segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A exceção e a regra (PR)

 Foto: Lair Júnior


Elenco em cena


Com problemas de direção, CoolHall traz importantes reflexões brechtianas a Cascavel


“A exceção e a regra”, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), é a mais nova produção teatral em cartaz na cidade paranaense de Cascavel. Ela é parte do Curso de Formação de Atores da Coolhall, cine-teatro e escola, que fica no bairro Alto Alegre, um pouco a leste do centro, e tem apresentações lotadas desde o dia 30 de novembro e vai até amanhã, dia 03 de dezembro, às 20h. Escrita entre 1929 e 1930, pertencente à 3a fase brechtiana, foi o 24o texto do autor, depois dos famosos “O casamento do pequeno burguês”, “O homem é um homem”, “Mahagonny”, “A ópera dos três vinténs” e “Santa Joana dos Matadouros”. O elenco é composto pelos alunos-atores concluintes do 2o semestre Cessi Dassi, Gi Masotti, Léo Aguiar, Lucas Wengrat, Sol Cozzatt e Vitor Deuner. A direção, cheia de problemas gravíssimos, é assinada pela professora da disciplina de Laboratório de Montagem Maia Piva, trabalho esse que afasta o espetáculo de melhores elogios. Vale a pena assistir pela força avassaladora do texto que sobreleva todo e qualquer problema da encenação felizmente, trazendo reflexões importantes para o hoje, quase um século após a sua escritura.

O precioso texto de Bertolt Brecht:
Por “A exceção e a regra” (“Die Ausnhame und die Regel”) se tratar de um clássico da dramaturgia ocidental, dispensar-se-ia o medo de spoilers. No entanto, evitá-los-emos como estímulo a quem deseja ir conferir a montagem hoje e amanhã e tirar as suas próprias conclusões. Pode-se, porém, dizer que a narrativa gira em torno de três personagens: o Coolie (ou Cule, ou Porter, ou Carregador), o Guia e Karl Langmann (o único personagem com nome), esse último um comerciante a caminho da cidade de Urga, na Mongólia (desde 1924, oficialmente chamada de Ulã Bator, a cidade mais fria e mais poluída do mundo), que, na dramaturgia, atraía pessoas em função da extração petrolífera. O roteiro, um rascunho do que, dez anos depois, veríamos em “Mãe Coragem e seus filhos”, cumpre o seguinte esquema: primeiro sai um, depois outro e, por fim, temos o protagonista sozinho. Já em termos estético-políticos, temos bem marcadas as funções sociais e as relações de poder entre as três figuras: o funcionário braçal mal pago e não sindicalizado, o intelectual protegido por sua classe e o aquele que tem poder porque tem o dinheiro. Durante a peça, vemos como essas peças se movem nesse tabuleiro de drama didática no mais conhecido método de Brecht: o distanciamento. Feroz inimigo da ilusão alienante teatral, Brecht fazia de tudo, em sua produção dramatúrgica dessa fase, para que o espectador jamais se esquecesse de que estava em uma plateia vendo uma peça e não mergulhasse nela sem esquecer-se da sua própria realidade.

“A exceção e a regra” só estreou em 1938 na Palestina, longe de Berlin. O Brasil fez sua primeira montagem do texto em 1954, dirigida por Alfredo Mesquita na Escola de Arte Dramática de São Paulo e, só dois anos após, é que a Alemanha (Oriental) assistiria a uma produção em sua língua materna, mesmo ano do falecimento de seu autor. As canções, que recheiam o texto, foram compostas pelo famoso Kurt Weill (1900-1950), amigo de Brecht de longa data e que tinha falecido alguns anos antes. A fonte primária para a narrativa foi um poema do lendário escritor chinês do fim do fim do século IX e início do século X: Han Shan, da dinastia Tang.

Os muitos problemas da encenação de Maia Piva e de sua equipe
Os problemas da encenação dirigida por Maia Piva podem ser analisados a partir de três perspectivas: a) a empolgação (e a preocupação) diante do conceito de “distanciamento brechtiano”; b) a falta de coerência na concepção da direção de elenco; e c) e mau uso do espaço tanto cênico quanto da infraestrutura teatral.

Para Bertolt Brecht, o teatro não era apenas entretenimento, mas principalmente um instrumento de educação política. Quando “A exceção e a regra” foi escrita, a Alemanha vivia os últimos anos da República de Weimar, um período de explosão cultural e de altíssimo consumo que dividia espaço com insuperáveis crises financeiras que advinham do Tratado de Versalhes, pós fim da 1a Guerra Mundial. Para completar, 1929 foi o ano da queda bolsa de Nova Iorque e o início da Grande Depressão nos Estados Unidos que afetou o mundo inteiro e pôs gasolina nos movimentos extremistas tanto de direita quanto de esquerda ao redor do mundo, esses que viriam a abrir caminho para a 2a Guerra Mundial. Então, seu teatro não era dirigido nem à elite deslumbrada e nem tampouco aos líderes políticos já conscientizados do se papel diante da defesa dos mais fracos, mas ao povo alienado e àqueles todos que queriam que esse povo permanecesse entorpecido. O texto de “A exceção e a regra” já traz em suas próprias linhas o conceito de distanciamento: 1) é um texto curto, sua encenação não passa de sessenta minutos; 2) há a quebra da quarta parede (quando os atores se dirigem abertamente ao público despidos das máscaras expressivas) em vários momentos; 3) não há cenário e, em seu lugar, as cenas são ditas de forma descritiva, anunciando a evolução da narrativa sem qualquer disfarce; 4) as falas são recheadas de teses sócio-políticas: “um homem forte dormindo não é mais forte que um homem forte acordado”, por exemplo. Tudo isso, porém, não pareceu ser o bastante para Maia Piva. No espetáculo que ela assina, vemos figurinos com texturas atuais, maquiagem em alguns mais, em outros menos exagerada, utensílios das mais diversas fontes estéticas: desde guarda-chuva no lugar de uma tenda, passando por um ursinho de pelúcia sintético e chegando a um cantil de plástico não-térmico. Ou seja, uma confusão de “sabores” que faz derramar o copo já cheio do nada simples texto original.

Quanto ao segundo ponto, Maia Piva parece ter confundido Distanciamento Brechtiano com Commedia Dell Arte na direção das interpretações dos personagens Esposa (Sol Cozzatti), Karl Langmann (Vitor Deuner) e Juiz (Lucas Wengrat). É muito perceptível uma referência animalesca na composição desses personagens bem a la teatro popular medieval e moderno italiano. Nada disso se vê na interpretação extremamente neutra do Estalajadeiro (Ceci Dassi). E o que se encontra na construção do Carregador (Léo Aguiar) é um processo contínuo de busca do seu lugar nessa selva de referências interpretativas tão distintas. A impressão que se tem do resultado é que não houve uma concepção coerente, mas um “salve-se quem puder” terrível.

Vale, no entanto, destacar *com ênfase* que o elenco é formado por alunos que estão aprendendo a arte de atuar. Nesse sentido, a cada um deles se deve todos os aplausos pela coragem, pelo desprendimento, pela entrega, pela abnegação, pelo interesse em descobrir suas ferramentas expressivas e expô-las ao público, o que não é coisa pouca! Não seria nada justo responsabilizá-los pelos problemas de seus trabalhos interpretativos. Ao contrário, o que se deve é valorizá-los por manter acesa a ancestral e multimilenar tradição teatral e por lotar plateias trazendo à Cascavel, uma cidade tão distante da capital Curitiba, uma peça tão importante quanto “A exceção e a regra”. A eles, toda honra, glória e louvor.

Sobre o terceiro ponto, é notório que Maia Piva não teve a real percepção nem do espaço cênico, nem do espaço teatral. Pelo primeiro, quer-se dizer sobre o palco em si e suas possibilidades. Quase toda a peça acontece no proscênio, as movimentações corporais são mínimas (ao contrário das expressões gestuais e faciais), o palco é muito mal utilizado e ainda prejudicado por um horrível pallet situado no centro que tem dois pequeníssimos e super dispensáveis usos ao longo da apresentação. Pelo segundo, por espaço teatral, quer-se dizer sobre a infraestrutura do teatro em si. O CoolHall é um teatro com pouco mais de cem lugares. Ou seja, cada mínimo detalhe é grande e definitivamente não precisa ficar maior. Então, o pequeno espaço cênico é usado como se menor fosse, perdendo a oportunidade de usar-lo melhor, e o igualmente pequeno espaço teatral é utilizado como se enorme fosse, cansando o olhar da plateia com duas interpretações carregadíssimas, objetos e figurinos sem qualquer coerência e um visagismo circense.

Por tudo isso, a direção não melhor que péssima. Quem assina a maquiagem é Mateus Spindola, a expressão vocal é Regina (?), a expressão corporal e a improvisação é Virgínia Tosta e a direção de interpretação é assinada por Cleci Pagnussati. Obviamente todas essas pessoas dividem com Maia Piva os problemas da peça e seria injusto sobrecarregá-la de avaliações negativas, estando ela com numeroso, mas aparentemente ausente, suporte.

“A exceção e a regra” hoje
O modo como se analisa a relação entre as classes e os papeis sociais hoje, no Brasil e no mundo, não é o mesmo como se via há quase cem anos na Europa. Enquanto de um lado se discute a escala de trabalho 6x1, de outro estamos diante de uma franca uberização horrendamente orgulhosa. Se, por uma parte, há quem reconheça a importância da CLT, os benefícios das convenções coletivas de trabalho, dos sindicatos e da manutenção da previdência social, há uma parcela importante da população que, sendo não mais que um camelô, se entende tão empreendedor como um CEO de uma holding internacional. Brecht nunca se fez tão necessário e ao mesmo tempo tão obsoleto paradoxalmente. No entanto, “A exceção e a regra” ainda propõe uma mensagem importante: nem sempre a regra é a verdade apesar de suas máscaras. Os verdadeiros e piores ladrões não estão nos morros, nas favelas, nas escuras, roubando celulares. Os mais temíveis malfeitores estão nos restaurantes mais caros, fazendo o dólar subir para obrigar o governo a manter, por exemplo, quem ganha menos de cinco mil reais por mês pagando impostos enquanto os superricos nada devem. Sim, no Brasil de dezembro de 2024, o dono de um Pálio 2017 paga IPVA enquanto o dono do jato mais caro já fabricado no mundo, um brasileiro, não paga um centavo de imposto. “No que parece normal, vejam o que há de anormal! No que parece explicado, vejam quanto não se explica!”

O espetáculo fica em cartaz ainda hoje e amanhã às 20h. É correr para garantir o seu lugar em parallela.art.br.

***

Ficha técnica:
Texto: Bertolt Brecht
Direção: Maia Piva
Maquiagem e Figurino: Mateus Espíndula
Expressão Vocal: Regina
Expressão Corporal e Improvisação: Virgínia Tosta
Interpretação: Cleci Pagnussatti

Elenco:
Cessi Dassi
Sol Cozzatti
Léo Aguiar
Gi Mazzotti
Vitor Deuner
Lucas Wengrat

Produção: Lair Júnior e CoolHall Cine-Teatro e Escola

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Sangue e pudins (RS)

Foto: divulgação

Elison Couto e Li Pereira

De um lado, belo texto. De outro, belo espetáculo


“Sangue e pudins” é a mais nova produção teatral dirigida por Luciano Alabarse, um dos diretores mais conhecidos e respeitados do sul do Brasil. Trata-se de uma releitura da peça teatral “Shopping and fucking”, do inglês Mark Ravenhill (1966), pincelada com trechos do romance semi autobiográfico do americano Brontez Purnell (1982) “Johnny, would you love me if my dick were bigger?”. Muito bom sob vários aspectos, o espetáculo pauta questões que envolvem consumismo, (homos)sexualidade, solidão e relações humanas, mas é principalmente uma homenagem aos anos 90. Angela Spiazzi (Lulu), Elison Couto (Gary), Jaques Machado (Robbie), Li Pereira (Mark) e Pingo Alabarce (Brian) estão no elenco apresentando boas interpretações, com destaque para os ótimos trabalhos de Spiazzi e sobretudo de Couto, esse último que, como normalmente, abrilhanta as peças nas quais atua. O trabalho estreou em janeiro de 2024 e pretende voltar à cena em abril ainda desse ano. É bem interessante conferir.


O ótimo casamento entre “Shopping and fucking” e “Johnny”: a adaptação de Alabarse.

O enredo de “Sangue e pudins” mantém quase que em sua integridade o de “Shopping and fucking”, peça escrita em 1995 e que foi um hit em Londres em 1996. No Brasil, houve uma primeira montagem em 1999 dirigida por Marco Ricca; uma segunda, em 2007, por Fernando Guerreiro; e uma terceira, em 2016, por Jopa Moraes.

Um dia, em um supermercado, o rico Mark (Li Pereira) compra dois jovens de sua idade: Lulu (Angela Spiazzi) e Robbie (Jaques Machado). Juntos, os três formam um certo de tipo de família, andando sempre juntos em festas, orgias, todo o tipo de experiência que envolve comida, drogas, sexo e música. Quando a história começa, Mark, recém diagnosticado como portador do HIV, não está bem de saúde, provavelmente em função de mais uma noitada de bebidas e heroína. Então, por sua própria conta, decide abandonar Lulu e Robbie (com quem tem uma relação afetiva um um pouco mais profunda) e ir para uma clínica de reabilitação. A partida do “provedor da casa”, deixa os dois em apuros: é preciso sustentarem-se. E, assim, comida congelada passa a fazer parte da rotina. Em busca de uma oportunidade, Lulu vai a uma agência de atores. Lá ela se encontra com Brian (Pingo Alabarce) e recita para ele um lindo trecho de “O canto do cisne” (1887), do russo Anton Tchekhov. Ele, porém, tem outro trabalho em mente para a desempregada. Sem outra opção, ela aceita, mas seu roommate Robbie (Jaques Machado) acaba estragando tudo e criando, para a dupla, um problemão fenomenal.

Do outro lado da narrativa, “Sangue e pudins” desenvolve uma trama paralela. Tendo sido sempre, desde muito criança, violado de todas as formas por parentes e pessoas estranhas, Gary (Elison Couto) hoje é um jovem michê (garoto de programa). Seu fantasma maior é seu padrasto, aquele que mais vezes o estuprou. Na adaptação de Alabarse de “Shopping and fucking”, o personagem Brian é o mesmo que “contrata” Lulu (no original de Ravenhill, não). Brian, uma espécie de “príncipe das trevas” no original, é apaixonado por “The lion king”, mas aqui ressalta a música como a maior criação de Deus. E, ainda na comparação com o original, Mark é expulso do centro de reabilitação, enquanto aqui, em “Sangue e pudins”, ele afirma mais de uma vez que saiu do lugar por sua própria vontade.

Ao voltar ao apartamento que dividia com Lulu e Robbie, Mark não é bem recebido. E suas novas decisões de vida o fazem encontrar-se com Gary, de modo que é, nesse momento, que as duas pontas de “Sangue e pudins” se unem. Ainda que Gary tenha cenas muito marcantes, é Robbie o personagem mais bem desenvolvido por Ravenhill mesmo na adaptação de Luciano Alabarse.

Contemporânea do musical “Rent”, de Jonathan Larson; e da peça “Closer”, de Patrick Marber, o texto “Shopping and fucking” envelheceu. Seus personagens são os jovens adultos frutos do neoliberalismo de Margareth Thatcher e Ronald Reagan que atormentaram suas infâncias. De um lado, a comida e o amor congelados; de outro, as drogas e o sexo como fantasmas assassinos. Essa dualidade já hoje em dia exige muita força para ser comparada com o mundo pós internet. Em outras palavras, é difícil trazer aquelas questões para o hoje sem muito esforço. E é aqui que entra o mérito do casamento de “Shopping and fucking”, de Ravenhill, com “Johnny, would you love me if my dick were bigger?”, de Purnell.

“Sangue e pudins” dosa bastante bem as cenas de ação com pequenos monólogos que exibem reflexões introspectivas dos personagens.  Escrito em 2015 e publicado um ano depois, o romance “Johnny…” participou, junto com outros textos do mesmo autor, de uma leitura dramática em Berlin, em setembro de 2023. Brontez Purnell, musicista, artista visual, bailarino e escritor, é um jovem conectado com o hoje e, como tal, reconhece as diferenças entre a contemporaneidade e os anos 90 no que se trata de consumismo, uso de drogas, práticas sexuais e solidão. São seus textos, em “Sangue e pudim”, que conectam o público ao espetáculo e aos personagens, promovendo reflexões bastante válidas que oxigenam a montagem. O título da peça vem de uma música de Fagner e Fausto Melo, interpretada por Simone e que faz parte de um disco lançado em 1976. Na letra, a frase: “Não quero saber quem sou, morro de medo” simboliza um vórtice de todas as questões abordadas no espetáculo. Lulu, Robbie, Brian e principalmente Mark e Gary só se reconhecem a partir de suas relações com as demais pessoas, pois não têm identidades próprias.


A direção boazinha com os personagens

A concepção de direção de Luciano Alabarse é bastante paradoxal. De um lado, “Sangue e pudins” é uma obra bonita de se ver porque esteticamente está muito vinculada aos anos 90: suas cores, estampas, modelagens, valores. Qualquer um que se lembre do apartamento da Mônica de “”Friends” vai achar visualmente bonito o que se vê em cena. Por outro lado, a beleza da produção atrapalha a violência, o escárnio, a acidez, a solidão, a desesperança da dramaturgia. A performance de “Help!”, dos Beatles, em que Jaques Machado dubla Miley Cyrus (?), é um desses momentos exemplares: belíssimo de um lado, mas pouco contribuinte de outro. E, encadeados a essa concepção, caminham o lindo desenho de luz de Maurício Moura e João Fraga, que tornam o espetáculo quase um musical adocicado da Broadway; os incríveis figurinos do grupo; o cenário assinado pelo diretor; e as ricas coreografias de Angela Spiazzi. Tudo isso parece ser de um espetáculo enquanto o texto é de outro. Um ponto de vista realmente negativo e sem contradições é a trilha sonora de Luciano Alabarse. É como se não houvesse um só instante de silêncio ao longo dos 120 minutos de duração da peça, o que alivia a dureza que os personagens deveriam sentir em suas extremas solidões e faltas de perspectiva. Em resumo, a direção parece ser muito “boazinha” com os personagens.


A brilhante interpretação de Elison Couto

Quanto às interpretações, a primeira coisa que deve ser dita é que Angela Spiazzi (Lulu), Pingo Alabarce (Brian) e principalmente Elison Couto (Gary) revelam ter técnica vocal bastante positiva para a defesa do espetáculo. Tudo o que eles dizem é compreensível: cada sílaba, cada entonação, o que nos faz recordar um tempo distante em que os atores, em geral, não precisavam de microfones de lapela para qualquer obra. O mesmo não se pode dizer infelizmente de Jaques Machado (Robbie) e sobretudo de Li Pereira (Mark). No caso deles, ouvem-se mais os gritos e as intenções bruscas do que o que realmente deve ser ouvido - as palavras. Pereira, em especial, praticamente diz todas as suas falas com a mesma entonação, sem nuances, sempre com muito esforço, nenhuma técnica, de maneira muito perigosa para suas cordas vocais e bastante monótona para a plateia.

