sexta-feira, 8 de abril de 2016

A outra casa (RJ)

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Foto: divulgação

Gabriela Munhoz e Helena Varvaki

Espetáculo tocante volta a cartaz

O ótimo espetáculo “A outra casa” voltará a cartaz no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, a partir do dia 29 de abril. Sua primeira temporada foi um dos grandes momentos desse início de outono na programação teatral carioca. O texto, escrito pelo americano Sharr White, foi dirigido por Manoel Prazeres, trazendo a excelente Helena Varvaki no papel de protagonista. Ao seu lado, Rick Yates e principalmente Alexandre Dantas e Gabriela Munhoz estiveram em atuações de primeira grandeza. Uma doença neurológica, que talvez seja a Demência com Corpos de Lewy, é ponto de partida para uma história que pode ser sobre a necessidade das relações de serem tão reinventadas quanto os próprios seres humanos. Essa doença é a mesma que vitimou o ator Robin Williams (1951-2014) há bem pouco tempo. A primeira temporada da produção terminou no último domingo, dia 3 de abril, no Centro Cultural da Justiça Federal.

Dramaturgia tocante!
Traduzido com vitalidade, força e poesia por Diego Teza, o texto marcou a estreia do jovem Sharr White como autor na Broadway. A peça, dirigida por Joe Mantello, mesmo diretor do musical “Wicked”, estreou no fim de 2012, recebendo elogios calorosos da crítica especializada por lá. Na história, a personagem da neurologista Juliana Smithon passa a conviver com uma doença neurodegenerativa que afeta sua memória e seus movimentos. Dois anos depois de “A outra casa” (“The other place”, no original) estrear em Nova Iorque, o falecimento do ator Robin Williams chamou a atenção para a Demência com Corpos de Lewy, um distúrbio considerado raro até pouco tempo atrás, mas que cresce a cada ano infelizmente. Associada com o Mal de Parkinson e com o Mal de Alzheimer, ela só pode ser seguramente diagnosticada após o falecimento do doente, o que dificulta o trabalho dos pesquisadores em busca de sua cura ou tratamento. Em lugar algum do texto, White dá nome para aquilo de que sofre sua protagonista. Isso faz pensar que esse detalhe, ainda que muito valoroso, não é o mais importante dessa bela dramaturgia.

No passado, Laura, a filha de Juliana e de seu marido Ian, saiu de casa provavelmente para viver junto de seu namorado. Desde então, os três nunca mais estiveram juntos. Quando a narrativa começa, Juliana acredita estar retomando o contato com Laura e com a suposta família que a filha gerou. Esse processo, no entanto, divide lugar – talvez causa, talvez consequência – com a doença de que sofre a protagonista. Pouco a pouco, Juliana vai sendo alcançada por um mundo paralelo, desconectando-se daquele em que ela viveu. Seu casamento vai mal, seu trabalho também. Tudo isso exige dela, daqueles a sua volta e do público uma reflexão sobre a essência do ser humano.

Lá pelas tantas, talvez no melhor momento da narrativa, Juliana se encontra com uma completa desconhecida. Elas não se conhecem, não têm qualquer relação e talvez por isso suas identidades precisam ser mais reapresentadas do que defendidas. O encontro é, principalmente para Juliana, terreno fértil para o nascimento de um novo percurso. E aí “A outra casa”, que partiu de um tema importante mas difícil como uma doença, ganha a chance de tocar o homem em qualquer condição. O estranho é uma oportunidade para se reinventar e esse é, por sua vez, material de que são feitos os novos e reveladores pontos de vista sobre a realidade.

Helena Varvaki em trabalho destacável de interpretação
Alexandre Dantas (Ian) e Gabriela Munhoz (Laura, Terapeuta, Desconhecida) apresentam construções cujas marcas garantem o sucesso obtido por Helena Varvaki (Juliana) na bela defesa de sua protagonista. O elenco, de um modo geral, colabora com o espetáculo através das minúcias de cada participação, oferecendo ao público leituras mais e menos profundas em um excelente quadro de interpretações. “A outra casa”, em direção sensível de Manoel Prazeres, alterna, evolui, cresce ao longo do tempo na riqueza dos detalhes: expressões pequenas, gestos comedidos, força bem equilibrada no desenho de encenação.

O maior mérito do autor, da direção e das interpretações, porém, se vê no modo como eles seguram o espetáculo na carência de seus recursos cenográficos. Dóris Rollemberg faz de rotunda uma estrutura pouco criativa que colabora nada com a beleza do conjunto. Acanhados, os figurinos de Letícia Ponzi perdem oportunidades. A luz de Renato Machado, alçada a enormes responsabilidades, tem méritos no auxílio à construção do ritmo e à composição dos tons ao lado das belas projeções em vídeo dirigidas por Rodrigo Turazzi e da trilha sonora de Rick Yates e de Renato Alscher.

Plateias cheias
Pela importância do tema, pelas belas atuações, mas principalmente pela habilidade em fazer refletir, o público merece uma segunda temporada bem longa de espetáculo tão valoroso. Por seu turno, a produção há de continuar ganhando plateias cheias.

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Ficha Técnica:
Texto: Sharr White
Tradução: Diego Teza
Direção: Manoel Prazeres
Assistente de Direção: Daniel Orlean
Elenco: Helena Varvaki, Alexandre Dantas, Gabriela Munhoz, Daniel
Orlean (substituído por Rick Yates)
Cenografia: Doris Rollemberg
Figurinos: Leticia Ponzi
Iluminação: Renato Machado
Trilha sonora: Rick Yates
Captação de imagens: Rodrigo Turazzi e Renaud Leenhardt
Edição de vídeo: Rodrigo Turazzi
Fotografias: Guido Argel
Programação visual: Flavio Luiz Pereira
Direção de produção: Rafael Fleury e Manoel Prazeres
Administração: Rosa Ladeira
Realização: Helena Varvaki, Gabriela Munhoz, Daniel Orlean e LMPR
Serviços Tecnológicos e Culturais Ltda
Divulgação: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação