quinta-feira, 13 de setembro de 2018

7a Mostra de Teatro Cenáculo (RJ)

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Foto: divulgação

10 espetáculos se encontram com o público de Duque de Caxias

Na imagem, a equipe organizadora, os jurados e os vencedores

A 7ª Mostra de Teatro Cenáculo, realizada pela Cia. Cerne e pela SZ Comunicação, reuniu, no Teatro do SESI em Duque de Caxias, dez espetáculos teatrais entre os dias 1 e 2 de setembro. Todas as apresentações foram gratuitas e distribuídas nos três turnos de cada dia do final de semana. As produções participantes disputaram 16 troféus entregues a partir da opinião da equipe realizadora (Melhor Produção), do público (Melhor Espetáculo por júri popular) e dos jurados: Marcos Covask, Márcio Vasconcellos e eu. Destacaram-se positivamente os espetáculos “Uma mala para dois palhaços”, da IneptaCia (Belford Roxo/RJ); “Omi – Do leitor ao mar”, da Cia. Ávida (São Gonçalo/RJ); e principalmente “Querida Celie...”, da Espaço Núcleo (Limeira/SP). Abaixo alguns comentários gerais sobre todos os espetáculos apresentados. 

1º dia – 1º de setembro 
“Gramellôs – o show”, do Núcleo GEMA (Rio de Janeiro/RJ), é um espetáculo que explora bem a linguagem clownesca. Na proposta de narrativa, dois palhaços são chamados para apresentarem seus trabalhos na mesma hora e local, tendo que dividir o picadeiro. Todas as situações que preenchem o tempo surgem, então, a partir dos sabores e dos dissabores dessa disputa. Apesar de apresentarem excelente conexão com o público, a montagem defendida pelos atores Tiago Carva (Palhaço Churumello) e Renato Garcia (Palhaço Gracinha) perdeu diversas possibilidades de explorar melhor alguma poética que trouxesse mais beleza e profundidade à cena. Dirigida por Chicho Chochim, eis uma boa peça! 

“Nabila”, da Carranca Coletivo (Rio de Janeiro/RJ), esforçou-se para explorar diversas temáticas sem propriamente se sair bem em quase nenhuma delas. No texto de Fernanda Báfica e de Gabriel Aquino, apenas a questão da velhice conseguiu melhor destaque, talvez por ótima interpretação de Araci Breckenfeld, que interpretou o personagem título. A direção de arte de Analu Prestes, a iluminação de Fernanda Mantovani e criação musical de Cayê Milfont também foram aspectos positivos. Além de Breckenfeld, Natally do Ó, Thiago Carvalho e Mariana Queroz também atuaram, essa última em postivo destaque. A peça tem sua direção assinada por Báfica e por Juracy de Oliveira. 

“Lima entre nós: estudo compartilhado – a atualidade de Lima Barreto”, da Queimados Encena (Queimados/RJ), é um espetáculo que tem como maior mérito o de se debruçar, em seu processo, nos escritos não-ficcionais de Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922). Autor carioca mais conhecido pelo romance “Triste fim de Policarpo Quaresma”, o escritor deixou diversas reflexões pouco lembradas senão pelo esforço do grupo dirigido, nesse trabalho, por Márcia do Valle. Apesar de bom trabalho de interpretação, o ator Leandro Santanna não tem ferramentas dramatúrgicas que espante a monotonia do espetáculo. Do início ao fim, uma sucessão de tempos mortos são resultados de inúmeras reflexões filosóficas de várias ordens que, sem trazer qualquer movimento, faz a plateia dormir. Uma pena! 

“Lixo no lugar errado, tô fora!” é uma deliciosa comédia educativa da Cia. Arte Popular (Duque de Caxias/RJ). Através de uma dramaturgia simples e bem escrita de Cesário Candhí e com uma direção positivamente pouco aparente de Tom Pires, o espetáculo é leve, divertido e educativo, atingindo plenamente todos os seus objetivos. Na narrativa, Dona Rosilda (Eve Penha) é surpreendida por sua vizinha Mariquita (Nancy Calixto) ao jogar lixo fora do horário do caminhão de coleta. O gesto atrai ratos e baratas para o local e dificulta o trabalho de catadores que, muitas vezes, ganham a vida através da reciclagem. Com ótimas canções originais de Beto Gaspari, que as interpreta ao vivo, a peça levantou a plateia com seu enorme carisma. Além do diretor e do músico, Pedro Lages também esteve no elenco em positivo destaque. 