Já foi dito, mas é possível repetir que Angela Spiazzi e Jaques Machado tem poucas oportunidades de mostrar variáveis de expressão, pois seus Lulu e Robbie respectivamente têm curvas muito limitadas já no roteiro. Lulu para na solução do problema do dinheiro que deve a Brian e Robbie tem toda a sua flexão nos ciúmes de Gary, e quase nada além disso. No entanto, ambos, mas principalmente Spiazzi dão a ver ótimos trabalhos com o pouco que têm, aproveitando bastante bem as possibilidades. Pinto Alabarce (Brian) praticamente não contracena, isto é, em boa parte da peça, seu personagem está sozinho. No entanto, o ator, cheio de ótimas oportunidades, agarra-as com galhardia ao que lhe é oferecido com destaque para a cena da cobrança de Lulu. Li Pereira (Mark), aquele que foi agraciado com o melhor personagem do roteiro, é o que menos tira proveito do texto. Tendo uma curva narrativa cheia de nuances, ele oferece uma interpretação linear que, no máximo, vai do 8 ao 80: ou está quase imóvel, ou está em explosão.

Elison Couto (Gary), com muitos mais anos de vida que o personagem que interpreta, apresenta uma defesa nada menos que brilhante em “Sangue e pudins”. Desde a verdade da sua dor física ou psicológica até a verdade irônica da forma como ele ridiculariza a si próprio em uma espécie de automutilação, o ator nutre a peça com detalhes riquíssimos de teatralidade. Há tantas variações de expressividade que fica difícil para o público digerir seu Gary, o que é motivador, pois tudo o que um bom espectador quer é sorver aos poucos o espetáculo que se descortina diante de si. Couto oferece, vibrantemente, um espetáculo à parte, fugindo dos lugares mais fáceis, investindo em segundos níveis e explorando as melhores dúvidas sobre sua composição, enquanto esconde a cristalização (se é que ela existe). Sem dúvida, é o que há de melhor em “Sangue e pudins”.


Escolher e aplaudir

Embora seja assim que o espetáculo se apresenta em seu programa entregue na bilheteria e divulgado nas redes sociais, “Sangue e pudins” é muito pouco sobre violência e muito mais sobre anos 90. Está muito mais próximo dos “Doc.s musicais”, dirigidos por Frederico Reder e Marcos Nauer no Rio de Janeiro, do que realmente sobre a dor. Para exemplificar, há uma cena em que os contrarregras Alexei Goldenberg e Vini Gomes correm com uma enorme bandeira LGBT em uma cena linda que pauta o falecimento de milhões de homossexuais durante a década em função do vírus HIV. O quadro trata-se de um tópico de check-list de tudo o que se passou no período e que não pode deixar de ser tematizado na opinião dessa concepção. Com isso, quer-se dizer que, na hora de assistir, o público terá que escolher se se deslumbra por toda a enorme coleção de lindas presenças estéticas ou se mergulha no texto, no personagem e na história narrada. Há que se escolher e, depois então, aplaudir!


*


Ficha técnica:

textos originais de Mark Ravenhill (“Shopping and fucking”) e Brontez Purnell (“Johnny, would you love me if my dick were bigger?”) com adaptação de Luciano Alabarse.


Direção, Cenário e Trilha Sonora: Luciano Alabarse

Coreografias: Angela Spiazzi

Iluminação: Maurício Moura e João Fraga

Figurinos e Maquiagem: O grupo


Elenco por ordem alfabética:

Angela Spiazzi - Lulu

Elison Couto - Gary

Jaques Machado - Robbie

Li Pereira - Mark

Pingo Alabarce - Brian


Contrarregras:

Alexei Goldenberg

Vini Gomes


Produção Executiva: Jaques Machado Produções Artísticas

Assistente de produção: Vini Gomes

Operação de Som: Manu Goulart

Fotos: Juliana Alabarse e Mariano Czarnobai Jr.

quinta-feira, 31 de março de 2022

Barnum - O Rei do Show (SP)

Foto: divulgação




Respeitável público, um excelente espetáculo chegou!

