: Kadú Monteiro e Raquel Terra
Músicas: Kadú Monteiro
Direção de Movimento e Preparação Corporal: Anderson Hanzen
Preparação para Canto: Marília Serrapio
Iluminação: Raphael Grampola
Direção Geral: Gabriel Mendes
Stand-in: Anderson Hanzen
Produção: Erika Ferreira, Kadú Monteiro, Nívea Santana e Gabriel Mendes
Assistente de Produção: Fernanda Fernandes
Apoio de produção: Luciano Barbosa
Ilustrações: Rogério Nery
Programação Visual: Tiago Torres
Fotos: Bernardo Marques
Teaser e Vídeo: Tom Marinho
Assessoria de Imprensa: Márcia Demézio
Costureiras: Denise Chagas (figurino) e Norma Sueli Farias (adereços)
Elenco: Erika Ferreira, Ivan de Oliveira, Kadú Monteiro, Michael Alves e Nívea Santana
Músicos: Nelson Gaia, Silvano Marciano e Walace Dantas
Parabens, a' direção e elenco. Sucesso, sucesso, a' vcs.
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