“O Pulgo e o Elefante – o que conta o Sabiá” (Rio de Janeiro/RJ) sugiu a partir do romance infanto-juvenil “História de dois amores”, de Carlos Drummond de Andrade, mal adaptado dramaturgicamente por Alexandra Velásquez. A produção apresenta um belo quadro composto pelos figurinos de Ticiana Passos, pela direção musical de Virgínia Van Der Llind, pela luz de Paulo Denizot e pelo cenário do diretor. Tem também bons trabalhos de interpretação de Carolina Laura, de Dany Stenzel (Pulgo) e de João Vitor Novaes (Elefante), mas todos esses elementos carecem de mais sólida sustentação dramática. A narrativa consiste na viagem de um elefante que parte para o outro lado da África sem saber que, junto dele, está uma pulga que lhe acompanha. Lá ele encontra uma companheira e aí a pulga, ou melhor, “o Pulgo” também sente que é hora de procurar alguém. Ou seja, uma estrutura narrativa paupérrima incapaz de trazer maiores glórias ao todo da obra. 

“Querida Celie...” é uma belíssima versão não-autorizada do livro “A cor púrpura”, da romancista norte-americana Alice Walker, que foi lançado em 1982, adaptado para o cinema, em 1985, com direção de Steven Spielberg; e para o teatro musical, em 2005, com músicas e letras de Stephen Bray, Brenda Russell e Allee Willis. A história gira em torno de Celie (Matheus Gonçalvez), violentada pelo pai desde criança, e entregue nas mãos de Albert, um viúvo cheio de filhos, que precisava de uma esposa para cuidar de sua casa e de sua prole. Ambientada na primeira metade do século XX no sul dos Estados Unidos, a narrativa evoca, entre negros, a repressão interracial na qual as mulheres são as maiores vítimas. Dirigido por Jonatas Noguel, que também assina as ótimas adaptação e o figurino, o espetáculo faz uso de excelentes recursos na construção dos quadros e na articulação deles, oferecendo ótimo ritmo, imagens cheias de potência e conteúdo complexo bem trabalhado. Felipe Santos e Allan Araujo completam o elenco, esse último em enorme destaque sobretudo em suas aparições como a personagem Shug Avery. Ainda em busca da difícil autorização para legitimar sua montagem, o grupo luta por oferecer ao seu público, em grade comercial, esse belíssimo espetáculo que merece vida longa e profícua nos palcos brasileiros. 

2º dia – 2 de setembro 
“Uma mala para dois palhaços”, da IneptaCia. (Belford Roxo/RJ), parte de um conflito simples, mas que gera situações bastante criativas. Na gravação de um filme, há dois palhaços, mas, por um erro qualquer, apenas uma mala está disponível para ambos. Na luta pelo foco, os dois disputam o objeto de diversos modos possíveis, o que gera o riso, além de movimentar a narrativa e agilizar o ritmo. Cassio Duque (Palhaço Tortobias) e Junior Melo (Palhaço Escafura) apresentam amplo repertório expressivo no espetáculo que tão brilhantemente escrevem, dirigem e defendem em cena. Eis um espetáculo clownesco simples e bastante meritoso em todos os seus aspectos. 

“Um dedo de prosa”, do Coletivo Allegro (Guarujá/SP), é um delicioso monólogo que tem, em sua dramaturgia, seu aspecto mais importante. De um modo estável, o texto consiste na chegada da personagem Jacira, uma mulher simples do interior de São Paulo, à cidade onde o espetáculo está de fato acontecendo. De maneira instável, e brilhante!, o texto se completa com experiências reais que envolvem um processo de ficcionalização entre os costumes da localidade onde a apresentação ocorre e o ponto de vista estrangeiro da humilde Jacira, interpretada pela atriz e autora Fátima Martins. A relação entre a peça e o público se firma de imediato e um aura mágica se instaura, possibilitando o experimento de diversos sabores: o novo descoberto e o velho redescoberto. Com destaque também para o figurino assinado por Deraldo e Elisângela Sena, eis aqui uma outra bela participação paulista no festival de Duque de Caxias. 

“Omi – do leito ao mar”, da Cia. Ávida (São Gonçalo/RJ), é um dos espetáculo que justamente mais tem colhido elogios em todos os lugares onde se apresenta. Com texto e direção de Gabriel Mendes, tem no elenco as ótimas interpretações de Nívea Santana, Kadú Monteiro, Michael Alves, Erika Ferreira e Ivan de Oliveira. A narrativa apresenta em torno de cinco lendas da mitologia africana, todas elas unidas pelo tema da “água” (omi em iorubá). Devem-se destacar também os figurinos de Valéria Bandeira, o cenário de Ronald Lima, a luz de Raphael Grampola, a direção de movimento de Anderson Hanzen e, em especial, a direção musical de Kadú Monteiro e de Raquel Terra. Em resumo, trata-se de uma produção especialíssima que vale a pena ser vista e revista em todas as oportunidades. 