Até o dia 30 de abril, o belíssimo musical “Barnum - O Rei do Show” estará em cartaz no Teatro Casa Grande, na zona sul do Rio de Janeiro. A montagem, com excelente direção do estreante Gustavo Barchilon e com versão brasileira assinada por Cláudio Botelho, embeleza a programação teatral carioca. A peça é a primeira montagem nacional de “Barnum”, que estreou há 42 anos na Broadway. Ela celebra um personagem importante da história do mundo circense norte-americano, o Phineas Taylor Barnum (1810-1891), mas, para o público daqui, relembra e defende a magia do circo, a vibração de um espetáculo com altos padrões e o poder da arte. Nas atuações, a produção tem Murilo Rosa em excelente interpretação do papel-título, acompanhado pelas muitas vezes elogiades (e ainda aqui) Sabrina Korgut, Giulia Nadruz, Guilherme Logullo e Tauã Delmiro, mas também por Murilo Ohl. As coreografias de Alonso Barros, o desenho de luz de Maneco Quinderé, o cenário de Rogério Falcão e o figurino de Fábio Namatame são grifes que não surpreendem em oferecer altíssimo padrão de qualidade à obra. A crítica será estendida nos parágrafos a seguir, mas, para quem quiser parar de ler agora, vale dizer que eis aqui algo a ser visto e aplaudido. Isso sobretudo dito por causa dos maravilhosos trabalhos expressivos do elenco de apoio, esse que eu faço questão de nominar também: Ana Araújo, Bruno Ospedal, Diva Menner, Fernanda Muniz, Flavio Arcoverde, Gabriela Camissoti, Giu Mallen, João Siqueira, Juliano Alvarenga, Luan Pretko, Luisa Vianna, Marcos Fagundes, Marcos Lanza, Preto Viana, Rafael Barbosa, Raphael Silva, Renata Ricci, Rodrigo Silva e Sara Milca.

Sucesso de crítica nos Estados Unidos
Lançado na Broadway, no final de abril de 1980, “Barnum” não foi um grande sucesso de público ainda que tenha tido muitos elogios da crítica especializada. O compositor Cy Coleman, que quatorze anos antes havia feito algum sucesso com “Sweet Charity” (mais pelas coreografias de Bob Fosse) estava ao lado de Jim Dale, ator já reconhecido e premiado no teatro e figura conhecida no cinema. Glenn Close também estava no elenco unida a um grande grupo de artistas circenses e excelentes cantores e dançarinos. O que realmente faltava era uma boa dramaturgia. Mark Bramble (1950-2019) e Michael Stewart (1924-1987), os roteiristas, estavam muito envolvidos com o musical “42nd Street”, que ganharia os palcos alguns meses mais tarde (e que está agora para ser montado no Brasil pela Touché Entretenimento), e não encontravam uma boa chave de conflito para a encenação. De um modo geral, parece que, desde o princípio, se sabia que o mais importante do projeto não seria a história de P. T. Barnum, mas os números de circo que a produção ofereceria ao público.

A história parte de uma oposição a la “O feijão e o sonho” (lembrar da obra de Orígenes Lessa) entre um marido sonhador que pertence ao mundo das artes versus uma esposa prática e preocupada com as contas da casa. Avança por um conflito matrimonial, com a chegada de uma cantora sueca que renova a inspiração do protagonista, e por seu envolvimento com a política. E termina com o retorno circular da narrativa ao ponto inicial. De fato, o espetáculo primeiro ficou apenas dois anos em cartaz, um tempo relativamente inferior aos quase 9 anos de “42nd Streeet”. Quanto às premiações, obteve 10 indicações ao Tony, mas ganhou apenas 3 estatuetas: Melhor Cenário, Melhor Figurino e Melhor Ator (Jim Dale). O grande espetáculo de 1980 foi “Evita”, de Andrew Lloyd Weber, que ganhou 11 indicações e 7 troféus, incluindo Melhor Espetáculo. (“42nd Street” estreou no fim de agosto de 1980 e, por isso, ficou elegível para o Tony de 1981, quando venceu a categoria de Melhor Espetáculo.)

“Barnum”, no entanto, é uma peça americana e que trata da história de um personagem americano. P. T. Barnum realmente existiu, tendo nascido e vivido por noventa anos ao longo do século XIX. Ele era um homem que se tornou célebre por seu teatro de variedades, uma espécie de “Domingão do Faustão” da época: um espetáculo com números musicais, animais exóticos e personagens peculiares - a mulher mais velha do mundo, o homem mais baixo do mundo, a família de anões, o homem mais peludo, a pessoa albina. Seu teatro era chamado de “museu” por ser um local de abrigo a toda sorte de “curiosidades”, seja lá o que isso queria dizer naquela época em relação com o que politicamente correto se permite pensar ou falar hoje em dia. Joice Heth, por exemplo, que aparece como uma das personagens do musical “Barnum”, também existiu. Ela foi uma mulher preta sobre quem se dizia ter sido escravizada pelo pai de George Washington e, portanto, a babá do 1º presidente dos Estados Unidos. Isso faria com que ela contasse por volta de 160 anos de vida quando foi adquirida por Barnum e exibida no show, assim como outros de seus escravizados. Membro primeiramente do Partido Democrata e depois do Partido Republicano, Barnum atravessou o período da Guerra Civil Americana (1861-1865) com dificuldades. Foi prefeito e depois deputado estadual em Connecticut, um pequeno estado litorâneo ao norte de Nova Iorque e ao sul de Washington. A mudança de partido se deu pelo fato de que Barnum era contra a escravidão e seus posicionamentos foram provavelmente um dos motivos pelos quais seus teatros foram incendiados, pelo menos, duas vezes. O circo só foi entrar na vida de Barnum em 1870, cinco anos após o fim da guerra, como meio de ele se levantar financeiramente. O projeto de espetáculo itinerante foi criado quando Barnum se uniu a James Anthony Bailey (1847-1906) e sobreviveu, vejam só!, até 2017, ou seja, por 147 anos! Faliu devido a um conjunto de fatores, mas sobretudo por causa da proibição total do uso de animais selvagens em espetáculos artísticos. “Barnum”, após ter saído da Broadway, em 1982, fez apresentações na rua e também dentro do circo Barnum & Bailey. O estranho é o modo como o espetáculo se propõe a tratar de Barnum, colocando a nome no título, mas sem tratar das contradições e das profundidades desse homem importante da história das artes nos Estados Unidos. Faz lembrar de um espetáculo produzido no Brasil há alguns anos sobre Cássia Eller (1962-2001) que não fazia quase qualquer referência ao uso de drogas pela cantora em respeito à família dessa importante e saudosa artista brasileira.

Todas as questiúnculas trazidas acima sobre a superficialidade do roteiro de “Barnum” em relação a P. T. Barnum, que lhe nomeia enquanto obra artística, se foram consideradas problemas para a montagem americana, no Brasil, por outro lado, são positivos meios de acesso. Se o roteiro original da peça aprofundasse qualquer coisa sobre a figura homenageada, mais difícil seria para o público brasileiro se aproximar do espetáculo. Nesse sentido, é bom para nós que o Barnum de “Barnum” seja um mero joguete nas mãos de roteiristas que estão pensando no aspecto comercial do trabalho. A versão brasileira - “Barnum - O Rei do Show” - quase não tem qualquer link com a biografia de uma pessoa em específico, mas com os desafios, os maus bocados e as glórias de uma vida dedicada à arte circense. No palco, estão os malabarismos, a palhaçaria, os números de canto, dança e variedades (não há mágina infelizmente), uma menção à participação de animais (há uma cena de “elefante”) e a ênfase no risco físico. André Carreira, célebre pesquisador em Artes Cênicas na UDESC, trata sobre o poder do risco físico no teatro. Segundo ele, quando um homem está verdadeira e presencialmente diante de um outro homem que corre algum risco de vida, de maneira imediata, o primeiro se põe em estado de alerta. Numa das cenas, Murilo Rosa faz a plateia inteira do enorme Teatro Casa Grande prender a respiração. Nesse momento, toda a glória do canto, da dança, dos figurinos, da luz, do cenário, das interpretações fica em segundo plano. E isso nos faz recordar o quanto o circo, enquanto um ramo das artes cênicas, é um patrimônio universal a ser mantido e bem cuidado nessa viagem fria que fazemos pelo mundo digital.

Linda interpretação de Murilo Rosa
“Barnum - O Rei do Show” estreou em outubro de 2021 em São Paulo quando a flexibilização das medidas adotadas em prevenção à Covid-19 começou. E está em cartaz no Rio de Janeiro até o fim desse mês de abril de 2022. Sabrina Korgut (Sra. Charity Barnum, a esposa do protagonista) e Giulia Nadruz (a cantora sueca) fazem brilhar seus talentos musicais em personagens originariamente pouco profundos e bastante restritos. É uma pena ver os tantas vezes elogiados (e não menos aqui) Guilherme Logullo e Tauã Delmiro em personagens tão pequenos (respectivamente Bailey e Goldschmidt), mas sabemos que isso faz parte do jogo. E é ótimo conhecer Murilo Ohl (Tom Polegar) em um número tão difícil, que acontece logo após uma ótima cena e está em suas mãos manter ou resgatar a atenção da plateia após o relaxamento, desafio esse que ele vence positivamente. Diva Menner (Joice Heth) e Luisa Viana (Sra. Stratton) oferecem muito pouco para ser analisado positiva ou negativamente, isso muito provavelmente devido ao roteiro e não às suas potencialidades expressivas particulares.


O que se pode dizer da interpretação de Murilo Rosa? Sem medo do adjetivo, ele está lindo. E “lindo” é uma palavra muito difícil de ser usada numa crítica de teatro. Ela é escolhida aqui, porque o ator consegue defender seu personagem de maneira brilhante, conferindo ao protagonista um aspecto infantil, ingênuo, sensível para além de todas as adversidades. Mil problemas acontecem na jornada desse herói ao longo da narrativa e a relação dele com a esposa é um aspecto bem importante, mas Rosa mantém sempre um brilho nos olhos e um sorriso cativante no rosto pelo qual a gente se apaixona e mantém a confiança (e a esperança) por todo o espetáculo. Para além disso, deve-se dizer que o ator, assim como todo o elenco, mantém, sob a direção de Gustavo Barchilon com assistência de Vanessa Costa, excelente ritmo e excelente dicção, de modo que os diálogos não atrapalham em nada, mas só contribuem com o ótimo ritmo da peça. As cenas são rápidas, as marcações precisas e Rosa, Barchilon e toda a equipe assinam uma obra muito bem articulada.