“Uma ciranda para mulheres rebeldes”, de As Dramáticas (Rio de Janeiro/RJ), tem o mérito de resgatar diversas histórias pouco conhecidas de mulheres que, de algum modo, participaram da Revolução Socialista, iniciada de forma mais efetiva, em 1917, com a tomada do poder na Rússia. Dirigido por Adriana Maia, e com ela no elenco ao lado de Ana Achcar, Anna Wiltgen e Dadá Maia, a articulação entre as histórias não fica exatamente clara ao público. A plateia demora para interagir com o acontecimento teatral, isso dependendo de seu grau de conhecimento da história da Rússia e do socialismo/comunismo no mundo sobretudo na primeira metade do século XX. A perspectiva tem alguma melhora quando o nome da vereadora carioca Marielle Franco (1979-2018) é citado. Nesse momento, “Uma ciranda” passa a ganhar maior significado, mas aí a peça termina. Eis um espetáculo que, assim como está, é para um público bastante específico, mas que tem seus méritos enquanto obra de arte. 

Espetáculo vencedor


A premiação 
A cerimônia de premiação aconteceu na noite de domingo, dia 2 de setembro. Os premiados levaram para casa um troféu e todos os indicados foram agraciados com uma medalha. Também os jurados ganharam um troféu, um bonito gesto de agradecimento e cordialidade. 

*

Melhor Figurino: 
Ticiana Passos – O Pulgo e o Elefante 
Tom Pires – Lixo no lugar errado, tô fora! 
Valério Lima – Omi, do leito ao mar – VENCEDOR 

Melhor Maquiagem: 
O Pulgo e o Elefante - VENCEDOR 
Lixo no lugar errado, tô fora 
Omi, do leito ao mar 

Melhor Iluminação:
Jonatas Noguel – Querida Cellie... - VENCEDOR 
Paulo Denizot – O Pulgo e o Elefante 
Raphael Grampola – Omi, do leito ao mar 

Melhor Cenário: 
Adriano Ferreira – Uma ciranda para mulheres rebeldes 
Espaço Núcleo – Querida Cellie... - VENCEDOR 
Tom Pires – O Pulgo e o Elefante 

Melhor Trilha Sonora / Sonoplastia: 
Beto Gaspari – Lixo no lugar errado, tô fora! 
Kadú Monteiro e Raquel Terra – Omi, do leito ao mar – VENCEDORES 
Virgínia Van Der Lind – O Pulgo e o Elefante 

Melhor Pesquisa e Desenvolvimento em linguagem cênica: 
Omi, do leito ao mar 
Querida Cellie... 
Uma mala para dois palhaços – VENCEDOR 

Melhor texto original: 
Cássio Duque e Junior Mello – Uma mala para dois palhaços 
Cesário Candhí – Lixo no lugar errado, tô fora! 
Gabriel Mendes – Omi, do leito ao mar – VENCEDOR 

Melhor Atriz Coadjuvante: 
Eve Penha – Lixo no lugar errado, tô fora! 
Mariana Queiroz – Nabila 
Nancy Calixto – Lixo no lugar errado, tô fora – VENCEDORA 

Melhor Ator Coadjuvante 
Allan Araujo – Querida Cellie... - VENCEDOR 
Pedro Lages – Lixo no lugar errado, tô fora! 
Thiago Carvalho – Lixo no lugar errado, tô fora! 

Melhor Atriz: 
Ana Achcar – Uma ciranda para mulheres rebeldes 
Aracy Brackenfeld – Nabila – VENCEDORA 
Érika Ferreira – Omi, do leito ao mar 

Melhor Ator: 
Cássio Duque – Uma mala para dois palhaços 
Ivan de Oliveira – Omi do leito ao mar 
Junior Mello – Uma mala para dois palhaços 
Kadú Monteiro – Omi, do leito ao mar 
Matheus Gonçalvez – Querida Cellie... – VENCEDOR 
Michael Alves – Omi, do leito ao mar 

Melhor Produção: 
As Dramáticas, Uma ciranda para mulheres rebeldes – VENCEDORAS 
Espaço Núcleo, Querida Cellie... 
Inepta Cia., Uma mala para dois palhaços 

Prêmio Especial do Júri 
Um dedo de prosa – Pelo modo como entorno cultural do lugar onde a apresentação vai ocorrer se envolve no texto dramatúrgico do espetáculo. 

Melhor Direção: 
Jonatas Noguel – Querida Cellie... - VENCEDOR 
Cassio Duque e Junior Mello – Uma mala para dois palhaços 
Gabriel Mendes – Omi, do leito ao mar 

Melhor Espetáculo pelo Júri Popular: 
3º lugar – Omi, do leito ao mar 
2º lugar – Uma mala para dois palhaços 
1º lugar – Lixo no lugar errado, tô fora! 

Melhor Espetáculo: 
3º lugar - Uma mala para dois palhaços 
2º lugar - Omi, do leito ao mar 
1º lugar – Querida Cellie...