O melhor e mais bonito de toda a peça, tal como aconteceu na Broadway, em Londres e em todos os lugares onde “Barnum” foi montado profissionalmente, e o que é mais interessante, é o aspecto circense. Bruno Ospedal, Luan Pretko, João Siqueira, Juliano Alvarenga, Marcos Fagundes, Rafael Barbosa e Rodrigo Silva apresentam um trabalho corporal de primeiríssima grandeza que, por si só, se nada mais houvesse na produção, já valeria o valor do ingresso. Todos esses profissionais, ao lado do elenco de apoio, renovam a certeza de que a arte melhora o mundo.

Sobre os aspectos técnicos, como se disse na introdução, “Barnum - O Rei do Show” tem a qualidade da assinatura Cláudio Botelho e sua equipe costumaz. As cores bem postas, tudo bem acabado, cheirando a ouro. O cenário de Rogério Falcão, o desenho de luz de Maneco Quinderé e sobretudo a coreografia de Alonso Barros com o figurino de Fábio Namatame e visagismo de Dhiego Durso e Feliciano San Roman são esplêndidos. Fosse um filme cujos quadros pudessem ser admirados em partes, inúmeros detalhes poderiam ser destacados: o primeiro figurino de Giulia Nadruz (Jenny Lind) é um pequeno grandioso exemplo. A cena de “A banda” (“Come follow the band”) é outro. Nele, e em diversos momentos e detalhes, se vislumbra, a beleza da direção musical de Thiago Gimenes com letras de Cláudio Botelho, mas esse elogio fica evidente pela responsabilidade (e peso) de apresentar uma trilha praticamente desconhecida no Brasil. “Barnum”, como já se disse, não é um daqueles musicais standards, cujas melodias ou letras o grande público conhece. E sair do teatro cantarolando as canções é mérito de quem as trouxe, no caso, a BARHO Produções.

Viva o circo!
O circo é uma arte multimilenar que teve sua origem na China, tendo se alastrado pelo mundo através do Império Romano. No Brasil, chegou via Estados Unidos na década de 30 do século XIX em uma era anterior a P. T. Barnum. Segundo dados da Associação Brasileira de Artes, Cultura e Diversões Itinerantes (ABACDI), há atualmente 651 circos no Brasil, sendo 40% desse montante do Nordeste e outros 40% da região Sudeste do país. Vale a pena assistir a um documentário sobre como muitas dessas empresas sobreviveram à pandemia clicando aqui. Em nossa história, o dia 27 de março é a data em que se comemora o dia do circo em homenagem a Abelardo Pinto (1887-1973), o Palhaço Pilion, que aniversariava nesse dia. Ele, seu irmão Ankito (1924-2009) assim como o nosso contemporâneo Frederico Reder, dono da Reder Circus, é o nosso P. T. Barnum, tendo dedicado sua vida ao circo seja sob a lona, seja dentro de um teatro. “Barnum - O Rei do Show” é uma excelente oportunidade para se conhecer a história artística da nossa ancestralidade, mas também sorrir, chorar e se encantar com um espetáculo vibrantemente produzido. Aplausos!

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FICHA TÉCNICA
Direção Geral: Gustavo Barchilon
Versão Brasileira: Cláudio Botelho
Direção Musical: Thiago Gimenes
Coreografia/Dir. de Movimento: Alonso Barros
Figurino: Fábio Namatame
Cenógrafo: Rogério Falcão
Iluminador: Maneco Quinderé
Design de Som: Tocko Michelazzo
Visagismo: Dhiego Durso
Perucaria: Feliciano San Roman
Diretora Residente: Vanessa Costa
Coordenadora do Circo: Alessandra Abrantes
Instrutora de Circo: Cinthia Nunes
Assistente de coreografia: Cecília Simões
Tradução: Cláudia Costa
Adaptação: Gustavo Barchilon

Murilo Rosa como P.T Barnum
Thiago Machado como P.T Barnum alternante
Sabrina Korgut como Charity
Giulia Nadruz como Jenny Lind
Diva Menner como Joice Heth
Murilo Ohl como Tom Polegar / Swing
Guilherme Logulo como Bailey
Marcos Lanza como Amos Scudder
Luisa Vianna como Sra. Stratton
Tauã Delmiro como Goldsmith

Trupe do Circo: Renata Ricci, Ana Araújo, Bruno Ospedal, Fernanda Muniz, Sara Milca, Gabriela Camissoti, Giu Mallen, Preto Viana, Juliano Alvarenga, Marcos Fagundes, Rafael Barbosa, Flavio Arcoverde, João Siqueira, Luan Pretko, Raphael Silva e Rodrigo Silva.

Diretor de Produção: Thiago Hofman
Produtora Executiva: Graziele Saraiva
Coordenadora Financeira: Thamiles França
Coordenadora Administrativa: Renata Stilben
Coordenadora do Projeto: Natália Egler
Assistente de Produção: Leandro Leal
Assessoria de Imprensa: Trigo Comunicação
Realização: BARHO Produções